Está previsto para o início de novembro o fim do trabalho de alargamento da faixa de areia da Praia Central, em Balneário Camboriú, no Litoral Norte. A parte dos trabalhos que mais chama atenção na obra, a da draga levando areia até a orla, começou em agosto. Porém, muitas outras etapas ocorreram antes, até chegar a esta parte final.
Na segunda (25), o alargamento entrou no quilômetro final. A previsão da prefeitura é que esse último trecho termine na próxima semana. Porém, a parte Norte da praia deve permanecer interditada ainda por 20 a 30 dias, para que seja feito o desmonte da tubulação usada para levar a areia da draga até a orla.
A obra tem por objetivo passar a faixa de areia de 25 metros, em média, para 70 metros. Segundo a prefeitura, o trabalho vai permitir, além da proteção da orla contra o avanço das marés, a criação de espaços privilegiados para os moradores e os visitantes. Espaços ao ar livre para esporte, lazer, uma nova ciclovia, paisagismo diferenciado, serão instalados futuramente.
Confira abaixo 10 pontos para entender, do início ao fim, a obra de alargamento.
- Projeto
- Licenciamento ambiental
- Edital e contratação
- Chegada da tubulação
- Chegada da draga
- Aparição de conchas
- Primeiro trecho pronto
- Máquina atolada
- Autuação
- Monitoramento de tubarões
1. Projeto
Um grupo de empresários criou uma associação sem fins lucrativos para pensar projetos na cidade. Eles contrataram uma empresa para fazer um projeto de alargamento da faixa de areia da Praia Central, conforme a prefeitura. Em fevereiro de 2018, o grupo doou esse documento ao município.
2. Licenciamento ambiental
Em abril de 2018, o Instituto do Meio Ambiente de Santa Catarina (IMA) aprovou a Licença Ambiental Prévia do projeto. Em outubro do mesmo ano, o município lançou processos licitatórios com o objetivo de cumprir as 42 condicionantes impostas pelo IMA para autorizar a obra. Foram feitas seis licitações com este fim, segundo a prefeitura.
A Licença Ambiental de Instalação (LAI) foi dada pelo IMA em dezembro de 2020. Esse documento autorizou o início das obras.
3. Edital e contratação
O edital para a contratação de um consórcio para fazer a obra foi lançado em 2019. No ano seguinte, a licitação foi homologada. O vencedor do processo licitatório foi o consórcio DTA/Jan de Null, formado pelas empresas DTA Engenharia e Jan de Null do Brasil Dragagem. O custo da obra é de R$ 66,8 milhões.
4. Chegada da tubulação
Os tubos para a montagem da tubulação que leva a areia da draga até a orla da praia começaram a chegar em março deste ano. As estruturas foram espalhadas pela areia. Conforme a prefeitura, foi interditado um trecho de 1,5 quilômetro na praia para servir como canteiro de obras na parte Sul. No Norte, foi bloqueada uma área de 900 metros.
Nesses trechos que serviram como canteiro de obras, os tubos eram soldados uns ao outros. Quando essa etapa terminou, a tubulação montada no Norte foi juntada com a feita na parte Sul para formar uma estrutura de 2,2 quilômetros.
Uma das pontas da tubulação feita fica em terra e a outra, no mar. A etapa de montagem da estrutura de 2,2 quilômetros ficou pronta em agosto, 15 dias antes da chegada da draga. A tubulação é formada por 360 tubos de 6 toneladas cada soldados uns aos outros.
5. Chegada da draga
A draga chegou em 22 de agosto. Ela é a embarcação responsável por tirar areia de uma jazida no fundo do mar, a 15 quilômetros da orla, e levá-la até a Praia Central. Com ela, começou a etapa mais visível da obra.
Uma das pontas da tubulação foi acoplada à draga. Através da estrutura, a areia que foi buscada pela embarcação na jazida é levada até a orla.
6. Aparição de conchas
Logo após o início dos trabalhos com a draga, centenas de conchas apareceram na orla da Praia Central. Uma moradora, que também é fotógrafa, registrou o caso em 25 de agosto. As conchas foram encontradas na parte em que a obra era feita naquela época, no trecho da Barra Sul (veja no vídeo abaixo).
Para o professor de ecologia e oceanografia da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC) Paulo Horta, o fenômeno teve relação com o trabalho de alargamento. Segundo ele, tudo indica que as conchas vieram junto com a areia extraída do mar.
“Eles [moluscos] poderiam já estar mortos. Nesse caso, o que foi dragado foi um banco rico em biodetrito. Caso ainda tenhamos sinais de moluscos [vivos], pode ter sido dragado um banco com uma agregação”, explicou Horta.
A Secretaria Municipal do Meio Ambiente de Balneário Camboriú informou na época, por meio de nota, que está monitorando a situação e que grande parte do material recolhido “está vazio, sem animais”.
A nota disse ainda que programas ambientais estão sendo realizados para que a “dragagem não interfira na vida marinha”. Um biólogo acompanha os trabalhos da obra 24 horas por dia, de acordo com a prefeitura.
O IMA informou na segunda-feira (25) por nota que há um monitoramento da qualidade de sedimento que chega à praia. Quando o consórcio responsável pela obra percebeu que a areia estava vindo com muitas conchas, escolheu outro ponto da jazida , mais compatível com a areia da praia. Dessa forma, o aparecimento das conchas na orla não ocorreu mais.
7. Primeiro trecho pronto
Em 17 de setembro, ficou pronto o primeiro trecho da praia, a área de dois quilômetros, entre a Rua 3700 até o molhe da Barra Sul. Em seguida, a obra seguiu em direção ao Norte.
Depois que o primeiro trecho ficou pronto, a draga foi para o Paraná em 20 de setembro para abastecer pela primeira vez. Enquanto a embarcação estava no estado vizinho, os trabalhadores fizeram o desmonte e retirada da tubulação utilizada no trecho sul, para que depois a estrutura pudesse ser usada na parte norte.
A draga voltou três dias depois. Esse primeiro trecho pronto foi liberado para os banhistas em 28 de setembro.
8. Máquina atolada
Uma das máquinas utilizadas na obra ficou atolada em 16 de setembro. A prefeitura confirmou a ocorrência e informou que ninguém se feriu. A máquina foi recuperada e os trabalhos seguiram normalmente.
O maquinário envolvido foi um trator de esteira, que não conseguiu sair de um declive da areia ainda mole, trazida do fundo do mar pela draga.
Vendo a situação, os trabalhadores do local se mobilizaram e uma retroescavadeira tentou puxar a máquina, mas não conseguiu. Depois, o motorista do trator atolado saiu da cabine. A pá da retroescavadeira foi utilizada para retirar o funcionário do local.
Os homens conseguiram desviar a tubulação que traz a areia e a água do mar, possibilitando o escoamento e a saída da esteira, que acaba sendo puxada por outra máquina através de um cabo.
Segundo a prefeitura, o solo forma “bolhas” devido ao material dragado e a situação pode acontecer durante a operação de aterro hidráulico.
“As equipes estão preparadas para rapidamente recuperar em procedimento de segurança, conforme aconteceu. Máquina e operador já em operação segura em seguida. Tudo sob controle”, informou a assessoria do órgão.
Ainda de acordo com a prefeitura, a situação não gera risco à obra ou máquina, pois os funcionários sabem que isso pode acontecer.
Além de máquinas, também pode haver acidentes com pessoas. Nesta terça (26), uma mulher ficou atolada em uma parte da obra de alargamento. Segundo a prefeitura, a área era restrita e estava sinalizada, pois o trabalho de finalização não havia sido concluído. A mulher, que não se feriu, ficou presa por uma das pernas e precisou ser resgatada por um guarda-vidas.
9. Autuação
Durante os trabalhos, o município foi autuado pelo IMA por descumprir imposições do licenciamento ambiental e por executar a obra de forma diferente do projeto que apresentou ao órgão. A infração foi emitida em 28 de setembro, depois de uma vistoria técnica à obra, no dia 23 de setembro.
No relatório, os técnicos afirmam que o município não avisou com antecedência ao órgão ambiental sobre a mudança de projeto no trecho final da Barra Sul. Na região, a faixa de areia ficou 180 metros, o dobro da largura prevista.
Rubens Spernau, fiscal do contrato do alargamento pela Prefeitura de Balneário Camboriú, disse que o licenciamento foi feito por volume de areia, e não pelo “desenho” da orla. “
O que a prefeitura tem licenciado são 2,7 milhões de metros cúbicos, e a nossa projeção é que serão aplicados 2,2 milhões, mesmo com a alteração geométrica havida [na Barra Sul]”, afirmou.
Ainda, de acordo com ele, foi levada em conta a “sobra” de areia no Pontal Norte. “Quando fizemos a Topo Batimetria verificamos que na Região Norte havia mais areia de quando foi feito o projeto, fruto da construção do molhe, por depósito natural. Diante disso, resolvemos aplicar este volume num acréscimo na Barra Sul, onde tradicionalmente sempre houve mais erosão marinha. A nova forma foi modelada no DHI, na Dinamarca”, disse.
Haverá uma audiência de conciliação entre o IMA e o município em 27 de janeiro.
10. Monitoramento de tubarões
A Prefeitura de Balneário de Camboriú monitora o aparecimento de tubarões e outros animais na orla da Praia Central. Segundo a secretária Municipal de Meio Ambiente, Maria Heloísa Lenzi, uma mudança no conjunto de seres vivos, flora e fauna que habitam naquela região já era esperada.
“Já era esperado alteração na biota [conjunto de seres vivos de uma região]. Por isso estamos monitorando. Mas até agora não temos nenhum dado que relacione um impacto negativo de grande magnitude”, explicou a secretária.
O número de tubarões vistos na orla de Balneário Camboriú desde que as obras de alargamento da faixa de areia começaram, em agosto, foi de 23 até domingo (24). O dado é do Museu Oceanográfico da Universidade do Vale do Itajaí (Univali).
Para o biólogo André Rodrigues Neto, o aparecimento dos animais no local possui relação com as mudanças feitas na orla.
“Com a dragagem de areia do fundo oceânico há o afloramento e exposição de espécies que vivem no fundo mar, ativando ainda mais o processo da cadeia alimentar. Seres marinhos como crustáceos, moluscos e pequenos peixes se tornam presas fáceis para peixes maiores e, estes peixes maiores atraem outros ainda maiores que é o caso dos tubarões”, diz Neto.