A intensa degradação ambiental catalisada por atividades humanas faz com que seja cada vez mais urgente transformar descobertas científicas em inovações sustentáveis. E foi com esse objetivo que a Universidade Tecnológica de Nanyang, em Singapura, a Universidade de Alagappa, na Índia, e a Universidade da Noruega Ocidental de Ciências Aplicadas se uniram.
Em artigo que será publicado na edição de novembro do periódico Chemosphere, o time internacional de pesquisadores liderados pela Universidade Tecnológica de Nanyang descreve como a casca de tamarindo processada pode se transformar em um componente-chave para o fornecimento de combustível a veículos.
Além de diminuir o impacto humano no meio ambiente, a proposta soluciona um problema de desperdício causado pelo tamarindo: bastante consumida ao redor do mundo, a fruta tropical tem uma casca que é considerada lixo agrícola e acaba sendo descartada em aterros sanitários.
Por outro lado, essa casca é porosa e rica em carbono. Juntas, as duas características fazem com que ela seja um bom material para nanofolhas de carbono, que são essenciais para supercapacitores (dispositivos de armazenamento de energia utilizados em automóveis, ônibus, veículos elétricos, trens e elevadores).
“As nanofolhas são feitas de camadas de átomos de carbono organizadas em hexágonos ligados entre si, é como uma fava de mel”, explica, em nota, o pesquisador Dhayalan Velauthapillai, da Universidade da Noruega Ocidental de Ciências Aplicadas. “O segredo por trás da capacidade de armazenamento está na estrutura porosa, que resulta em uma grande área capaz de auxiliar o material a suportar altas cargas elétricas.”
De acordo com o estudo, as nanofolhas produzidas a partir de casca de tamarindo mostraram boa estabilidade térmica e condutibilidade elétrica, o que as torna promissoras para o armazenamento de energia e uma alternativa ecológica na comparação com os produtos industriais empregados hoje.
Para chegar a esse resultado, o primeiro passo consistiu em lavar as cascas de tamarindo e secá-las a 100 ºC por seis horas. Em seguida, foi preciso triturá-las e transformá-las em pó. Depois, o pó foi assado de 700 ºC a 900 ºC por 150 minutos sem oxigênio para que fosse possível convertê-lo em nanofolhas de carbono.
Atualmente, um dos materiais mais comuns para fabricação das nanofolhas são fibras industriais de cânhamo. No entanto, elas precisam ser aquecidas por 24 horas a 180 ºC — durante muito mais tempo e em uma temperatura muito superior àquela exigida pelo tamarindo.
Agora, os pesquisadores estão trabalhando para aprimorar as propriedades eletroquímicas das nanofolhas de carbono feitas com tamarindo e reduzir a quantidade de energia usada durante a sua manufatura. No futuro, eles pretendem explorar a produção de nanofolhas de carbonos em larga escala com parceiros do agronegócio e utilizar outros tipos de casca para obter resultados similares.
Esta matéria faz parte da iniciativa #UmSóPlaneta, união de 19 marcas da Editora Globo, Edições Globo Condé Nast e CBN. Saiba mais em umsoplaneta.globo.com.