Por José Eduardo W. de A. Cavalcanti – Nova crise hídrica está aí – Não adianta negar! É preciso encarar

*José Eduardo W. de A. Cavalcanti

Em 7 de março de 2016, o então Governador de São Paulo, Geraldo Alckmin “decretou” o fim da crise hídrica sustentando que a questão da água estaria resolvida, porquanto o Cantareira, nosso principal manancial de água, e o Alto Tietê estavam, respectivamente com 58 e 40% apostando que tais volumes eram suficientes “para quatro ou cinco anos de seca” e que o “Estado e a Região Metropolitana estariam bem preparados para as mudanças climáticas”.

Esta decisão política do Governador foi também encorajada pela recuperação dos mananciais graças as chuvas acima das médias ocorridas nos verões de 2015 e 2016; a atuação da Sabesp, principalmente no cumprimento de seu programa de obras, dentre as quais, a conclusão do Sistema São Lourenço, a interligação entre as represas Jaguarí (situado na bacia do Paraíba) e Atibainha (Sistema Cantareira); a interligação dos mananciais da RMSP, bem como a economia propiciada pela população no consumo de água.

Entretanto, tal atitude foi à época considerada por muitos especialistas como precipitada em razão das incertezas quanto ao regime hidrológico que se seguiria, particularmente quanto à ocorrência de chuvas, dependentes de vários fatores climáticos e meteorológicos como a influência dos fenômenos El Niño e La Niña, decisivos no surgimento de estiagens e na intensidade das chuvas.

Decorridos 5 anos, eis que estamos no limiar da terceira, e provavelmente mais drástica, crise hídrica deste início de século, só que desta vez mais ampla atingindo toda a região sul sudeste afetando não só o abastecimento de água como também o setor elétrico e a navegação fluvial.

A RMSP está novamente inserida neste contexto, uma vez que seus principais mananciais estão sentindo os efeitos da estiagem que se iniciou já a algum tempo provocada pelo fenômeno “La Niña”

Assim é que o sistema Cantareira que hoje está com apenas 35 % de sua capacidade, já está recebendo desde julho o reforço das águas da bacia do Paraíba a ponto de já ter alcançado no início de setembro o valor limite de 160 milhões de metros cúbicos autorizado pelo DAEE, fruto de um acordo firmado entre os Estados de São Paulo, Rio de Janeiro e Minas Gerais.

Mesmo com este reforço, o Cantareira opera muito abaixo de sua capacidade forçando a SABESP a requerer junto ao DAEE aporte adicional até o final do ano de 60 milhões de metros cúbicos. Tal pedido está na dependência de análise do DAEE, em conjunto com a ANA (Agência Nacional de Águas e Saneamento Básico) e os estados envolvidos.

Outros sistemas produtores da RMSP estão também sofrendo os efeitos da estiagem, conforme mostra a tabela comparativa que agrega também a situação verificada em 2013 no início da segunda crise hídrica.

Observa-se que o volume de água armazenado atualmente nos mananciais da RMSP, mesmo com o reforço do sistema São Lourenço e da reversão de água do Paraíba corresponde a 19% do volume que havia sido armazenado em 2013, ano que antecedeu a segunda crise hídrica.

Segundo dados da International Research Institute for Climate and Society da Universidade de Colúmbia – USA, os prognósticos dos próximos meses na região sul-sudeste sinalizam redução do volume das chuvas em relação às médias climatológicas com a entrada do La Niña. em outubro provocando uma estiagem até janeiro do próximo ano prolongando até fevereiro quando efetivamente se inicia o período de estiagem tradicional.

Isto significa que ao final de toda esta estiagem o volume de chuvas terá de ser substancialmente superior às médias para a recuperação dos reservatórios incluindo os mananciais da região metropolitana de São Paulo.

As providências para o enfrentamento da crise já deveriam ter sido tomadas realisticamente, de nada adiantando o negacionismo por parte das autoridades tanto no âmbito federal como estadual.

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*José Eduardo W. de A. Cavalcanti

É engenheiro consultor, diretor do Departamento de Engenharia da Ambiental do Brasil, diretor da Divisão de Saneamento do Deinfra – Departamento de Infraestrutura da Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp), conselheiro do Instituto de Engenharia, e membro da Comissão Editorial da Revista Engenharia

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*Os artigos publicados com assinatura, não traduzem necessariamente a opinião do Instituto de Engenharia. Sua publicação obedece ao propósito de estimular o debate dos problemas brasileiros e de refletir as diversas tendências do pensamento contemporâneo.