Um grupo de cientistas brasileiros desenvolveu um projeto para valorizar produtos extraídos da floresta sem agressões ao meio ambiente.
O contato com a tecnologia é o início da receita para uma revolução. Representantes de comunidades amazônicas passaram a semana em treinamento em São José dos Campos, interior de São Paulo. São eles que vão operar os equipamentos no meio da floresta. Serão apenas toques nas telas para acionar as máquinas, todas computadorizadas e ligadas a satélites. Tudo para manter o padrão e a qualidade do que será produzido em diferentes biofábricas.
O projeto de cientistas, bancado por doações, quer transformar frutos e castanhas em produtos de alto valor. O cacau, por exemplo, vendido hoje de R$ 10 a R$ 14 o quilo, vai virar chocolate, que pode passar de R$ 200 o quilo, ainda mais se for para exportação.
“Só o cacau, sem ser processado para o chocolate, comparado com a pecuária, é sete vezes mais lucrativo por hectare por ano. O cacau como commoditie. Agora, quando você ainda agrega valor, 1.000%, 2.000%, é realmente um novo paradigma, uma nova forma de enxergar o valor da floresta”, explica Ismael Nobre, líder do Projeto Amazônia 4.0.
Os equipamentos ainda estão em testes e serão instalados em uma estrutura fácil de montar – são apenas 26 parafusos -, de transportar – cabe tudo em uma caminhonete – e ficam com 100 m². A energia será solar e, quando for montada no meio da floresta, vai dar um ar futurista, mas também remeter aos povos mais antigos que vivem nela.
“Nós precisamos unir a tecnologia com conhecimento tradicional, com a vivência dos povos indígenas. E eu acredito que, através dessa transformação, nós manteremos a floresta viva e em pé”, afirma Telma Marques da Silva, da União das Mulheres Indígenas da Amazônia.
A tecnologia, que pode ser estendida a outros produtos típicos da Amazônia, é o principal atrativo para os mais jovens.
“O nosso trabalho com cacau, com chocolate, com cupuaçu pode ser muito mais rentável que produções extensivas de monocultura. E isso beneficia nós, povos tradicionais, que estamos na floresta; beneficia quem está no sul do Brasil e beneficia quem está do outro lado do mundo”, diz Luiz Henrique Lopes, da comunidade de Carão, na Resex Tapajós-Arapiuns.
“Nós já temos estudos avançados com castanha, castanha-do-pará, que viram alimentos para o mercado vegano, leite em pó, pasta para passar no pão, cosméticos de altíssima qualidade. E assim vai. Açaí é outro que está na lista, que já está começando também, e também estamos trabalhando quatro palmeiras da Amazônia para produção de azeites gourmet, azeites finos para alta culinária”, explica Ismael Nobre.
Há três gerações, a família do seu João vive do cacau em um quilombo, em Moju, no Pará. Criou três filhos vendendo o fruto barato. E, agora, o laboratório criativo da Amazônia deve ajudar a criar mais gente. “É uma inovação. Vai ser um esplendor para gente, com certeza”, diz João.