Após a saída precoce do ministro da Saúde, Nelson Teich, vinte entidades de diversos segmentos assinaram um manifesto de apoio à permanência da ministra da Agricultura, Tereza Cristina, na pasta. “A continuidade do desenvolvimento do agronegócio é essencial e tem na Ministra Tereza Cristina sua principal líder”, diz o manifesto enviado à coluna.
Assim como Teich, o governo já tinha colocado nas rodas de conversa uma possível saída de Tereza Cristina do Ministério. Agora, porém, o mantra que vem sendo ecoado no Palácio do Planalto é que a saída dela “está fora de cogitação”. “Ela é super resiliente e está focada nos resultados”, garantiu um auxiliar direto do presidente.
Procurado para comentar rumores de uma possível saída, o Ministério não respondeu. Segundo auxiliares do governo, a própria ministra já reclamou com o presidente Jair Bolsonaro que não concorda com a postura “anti-China” adotada, e cada vez mais explicitada, pela ala ideológica do governo.
A insatisfação de Cristina, que é deputada pelo DEM, tem ecoado no Congresso, justamente no momento em que o Centrão busca ampliar espaço no governo. Na ala econômica, porém, há preocupação com um possível desembarque da ministra, já que a avaliação é que ela tem feito um bom trabalho.
Um integrante do governo já havia reconhecido que algumas arestas precisavam ser aparadas no relacionamento com a mandatária da Agricultura, mas pregou cautela em trocas afobadas. Na avaliação desse auxiliar, é direito do presidente escolher seus ministros, mas “substituições não podem atrapalhar o andamento do jogo, ainda mais durante uma pandemia”.
Além disso, o momento é de escolher o sucessor de Teich. Enquanto o secretário-executivo da pasta, general Eduardo Pazuello, permanece interinamente no cargo, auxiliares do presidente destacam que “não é hora para falar em troca na Agricultura”. “Nem se cogita isso”, reforçou um auxiliar.
Defesa
O manifesto, organizado pelo Instituto de Engenharia (IE), conta com a adesão de mais 19 associações nacionais de diversos setores. De acordo com o documento, o apoio ao trabalho da ministra está baseado nos desafios que o Brasil tem pela frente. O texto cita que a Organização das Nações Unidas para a Alimentação e a Agricultura (FAO) projeta que o Brasil teria que produzir 40% a mais de alimentos para alimentar o mundo até 2050.
“O documento destaca o papel do Brasil como produtor de comida para alimentar o mundo nesse momento da Covid-19 e da engenharia na superação de desafios de infraestrutura e gargalos logísticos que comprometem a competitividade dos produtos brasileiros. Na visão das entidades, a continuidade do desenvolvimento do agronegócio nesse momento da Covid-19 é estratégica para o País e tem na Ministra Tereza Cristina sua principal líder”, alertam.
“O agronegócio não parou com a pandemia, prossegue produzindo volumes recordes de grãos, carnes e outros produtos, além de seguir exportando. Continua assegurando superávits comerciais, garantindo recursos de que o País precisa, inclusive para a compra de equipamentos necessários de combate ao coronavírus, trazendo certa tranquilidade para fazer frente aos seus compromissos”, alegam as entidades.
Os signatários do manifesto argumentam ainda que “o agronegócio será o único setor da economia que apresentará crescimento em 2020, evitando um tombo maior do PIB”. “O mundo precisa de comida, mais ainda pós-crise, e o Brasil vem cumprindo o seu papel de suprir o mundo de alimentos, mas é preciso ir além: devemos nos transformar num dos principais fornecedores mundiais de alimentos prontos ou semiprontos para consumo, processando e industrializando nossas matérias-primas”, explicam.
Candidato “na reserva”
Há pelo menos um nome na mesa para o lugar de Tereza, que se coloca à disposição do presidente e no “time reserva”. E ele não é exatamente uma novidade. O secretário Especial de Assuntos Fundiários, Luiz Antônio Nabhan Garcia, não esconde sua ligação mais embrionária com Bolsonaro e tem ampliado conversas em que mostra “disposição para ajudar o presidente”. O ruralista foi inclusive cotado para assumir a pasta antes de Tereza, que acabou assumindo com apoio da bancada ruralista.
Assinam o documento que pede a permanência da ministra as seguintes entidades:
– Instituto de Engenharia (IE);
– Conselho Federal de Corretores de Imóveis (COFECI);
– Associação das Administradoras de Bens de Imóveis e Condomínios de São Paulo (AABIC);
– Associação Brasileira da Indústria Ferroviária (ABIFER);
– Associação Brasileira de Incorporadoras (ABRAINC);
– Associação Brasileira pela Conformidade e Eficiência de Instalações (ABRINSTAL);
– Associação Comercial de São Paulo (ACSP);
– Associação de Dirigentes de Empresas do Mercado Imobiliário (ADEMI – RJ);
– Associação para o Desenvolvimento Imobiliário e Turístico do Brasil (ADIT BRASIL);
– Associação dos Dirigentes de Vendas e Marketing do Brasil (ADVB);
– Associação das Empresas de Loteamento e Desenvolvimento do Estado de São Paulo (AELO);
– Associação para o Progresso de Empresas de Obras de Infraestrutura Social e Logística (APEOP);
– Federação Internacional Imobiliária (FIABCI);
– Sindicato Nacional das Empresas de Arquitetura e Engenharia Consultiva (SINAENCO);
– Sindicato dos Corretores de Imóveis do Estado de São Paulo (SCIESP);
– Sindicato da Habitação (SECOVI – SP);
– Sindicato da Indústria da Construção Civil do Estado de São Paulo (SINDUSCON);
– Sindicato da Indústria da Construção Pesada do Estado de São Paulo (SINICESP);
– Associação Brasileira de Tecnologia para Construção e Mineração (SOBRATEMA);
– Sociedade Rural Brasileira (SRB).