Nesta segunda-feira (8), comemora-se o Dia Internacional da Mulher. Para homenagear esta data, temos destacado a presença da mulher na tecnologia com matérias voltadas a líderes de startup ou grandes empresas fornecendo cursos para o público feminino. Dessa vez, trazemos a história de Luanna Quinalha, aluna do Ensino Médio do Colégio Marista Anjo da Guarda, em Curitiba (PR), que desenvolveu TechieGirls, um grupo feminino voltado a linguagens de programação e desenvolvimento web.
Em 2020, Luanna criou o clube para incentivar outras seis meninas a entrarem para o mundo da programação por meio de encontros virtuais semanais. Em 2021, o objetivo é ampliar o clube e aprofundar os conhecimentos para que o grupo possa desenvolver projetos pessoais como criação de sites, jogos, quizzes, entre outros.
Segundo a estudante, a motivação foi a queda na participação de mulheres na ciência computacional: “Eu quero estudar Física e comecei a programar com um programa de verão em computação quântica. Para aprender outras linguagens, cheguei ao Girls who Code e também às estatísticas que mostram que a quantidade de mulheres em ciência computacional havia caído nas últimas décadas e como meninas costumavam desistir da área”, afirma Luanna.
O grupo vem num momento em que, de acordo com dados da UNESCO, apenas 30% de todas as estudantes do sexo feminino selecionam campos relacionados às STEM (Ciência, Tecnologia, Engenharia e Matemática) no ensino superior. Em todo o mundo, a matrícula de estudantes do sexo feminino é de apenas 3% em tecnologias da informação e comunicação, 5% em ciências naturais, matemática e estatística e 8% em engenharia, manufatura e construção.
Para as meninas que desejam começar a estudar programação, Luanna recomenda: “A primeira dica seria não pensar que não consegue ou que não serve para isso. Eu pensava assim e acredito que em grande parte isso vinha da falta de inspirações femininas nas áreas”.
A estudante ainda completa: “Eu quero atuar em física, então sempre achei que não precisava, mas simulações, análise de dados, computações numéricas e até computadores quânticos são todos tópicos de física que exigem programação. Em medicina, existe todo um campo de biotecnologia e de análise genética. Para as artes, se trata de uma forma extra de criar arte e de compartilhar ela! Em qualquer área, se trata ou de uma ferramenta fundamental ou de uma que pode te diferenciar no mercado de trabalho ou no mundo acadêmico”.
A fundadora do clube também ressalta a importância de não ter medo de errar: “Não somos perfeitas e ninguém é. Mas somos todas corajosas e, ao vencer essa barreira, há muito a ser conquistado”, relembra.
Garotas que programam
Segundo Fernanda Ribas, professora do Ensino Médio do Colégio Marista Anjo da Guarda, o projeto de Luanna começou com uma coluna no Anjornal, informativo semanal da escola. “A coluna GirlsSTEM foi tão bem recebida que ela ampliou a discussão e partiu para a prática. Ou seja, além de trazer exemplos de mulheres e meninas de destaque nessas áreas e incentivar as leitoras a ocuparem esse espaço, a Luanna criou o Clube TechieGirls para dar aulas sobre programação e conteúdos relacionados ao universo STEM”, conta. Recentemente, a estudante abriu um novo horário para atender, não somente as meninas dos Ensinos Fundamental 2 e Médio, como também do Fundamental 1.
A professora relembra que já havia trabalhado propostas de desigualdade de gênero na escola, que conta em sua grade curricular com um projeto chamado HUB, onde alunos e alunas do Ensino Médio aprofundam questões do ODS 5 (um dos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável da ONU), que trata sobre a igualdade de gênero e o fim da violência contra meninas e mulheres. “Ao final de cada HUB, o grupo apresenta um trabalho que tem como objetivo discutir e trazer soluções para a redução da desigualdade de gênero”, explica Fernanda.
Basicamente, esse HUB inclui os quatro itinerários formativos: Ciências Humanas, Ciências da Natureza, Matemática e Linguagens e Códigos. Cada um deles trabalha com um ODS. O ODS5 que trata sobre a questão da igualdade de gênero é trabalhada em Linguagens e Códigos. Todos os alunos passam por todas as áreas nos dois primeiros anos do Ensino Médio.
Questionada sobre a importância de conscientizar as meninas para a existência de diferentes mercados de trabalho, a professora argumenta: “A questão não é apenas conscientizar para a existência dessas diferentes áreas de atuação. O mais relevante é mostrar para as meninas que elas são capazes de ser o que quiserem, e que não existem mais fronteiras para o conhecimento de meninas e meninos. Desde que haja interesse, esforço e acesso às informações, qualquer pessoa pode seguir seu sonho profissional, independente de gênero. Profissões tidas como ‘masculinas’ não fazem mais sentido nos dias de hoje”.
Para Fernanda, o papel da escola nesse processo, além de trazer exemplos de mulheres bem sucedidas em suas áreas, é incentivar as meninas a buscarem ser aquilo que desejam como futuro profissional, sem se sentirem limitadas por serem meninas. “E isso não pode acontecer apenas no Dia Internacional da Mulher. Tem que permear a formação das meninas desde cedo, em diversas situações do dia a dia”, observa a professora.
Além do grupo de programação, o colégio em questão também trabalha com outros projetos voltados a tecnologia, como robótica, aula com Lego, utilização de jogos virtuais como Minecraft, e até conta com uma impressora em 3D para atividades especiais, tal como óculos de realidade virtual, aplicativos educacionais, laboratórios especializados, salas de aulas interativas e ambientes com múltiplas linguagens, potencializados por parcerias com a FTD e com a Microsoft Schools.
Por fim, Fernanda orienta as meninas que querem superar essa desigualdade e mergulhar no mundo da tecnologia: “Eu daria apenas uma dica: sejam o que quiserem. Para isso é importante dedicação, superação, inspiração e confiança. E isso vale para meninas e meninos, em qualquer área do conhecimento”.