No Enem, 1 a cada 4 alunos de classe média triunfa. Pobres são 1 a cada 600 (IEJN)

Levantamento mostra que só 293 estudantes nas piores condições socioeconômicas possíveis obtiveram notas semelhantes a de alunos de escolas de elite no maior exame do País. Conheça a história de alguns destes jovens

Foto: Pixabay

O Exame Nacional do Ensino Médio (Enem) é a principal porta de entrada para o ensino superior do País. Todos os anos, milhões de candidatos participam da prova. Mas as condições de competição entre eles não são exatamente iguais

Antes de começarmos esta história, vamos explicar algumas coisas

  • Primeiro, já sabemos que quanto melhor acondição socioeconômica do estudante, maior sua nota no Enem tende a ser

Neste gráfico, com base nas notas de quem fez a prova em 2017, cada nova “onda” mostra um grupo de estudantes em uma condição socioeconômica melhor que a anterior

Assim, vemos que elas estão sempre se deslocando para a direita →, em direção às melhores notas da prova

Para entender por que este histograma é importante, vamos analisá-lo por partes…

  • Aqui temos a “onda” que representa todos os estudantes que fizeram a prova em 2017

Na prática, são 200 barras coladas uma na outra, cada uma representando uma faixa de nota. De 0 a 5, de 5 a 10 e assim por diante, até 1000. Quanto mais alta a barra, maior é a quantidade de alunos que tiraram aquela nota

O Enem traz um imenso desafio para todos. São 180 questões objetivas (de Linguagens, Matemática, Ciências da Natureza e Ciências Humanas), divididas em dois domingos, além de uma redação

Mas os obstáculos a serem superados para se dar bem na prova são muito diferentes para cada aluno

  • Vejamos o desempenho dos candidatos com as piores condições socioeconômicas possíveis

Condições como renda familiar do aluno, o tipo de escola – pública ou privada – em que estudou e até se ele tem ou não internet em casa estão, quase sempre, ligadas a ter um bom ou mau desempenho

Isto não significa que viver na pobreza ou na falta de estrutura é determinante. Mas que esses fatores – boa escola e boas condições familiares – são muito relevantes para o sucesso dos alunos

  • Este contraste é evidente quando incluímos os candidatos com as melhores condições socioeconômicas possíveis

Sim, já sabíamos que este grupo está concentrado em notas mais altas…

Mas, para comparar melhor, destacamos os estudantes de cada grupo que tiveram pontuação entre as 5% melhores notas de toda a prova…

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1 a cada 4

ALUNOS DO GRUPO COM MELHORES CONDIÇÕES SOCIOECONÔMICAS ESTÁ NOS 5% MELHORES

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1 a cada 600

ALUNOS DO GRUPO COM PIORES CONDIÇÕES SOCIOECONÔMICAS ESTÁ NOS 5% MELHORES

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Isto significa que alguns alunos, ainda que em condições socioeconômicas ruins e escolas sem a melhor infraestrutura, superaram barreiras e atingiram notas típicas de colégios de elite

Mas… Quantos?

Descobrimos um pequeno grupo de 293 alunosque estudaram em situações extremamente desfavoráveis e contrariaram estatísticas

Este resultado pode ser suficiente para o ingresso em diversos cursos em universidades públicas. A nota mais alta obtida por um aluno deste grupo foi de 737,5 – nota semelhante a de alunos dos colégios privados mais caros do País

“Lembro do GP de Interlagos de 1991, quando (Ayrton) Senna venceu com apenas uma marcha funcionando. A distância percorrida foi a mesma para todos os pilotos, mas a ausência de recursos fez dele um herói. Assim como são estes 293 estudantes”
Leonardo Sales, cientista de dados responsável pelo levantamento, em parceria com o Estado

Dentre os 293 estudantes, 63% deles são pardos, percentual similar ao total de alunos, também pardos, com piores condições (65%)

A situação se inverte quando são analisados os estudantes de melhor performance. Os pardos representam 19% contra 72% dos brancos

Já os pretos, tanto no recorte dos 293 alunos, como também no grupo de piores condições, estatisticamente apresentam os mesmos valores com 13,6% e 13,9%, respectivamente

Os dados mostram ainda que há uma concentração desses alunos no Estado do Ceará. Mais da metade deles – 154 – cursaram o ensino médio em escolas públicas do Estado

Esse número reflete uma série de programas que tornaram o ensino público cearense uma referência nacional, com medidas que incluem fazer as melhores escolas apoiarem aquelas que apresentam pior desempenho

Ao lado de São Paulo e Rondônia, o Ceará teve a 4ª melhor nota do ensino médio em 2017 no Índice de Desenvolvimento da Educação Básica (Ideb), principal medidor oficial de ensino no País

Em seguida, aparece o Pará, com 37 alunos, Minas, com 25, e Bahia, com 16

Mas, afinal, quem são esses estudantes?

Por meio das notas e outras características, como idade, sexo e escola, apontadas nos microdados do Enem, a reportagem do Estado encontrou e entrevistou alguns deles

 

Texto: Luiz Fernando Toledo; Mílibi Arruda e Pedro Prata, especiais para o Estado
Fonte O Estado de S.Paulo