Ainda que nós, brasileiros, possamos nos considerar criativos, o Brasil é pouco inovador. É o que aponta nossa classificação em 62º lugar no Índice Global de Inovação de 2020. E o fato de não inovar traz consequências sérias. Pode inclusive empobrecer um país, conforme apontado por Schumpeter, economista para o qual inovação seria o motor do desenvolvimento econômico. No entanto, qual seria a relação desta baixa posição com produção científica e diversidade?
Para calcular tal índice, fatores como infraestrutura, sofisticação do parque industrial e empresarial do país são considerados. O capital humano e de pesquisa também. Neste quesito, o percentual de graduados em ciência e engenharia tem forte peso. Nele, nossa classificação é ainda mais baixa: 81ª posição.
Muitas das inovações patenteadas vêm de órgãos públicos e empresas. Seus proponentes são quase sempre cientistas e engenheiros(as). Falando mais especificamente da engenharia, o Brasil soma hoje mais de 6 mil cursos. Já o número de concluintes, no entanto, sempre foi baixo. Atualmente, de 175 ingressantes, apenas 95 concluem a graduação. Em 2019, de acordo com o MEC, tivemos somente 7,6 concluintes para cada 10 mil habitantes. As nações mais inovadoras formam cerca de 20.
Estima-se que a evasão neste segmento seja de 50%. As razões para isso são muitas. Variam desde o despreparo trazido do ensino médio, valores de mensalidade e desestímulo com o piso salarial da classe. Para agravar, poucos concluintes atuarão na própria área: 6 a cada 10 engenheiros não atuam diretamente no setor.
Alguns recentes estudos têm levantado, no entanto, outros pontos que poderiam auxiliar neste processo: a falta de diversidade e inclusão nestas graduações pode aumentar o abandono da carreira. Além disso, um maior convívio com a diversidade pode gerar significativo aumento de inovação. Pesquisas sobre o perfil dos alunos dos cursos STEM (sigla em inglês para ciência, tecnologia, engenharia e matemática) apontam possíveis focos de desenvolvimento neste sentido. Por exemplo, há estudos apontando que mulheres precisam abandonar mais cursos de engenharia e tecnologia. Além disso, nota-se uma ausência de pessoas com deficiência – em 2018, PcD eram somente 0,52% de matriculados no ensino superior nacional. Adicionalmente, LGBTQIA+ são expostos a maior pressão, estresse e desestímulo em carreiras STEM, dada a falta de segurança e reconhecimento para com suas identidades. Por fim, existe a necessidade de combate à desigualdade racial – mesmo com aumento de pessoas negras no ensino superior, há no Brasil cursos de engenharia com até 92% de graduandos brancos!.
A aposta em ambientes educacionais inclusivos e diversos parece ampliar o potencial de inovação brasileira. Todavia, é preciso, para isso, rever certas visões estreitas de meritocracia, de currículo e até de igualdade. Reconhecer o problema e tomar, para valer, medidas de inclusão e equidade pode fortalecer o ingresso e a permanência de estudantes. Ações neste sentido nos farão chegar mais próximos de uma sociedade verdadeiramente inovadora e, quiçá, junto disso, capaz de promover o respeito às diferenças.
*Cientista social e doutorando em Educação pela USP. Professor de Grandes Desafios da Engenharia e líder do Programa de Formação e Pesquisa da Comissão de Diversidade, Equidade e Inclusão do Insper.