Em 25 de abril de 2016 a sociedade brasileira acompanhou pela televisão um deprimente espetáculo, com o desfile de deputados e deputadas declarando o seu voto no processo de impeachment da então Presidente Dilma Rousseff. Não faltaram as declarações do tipo: em nome da minha querida cidade, da minha família, do meu neto que acabou de nascer, ou que vai nascer, etc. eu voto (sim ou não).
Muitos não aceitaram que aqueles congressistas representassem o conjunto da sociedade brasileira. O espetáculo que se via não correspondia aquilo que a opinião publicada entendia que deveria ser o Congresso Nacional. Essa estarrecedora visão da realidade da Câmara dos Deputados Federais me levou a empreender uma pesquisa, com base nos dados divulgados pelo TSE, cuja análise – ainda que preliminar – está reunida neste livro.
Procurei identificar a origem local dos votos dos deputados federais nas eleições de 2014 e, pelos seus históricos eleitorais, tentar entender porque os eleitores votam e continuam votando no mesmo candidato. O principal achado é que o deputado federal não é eleito como representante de uma comunidade ou de grupo de eleitores, com visão comum sobre os temas nacionais e alternativas de solução. Eles são eleitos como despachantes dos interesses da comunidade junto às entidades e autoridades públicas: redução da fila nos postos do SUS, uma escola fundamental próxima da moradia, asfaltamento de uma rua, etc.
Isto ocorre porque a visão de mundo do eleitor é restrita às circunstâncias em que ele vive. Ele quer a melhoria da condição de vida dele e da sua comunidade ou corporação. Percebe a necessidade de melhoria mais ampla, da coletividade, mas só até onde a vista alcança.