+ A ponte Morandi
Gênova possui terreno acidentado, o que justifica os vários túneis e pontes espalhados pela cidade. Uma delas é a ponte Morandi, com 1,18km de extensão, que foi inaugurada em 1967, um período de crescimento econômico do país. Ela leva o nome do engenheiro civil que a projetou, Riccardo Morandi. Ele também era um dos mais visionários na área da arquitetura do século XX.
Pela ponte Morandi passa a rodovia A10, que liga o Norte da Itália ao Sul da França. Além de ser muito movimentada, ela era um importante ponto de ligação entre as regiões. Ali debaixo havia casas, empresas e indústrias.
+ A tragédia
Na manhã do dia 14 de Agosto, um trecho (entre 100 e 200 metros) da ponte Morandi desabou em Gênova, deixando, além de vários mortos e feridos, famílias desoladas e pessoas no mundo inteiro chocadas. Até o momento, foram 39 mortos. No intuito de encontrar sobreviventes entre os escombros, a equipe de busca e resgate está empregando as mesmas técnicas usadas para o caso de terremotos.
O colapso ocorreu durante uma tempestade com ventos fortes. Algumas testemunhas ainda afirmaram ter visto raios na ponte. Vale lembrar que fortes ventos eram causa de queda de muitas pontes antigamente, mas esse não é mais um problema tão recorrente.
As investigações ainda devem durar alguns meses até que seja possível esclarecer o ocorrido. No entanto, uma das hipóteses gira sobre a vulnerabilidade da infraestrutura e do concreto armado usado na construção. Especula-se que o projeto não continha o cálculo do peso excessivo que os caminhões atuais transportam e que também não considerou o número de veículos em circulação atualmente. A manutenção, além de ser frequente, ainda possui um custo elevado.
Outra vertente a ser considerada, além da falha de infraestrutura e das tempestades, é a erosão do solo na cidade, que é marítima. O ideal seria que a ponte fosse demolida ou reformada 50 anos após sua construção, o que não aconteceu, já que para substituir todas as pontes que deveriam ser substituídas no tempo correto gastaria, praticamente, uma fortuna.
No momento da queda do trecho, os veículos foram lançados 45 metros para baixo. Quem assistiu ao acidente afirma que a cena parecia a de um apocalipse, como se uma bomba tivesse atingido a ponte, com várias pessoas correndo aterrorizadas. Veja um dos vídeos após o acidente.
+ As pontes gêmeas
Em 1964, a Ponte General Rafael Urdaneta, na Venezuela, também projetada por Riccardo Morandi, teve um fim tão trágico quanto o da ponte Morandi. Elas são chamadas gêmeas ou irmãs porque possuem o mesmo estilo. Um petroleiro bateu em duas pilastras, o que ocasionou a queda de uma parte da ponte de 216 metros. O acidente ocasionou entre sete e oito mortes.
+ Prevenção e alertas
Embora tenha sido uma tragédia, a queda da ponte não foi um evento não esperado. Vários avisos foram feitos sobre o perigo que ela representava. Um deles foi do professor Antonio Brencich, do Departamento de Engenharia da Universidade de Gênova, que afirmou, em 2016, que aquela ponte era uma “falha de engenharia”. Após a queda, ele explicou que a ela possui cabos de aço, os quais estão envoltos em uma bainha que deveria ter o efeito de proteção. Porém, não é exatamente isso que acontece. É um tipo de recurso que o próprio projetista da ponte, Morandi, patenteou e, posteriormente, deixou de usar por não ser uma técnica efetiva.
Em 2016, a ponte passou por reformas e sua base estava, atualmente, em obra de reforço. A empresa responsável pela manutenção, Autostrade per l’Italia, afirmou que realizou vistorias e não encontrou nenhum sinal de problema antes do desabamento. O pior é que a Ponte Morandi não era a única que precisa de manutenção. Outros viadutos e túneis italianos – mais de 300 – estão na mesma situação. Estima-se que, nos últimos 5 anos, dez pontes caíram no país. Felizmente, a maioria foi sem vítimas fatais.
+ A culpa
Em uma tragédia como esta, é até difícil falar em culpados. Dentre os cogitados pela mídia para assumir a responsabilidade estão a empresa de manutenção, a falta de liberação de verbas e outros. A questão política também está em jogo.
Como engenheiros(as)/futuros(as) engenheiros(as), nos resta pensar em uma questão que é fundamental: a segurança e o valor inestimável de uma vida. Precisamos trabalhar para sempre reduzir o risco ao máximo, afinal, a vida é algo precioso. Infelizmente, sempre vamos esbarrar em empecilhos, como a falta de verba, a falta de vontade, a burocracia, a disputa política e outros. Assim, nos resta refletir sobre uma frase de Brencich: “O colapso de uma ponte é o resultado de uma longa série de erros”.
Referências: The New York Times; The Telegraph; Citylab; G1; BBC; The Guardian.
Fonte Blog da Engenharia