Pesquisa indica potenciais planetas habitáveis em nossa galáxia

Pesquisadores analisaram composição de estrelas parecidas com o Sol para descobrir presença de planetas rochosos

Uma pesquisa do Instituto Nacional de Pesquisa Espacial (Inpe), realizada com participação do professor Jorge Melendez, do Instituto de Astronomia, Geofísica e Ciências Atmosféricas (IAG) da USP, avaliou a possibilidade de habitação em diferentes planetas da Via Láctea.

O método usado foi a análise de estrelas parecidas com o Sol, as chamadas gêmeas solares, de outros pontos da galáxia. O parâmetro era o nível de abundância do elemento tório (Th) nestes astros, que indicaria o potencial de gerar planetas rochosos como a Terra.

Foi usado um instrumento chamado espectrógrafo, que detecta energia vinda das estrelas e analisa sua composição por meio dos sinais recebidos. No caso se procurava pelo tório, elemento radioativo que possibilita a formação de planetas rochosos. Quanto maior a presença desse elemento, maior a probabilidade de existir tectonismo no planeta, essencial para garantir a vida. “Temos que lembrar que a Terra é um planeta geologicamente ativo, com terremotos e vulcões. Eles proporcionam o ciclo do carbono, mantendo a temperatura da Terra e estando intimamente ligado ao surgimento e evolução da vida na superfície terrestre”, diz André Milone, pesquisador da Divisão de Astrofísica do Inpe que orienta o pesquisador Rafael Botelho, primeiro autor do estudo.

Foto: Cedida pelo pesquisador

O professor Melendez, que forneceu a coleta de dados e participou de sua análise para o estudo, explica que o calor no interior de Terra e toda a atividade tectônica e vulcânica “se originam da energia liberada do decaimento de diversos elementos radioativos”, entre eles o tório.

“O estudo mostra que potenciais planetas rochosos ao redor de gêmeas solares apresentam altas probabilidades de terem tectonismo, aumentando a chance de serem habitáveis. A pesquisa sugere condições geológicas favoráveis para o surgimento e manutenção da vida em exoplanetas rochosos, e que a vida poderia estar espalhada por todo o disco da Galáxia e ter se originado em qualquer época de sua evolução.”

 

O espectrógrafo HARPS durante os testes de laboratório. A grande grade ótica pela qual a luz estelar entrante é dispersada é visível no topo da bancada – Foto: cedida pelo pesquisador

 

Segundo o doutorando Rafael Botelho, “o mais empolgante é que parece que o tório também é abundante em gêmeas solares velhas, significando que o disco da Galáxia pode estar repleto de vida, tanto no espaço quanto no tempo”. Até o momento, este é o mais amplo estudo da abundância do tório em gêmeas solares.

Os resultados estão no artigo Thorium in solar twins: implications for habitability in rocky planets, recentemente publicado no Monthly Notices of Royal Astronomical Society, disponível no site da publicação.

Fonte Jornal da USP