Grupo da USP cria plano de urbanismo focado em comunidade vulnerável

Projeto premiado apresenta soluções para permanência segura de famílias instaladas na região do Banhado, em São José dos Campos

Foto aérea de Banhado – Foto: Divulgação / PRG

Ir além da formação técnica, capacitando profissionais para atuar em prol da sociedade. Foi com base nessa filosofia que um grupo nascido no Instituto de Arquitetura e Urbanismo (IAU) da USP em São Carlos decidiu criar o PExURB – sigla para Práticas de Ensino, Pesquisa e Extensão em Urbanismo.

No final do ano passado, o grupo foi reconhecido quando um de seus principais projetos venceu o IABSP 2019, prêmio oferecido pelo Instituto de Arquitetos do Brasil – Departamento de São Paulo.

Com o auxílio de um drone, os pesquisadores utilizaram tecnologias de processamento e análises de dados geográficos para dar visibilidade à comunidade do Banhado, em São José dos Campos, que está ameaçada de remoção.

Coordenado pelos professores Marcel Fantin e Jeferson Tavares, ambos do IAU, o trabalho teve como foco a regularização da terra, da moradia e da infraestrutura da comunidade, situada em uma área de preservação ambiental. A ideia foi propor múltiplas reflexões sobre o cenário, especialmente em termos de cartografia social, que pode auxiliar na construção de alternativas para o problema. Além disso, o projeto colocou alunos em contato com demandas reais da sociedade.

Finalizado em julho de 2019, o projeto no Banhado “reuniu muitos esforços”, conta o professor Tavares. Com uma combinação de recursos da Pró-Reitoria de Graduação da USP, do Conselho de Arquitetura e Urbanismo de São Paulo e do Banco Santander, a empreitada vem conquistando prêmios ao longo dos últimos meses.

Projeto para planejamento urbano destaca a área do Banhado nos mapas do Estado de São Paulo e da cidade de São José dos Campos – Foto: Divulgação / PRG

Do Banhado para o mundo

Para o professor Marcel Fantin, é somente quando o estudante entra em contato com a realidade urbana que ele passa a entender a necessidade de ampliar seus horizontes e enfoques, já que é preciso compreender o contexto social dos conflitos urbanos. “Ele aprende a se posicionar e a buscar a inserção da função social do arquiteto na prática”, afirma Fantin.

Além dos estudantes de Arquitetura e Urbanismo, o grupo também inclui alunos de áreas como Direito, Engenharia Ambiental e Engenharia Civil, num coletivo que, atualmente, envolve um conjunto de 20 pessoas.

Grupo PExURB – Foto: Divulgação / PExURB via Facebook

Juntos, eles enfrentam a realidade desafiadora de comunidades que, muitas vezes, não recebem o amparo que deveriam. Era o caso da comunidade instalada na região do Banhado. O local contava com 460 famílias em um espaço reconhecido como o primeiro núcleo de favela da cidade, o Jardim Nova Esperança.

O plano proposto pelos profissionais do PExURB propôs soluções técnicas mostrando a possibilidade da permanência segura da população local. O planejamento abordou também questões ambientais e de trabalho, a relação rural-urbano, conflitos fundiários e novas possibilidades de uso e ocupação do solo.

Para Fantin, desenvolver a sensibilidade para atuar em projetos como esse “é um aprendizado difícil de se adquirir dentro da sala de aula, mas é essencial na formação dos alunos”.

E não é apenas em Banhado que as atenções do grupo se concentraram. Dezenas de outros projetos fazem parte da extensa lista de assessorias técnicas prestadas pelos especialistas no interior e na capital paulista.

“Temos trabalhado em projetos em Ribeirão Preto, nas áreas de planejamento urbano e infraestrutura, e estamos desenvolvendo um projeto específico numa comunidade rural de São Carlos, que está fora da pauta dos cursos de arquitetura”, menciona Tavares ao destacar que, recentemente, o grupo atuou no Hospital de Câncer de Barretos, também conhecido como Hospital de Amor.

O trabalho nos entornos do hospital envolveu identificar as falhas de acessibilidade para pessoas com deficiências, compreender os motivos por trás da falta de cuidado com o meio ambiente na região e entender os problemas que envolviam o espaço público no local. “Por exemplo, as pessoas não conseguiam andar pelas calçadas, que não ofereciam sombra em uma cidade que é muito quente”, explica o professor.

O resultado final foi um planejamento que propôs a melhoria de quadras, calçadas, pontos de acesso ao rio, e envolveu não apenas a administração do hospital, mas também a prefeitura. “Escutamos funcionários e até pacientes”, relata.

Extensão é visibilidade

Iniciado em 2018, o grupo de pesquisa foi criado para ampliar as possibilidade da atuação acadêmica por projeto de assessoria técnica, iniciação científica, mestrado e doutorado. A ideia, de acordo com o site oficial do grupo, é “construir ações para transformar o território pela prática universitária interdisciplinar e orientada pela área de conhecimento da arquitetura e do urbanismo”.

Do mundo das ideias para o plano das realizações, os projetos do PExURB também têm a função pedagógica essencial de integrar os pilares que fundamentam a USP. “É um grupo que tem a finalidade de envolver alunos em pesquisa, e principalmente fazer a articulação do tripé da universidade pública: pesquisa, ensino e extensão”, diz Tavares.

O professor explica que, especificamente para os alunos de São Carlos, a experiência com projetos de planejamento aplicados pode ser tão enriquecedora quanto uma experiência profissional de estágio na capital paulista, outro polo de ensino de Arquitetura e Urbanismo na USP. “O campo profissional em São Carlos é mais estreito, então criamos uma oportunidade para o aluno ter essas experiências práticas”, afirma.

Tanto para Tavares, quanto para o professor Fantin, a aproximação da Universidade com a gestão pública é crucial também para dar mais a visibilidade à Universidade.

“A extensão é a melhor forma da Universidade ocupar território. Se a USP quer mostrar seu valor para a sociedade, a melhor forma é a extensão”, reforça Fantin. É por meio da extensão que ambos acreditam ser possível formar alunos que compreendam melhor o Brasil e um público que entenda melhor o papel das grandes universidades brasileiras.

“É um diálogo difícil de construir, mas é de fundamental importância para a sobrevivência da universidade pública”, defende o professor Fantin.

Mais informações: site http://www.athis.org.br/project/pexurb/

Com informações da Assessoria de Comunicação do IAU

Por Denis Pacheco
Fonte Jornal da USP