Os brasileiros estão perplexos diante do nosso quadro político-social e econômico financeiro de caos administrativo, ameaças à democracia e à segurança profissional e empresarial. Os partidos políticos estão perdidos em suas discussões sobre candidatos, em vez de discutir programas de governo para 2022.
Falta-nos um Projeto Nacional de Desenvolvimento para o Brasil (PNDB), com preocupação ambiental e com uma democracia aperfeiçoada. O Clube de Engenharia tem história e tradição para se colocar como articulador da elaboração de um Plano de Desenvolvimento que congregue talentos de todas as profissões, incluindo lideranças políticas, empresariais e sindicais. Fundado em 1880, por Conrado Niemeyer, o Clube teve atuação marcante nas campanhas pela Abolição (André Rebouças, engenheiro negro, e Paulo de Frontin), na reforma urbana da capital (Pereira Passos), na solução do abastecimento de água no Rio de Janeiro (Paulo de Frontin), no debate do combate às secas no Nordeste, no apoio aos Aliados na Segunda Guerra, na campanha do Petróleo é Nosso. Nossas congêneres: a ABI (1908), o IAB (1921) e a OAB (1930), criados depois, também tiveram papéis relevantes para o progresso e a consolidação da democracia com destaque de relevo para Barbosa Lima Sobrinho, que era advogado e jornalista.
Para elaborar o PNDB, temos que engajar não apenas a ABI, OAB e IAB, mas também o Instituto de Engenharia de São Paulo, os Clubes de Engenharia existentes em outros estados, além de instituições como a Coppe/UFRJ, PUC, USP, Unicamp, ITA, etc. para engajar as melhores cabeças na elaboração de planos setoriais de logística de transportes de cargas e pessoas, telecomunicações com 5G, habitação, saneamento, energia etc.
O PNDB deve ter como prioridade a preservação da soberania nacional e o fortalecimento do regime democrático. Na linha da soberania, cuidar da educação e do desenvolvimento científico e tecnológico, bem como manter uma política externa independente, relacionando-nos com os demais países, sem preconceitos político-ideológicos, mas sem submissão a quaisquer interesses estrangeiros. Como estratégia econômica-social, incorporar à produção e ao mercado 70 milhões de brasileiros – negros e mulheres – que têm projetos de vida próprios, mas que não conseguem realizá-los, pois lhes são negadas condições de desenvolver seu talento e criatividade.
Outros 70 milhões são ainda mais marginalizados. Analfabetos absolutos ou funcionais, vivendo onde não há condições salubres ou sob riscos da natureza, onde faltam infraestruturas de promoção social, acesso a escolas etc. para se desenvolverem e as suas famílias. Uma política econômica que se preocupe com a responsabilidade fiscal, mas aja também com responsabilidade social, voltada para gerar renda por meio do trabalho produtivo convencional, mas também das novas formas criativas que surgirão para garantir a sobrevivência digna das pessoas (reflorestamento, manutenção de encostas, limpeza dos rios e canais, cuidar dos idosos e das crianças etc.).
O motor dessa política econômica será a reindustrialização do Brasil, com a transformação digital da sociedade como um todo, incorporando os frutos da economia do conhecimento e visando ao aumento geral da produtividade. Há outras questões que o pouco espaço não permite descrever, como a educação. Mas é preciso destacar a reforma moral, que, entre outras coisas, tem de atingir também os engenheiros, pois tinham esta profissão aqueles que subornaram autoridades e políticos para ganhar licitações a eles direcionados.
O planejamento é uma antevisão do futuro, incorporando nossos objetivos e ideias da soberania, justiça, democracia e desenvolvimento, que com certeza são comuns à imensa maioria da sociedade. O PNDB, aprovado pelo Congresso como um projeto de país, será uma peça que os sintetizará e unirá o Brasil em torno de sua conquista.
A elaboração do PNDB deve ser o carro-chefe da plataforma do futuro presidente do Clube de Engenharia, a ser em breve escolhido.
*Conselheiros do Clube de Engenharia
Fonte: O Globo