Além das tradicionais métricas de desempenho financeiro e de crescimento da companhia que usualmente entram na conta das grandes empresas na hora de formar o salário de um executivo, começam a fazer parte dessa equação no Brasil metas relacionadas ao ESG – critérios ambientais, sociais e de governança, na sigla em inglês.
O País acompanha um movimento já comum no exterior, em resposta à cobrança da sociedade e de investidores pelo engajamento das empresas nas questões relacionadas à sustentabilidade, à inclusão e à transparência, aspectos cada vez importantes para o desempenho e, principalmente, para a perenidade da empresa. “O movimento das empresas para serem mais sustentáveis acaba por impactar diretamente o bolso dos executivos, com a entrada das metas ESG nos planos de incentivos de curto e de longo prazo”, aponta o sócio da X|R Consultoria, Henri Barochel.
Nos Estados Unidos, o número de empresas que incluem métricas sociais ou ambientais para decidir as bonificações de seus executivos dobrou nos últimos dois anos, segundo levantamento da ISS ESG, o braço de investimentos responsáveis da firma de assessoria em votações de acionistas Institutional Shareholder Services.
O fundador e gestor da Fama Investimentos, um dos pioneiros de investimentos ESG no Brasil, Fabio Alperowitch, afirma que atrelar tais métricas à remuneração de executivos é algo positivo, mas lembra que a empresa precisa tornar transparente quais são essas metas, já que é relevante que elas estejam relacionadas a pontos sensíveis para o setor de atuação da companhia.
A siderúrgica Gerdau definiu dois itens que passaram, neste ano, a compor a avaliação da remuneração de longo prazo dos executivos: diversidade e redução de gás carbônico. “Trazer esse comprometimento é mais uma ação em prol de continuar evoluindo”, comenta a diretora global de Pessoas e Responsabilidade Social da Gerdau, Caroline Carpenedo. As métricas relacionadas ao ESG passarão a ser atreladas a 20% da remuneração de longo prazo dos executivos da empresa.
No GPA, dono da rede de supermercados Pão de Açúcar, desde 2016 a remuneração variável de executivos conta com uma métrica relacionada à redução do consumo de energia elétrica. Mas a companhia percebeu que faz mais sentido trazer para o cálculo a redução da emissão de gás carbônico. “Descobrimos que os gases que saem dos refrigeradores tinham mais impacto na nossa pegada de carbono do que a questão da energia elétrica”, explica a diretora de sustentabilidade do GPA, Susy Yoshimura. Até o fim de 2025, a meta é reduzir tais emissões em 35%.
A Lojas Renner há dois anos tem compromissos públicos para a área de sustentabilidade, como ter 80% dos produtos feitos com matérias-primas e processos menos impactantes, além de 100% do algodão utilizado certificado. “Objetivo é ser referência em sustentabilidade”, comenta a diretora de Recursos Humanos da Lojas Renner, Clarice Martins Costa. O bônus anual do alto escalão da companhia tem relação com o atingimento dessas metas e cada executivo tem seu próprio desafio, comenta Clarice.