Quem vai de carro da Barra da Tijuca, na zona oeste do Rio de Janeiro, até o aeroporto internacional do Galeão, na Ilha do Governador, precisa ter paciência.
São basicamente duas opções de rotas, ambas com mais de 30 km: seguir pela Linha Amarela, atravessando a cidade por trechos montanhosos, ou percorrer a Linha Vermelha, que faz um contorno pela orla e o centro histórico da capital fluminense. Em horários de pico, percorrer esses caminhos pode demorar quase duas horas.
Há também uma terceira opção que liga a Barra ao Galeão em apenas 15 minutos. Porém, esse caminho, livre de semáforos e engarrafamentos, é exclusivo para “carros voadores”. Ou melhor, será em alguns anos, pois esses veículos ainda não existem.
Por ora, a rota está sendo avaliada por um helicóptero, que simula a performance da futura aeronave elétrica de pouso e decolagem vertical (eVTOL, no acrônimo em inglês) da Eve, a divisão do grupo Embraer focada em projetos de mobilidade aérea urbana.
A simulação promovida pela Eve no Rio de Janeiro é um CONOPS, sigla em inglês para Conceito de Operação.
“É uma metodologia de estudo onde há um grande debate com todos os atores atuais da mobilidade aérea e empresas que podem participar desse mercado no futuro”, explica Luiz Renato Mauad, vice-presidente de serviços e operações de frota da Eve, em entrevista ao CNN Business Brasil.
“Estamos debatendo e desenhando o que será necessário e quais os procedimentos que precisam ser criados ou alterados para que essa indústria realmente vire realidade”, diz.
Os atores da mobilidade aérea mencionados por Mauad compõem toda a cadeia que formará o serviço de transporte por eVTOLs no futuro.
O processo começa com a Flapper, empresa de voos compartilhados que comercializa os assentos na aeronave por meio de um aplicativo. Em seguida, vem a Helisul, operadora de helicópteros que executa os voos. Essas duas empresas, inclusive, serão alguns dos primeiros clientes da Eve – cada uma encomendou 100 eVTOLs da Eve.
Em solo, o trabalho fica a cargo da RIOGaleão, concessionária que administra o aeroporto do Galeão, e o Centro Empresarial Mario Henrique Simonsen, na Barra da Tijuca, que são os pontos de embarque e desembarque de passageiros na simulação da Eve.
A iniciativa ainda é acompanhada por agentes da Anac (Agência Nacional de Aviação Civil) e do DECEA (Departamento de Controle do Espaço Aéreo), órgãos que mais adiante serão responsáveis pela fiscalização e o controle de tráfego aéreo dos eVTOLs.
“A mobilidade aérea urbana vai exigir a criação de infraestruturas físicas e alterações de procedimentos aéreos. Por isso é importante a participação de todos esses atores na simulação e seus feedbacks”, diz Mauad.
“Também estamos colhendo as impressões dos passageiros que embarcam nos voos e até dos pilotos do helicóptero. Este estudo de conceito no Rio de Janeiro vai gerar um documento, assinado por todas as partes envolvidas, explicando à comunidade o que precisa ser feito para termos uma operação segura e escalável com os eVTOLs no futuro”, conta Mauad. “O documento com as considerações finais do CONOPS será publicado em janeiro de 2022.”
Voando sobre o trânsito
Segundo Mauad, a simulação realizada com o helicóptero é conduzida da mesma forma que se pretende operar os eVTOLs. “A aeronave percorre um corredor aéreo exclusivo entre a Barra e o Galeão, voando a cerca de 120 km/h a uma altitude de 800 pés (243,8 metros). O valor das passagens praticado na simulação, em média de R$ 200, também é o que esperamos para o futuro. A ideia é que o transporte de eVTOL custe entre uma vez e meia a duas vezes o preço de uma viagem de carro com a Uber ou táxi.”
Em contato com a reportagem, Alexandre Roxo, gestor do Centro Empresarial Mario Henrique Simonsen, disse que a experiência com a Eve é um importante ensinamento para a implementação dos eVTOLs nos próximos anos.
“Condomínios empresariais e outros empreendimentos imobiliários precisam se preparar para a chegada dos eVTOLs. A simulação com a Eve traz a oportunidade de aprendermos o que devemos implementar e adaptar em nosso espaço para receber esses veículos. Os eVTOLs vão chegar em poucos anos, isso é fato. Porém, antes disso acontecer já temos que construir a infraestrutura necessária para recebê-los, como as salas de embarque de passageiros”, contou Roxo.
Philipe Karat, gerente de desenvolvimento de tráfego da RIOGaleão, é outro profissional empenhado no CONOPS da Eve. “É um negócio com grande potencial e disruptivo na aviação. O nosso papel nesse projeto é avaliar os impactos que as operações com eVTOLs trarão para o aeroporto do Galeão. No futuro, acredito que teremos decolagens de eVTOLs a cada 20 minutos para diversas partes do Rio de Janeiro. A mobilidade aérea urbana vai revolucionar o transporte.”
Ficou interessado no atalho da Barra até o Galeão? Então é melhor se apressar e reservar logo o seu assento. A simulação da Eve, iniciada no dia 8 de novembro, é temporária e os voos experimentais de helicóptero terminam no dia 6 de dezembro. Depois disso, a rota especial deve ser reativada somente em meados de 2026, ano em que a Eve planeja entregar os primeiros eVTOLs.