No âmbito do Projeto Novo Pinheiros de iniciativa do Governo do Estado de São Paulo, objetivando a requalificação do canal Pinheiros até 2022 com obras lineares de infraestrutura sanitária, foi prevista também a implantação de 5 URs – Unidade Recuperadoras da Qualidade das Águas em áreas informais em cinco de seus afluentes mediante captação em pontos estratégicos daqueles córregos para tratamento de suas águas e posterior devolução pouco mais a jusante dos pontos de tomada d’água, de modo a propiciar aos corpos hídricos destas sub bacias um nível pelo menos de Classe IV contribuindo para a melhoria das águas do canal.
A ideia da Sabesp com as URs teve, pois, por finalidade propiciar uma melhoria da qualidade das águas daqueles córregos que estão bastante poluídas pelas contribuições de esgotos oriundas de áreas irregulares das respectivas bacias onde não foi possível implantar redes de esgotos e coletores tronco ocasionando, em consequência, um carreamento considerável de carga poluidora ao Pinheiros.
Em 2020 a Sabesp licitou as obras sob o regime de contratação integrada para a implantação destas 5 URs com vazões variando de 180 L/s à 600 L/s em um total de 1.6 m3/s, deixando também para as empresas contratadas a incumbência de definir as soluções de engenharia que inclui, dentre outras atividades, o estudo e detalhamento do processo de tratamento.
Para tanto, a Sabesp definiu as áreas e suas extensões onde seriam implantadas as URs, a vazão e a carga orgânica afluente a ser tratada e um anteprojeto de um tratamento biológico consubstanciado em um “lay out” contendo apenas as áreas circundadas dispostas lado a lado das unidades componentes das estações de tratamento abrangendo edifícios operacionais e administrativos. Ressalte-se que a DBO afluente de cada UR foi fixada teoricamente com base na população estimada que não tem seus esgotos coletados nas respectivas bacias.
Como o anteprojeto ofertado pela Sabesp teve caráter apenas orientativo, as empresas contratadas se puseram a desenvolver os projetos definitivos com base nas suas “expertises” desvinculando-se da Sabesp, porém sujeitos à aprovação da Cetesb para emissão das respectivas Licenças de Instalação.
Assim sendo, embora não estando disponíveis maiores informações acerca das concepções adotadas pelos dois Consórcios contratados, sabe-se que houve alterações substanciais relativas aos anteprojetos da Sabesp sendo que para a UR do Jaguaré, por exemplo, foi previsto tratamento físico-químico e ozonização. Nas demais URs permaneceu o tratamento biológico, como sugerido nos Termos de Referência, com os reatores sendo dotados de mídias MBBR.
Mas a preocupação que fica é sobre a ausência de tratamento que teria de ser dado ao lodo químico e principalmente aos lodos biológicos excedentes estimados em 60 ton/dia a 20% de SS, uma vez que os projetos previram apenas a desidratação em centrífugas do lodo tal e qual, isto é, sem estabilização, conforme confirmado pela Sabesp em “live” da ABES em setembro último.
Este receio é ainda mais preocupante quando se sabe que o manuseio e transporte destes resíduos, incluindo também material gradeado, areia e óleo separados no tratamento preliminar, se darão em áreas intensamente habitadas podendo provocar incomodidade na forma de desprendimento de odores com o risco de se criar um impasse de ordem sanitária.
Como já sugerido em outro artigo, uma alternativa seria lançar o lodo excedente e o lodo químico à rede de coleta mais próxima das URs, de modo que, interligadas aos coletores-tronco e aos interceptores do Pinheiros, alcancem a ETE Barueri onde seriam tratados. Procedimento similar já foi feito pela Sabesb com o lodo da ETA ABV.
As vazões de lodo destas URs lançadas na concentração em que os lodos são gerados (1%) seriam irrisórias frente ao porte das vazões nominais das URs e a estrutura da rede coletora Como ilustração, a UR Pirajussara, a maior delas com 600 L/s e 6094 Kg DBO/dia, lançaria apenas 5 L/s a 1% de SS no coletor. Caso contrário, geraria 24 ton/dia de lodo a 20% de SS, não digerido.
Desta forma, a Sabesp poderia considerar esta alternativa, pelo menos como redundância a fim de evitar problemas futuros com a disposição de lodo.
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*José Eduardo W. de A. Cavalcanti
É engenheiro consultor, diretor do Departamento de Engenharia da Ambiental do Brasil, diretor da Divisão de Saneamento do Deinfra – Departamento de Infraestrutura da Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp), conselheiro do Instituto de Engenharia, e membro da Comissão Editorial da Revista Engenharia
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