São Paulo – A dentista brasileira Camila Castro de Sá, de 36 anos, tinha vontade de morar em outro país, mas faltava coragem para começar tudo de novo em outro lugar. Quando a crise econômica apertou, a falta de perspectiva deu o ânimo de que ela precisava para emigrar para os Estados Unidos, há pouco menos de dois anos.
O emprego não demorou a chegar. “Um amigo, também brasileiro e dentista, já residente aqui nos EUA há alguns anos, me ofereceu a possibilidade de trabalhar em seu consultório”, conta.
Hoje, ela – que ficou sócia do amigo – tem dois consultórios, na Flórida, um em Orlando e outro em Fort Lauderdale. “Em princípio não penso em voltar. Os EUA oferecem muitas oportunidades. Além disso, tenho dois filhos pequenos, de seis e de oito anos. A chance de terem um futuro melhor aqui é bem maior”, diz.
A profissão de Camila ajudou muito no processo de mudança. Faltam dentistas nos Estados Unidos, que têm uma taxa de 65,7 profissionais por 100 mil habitantes. No Brasil, um dos países com maior número de dentistas em todo planeta, esse número é mais do que o dobro: são 140 para cada 100 mil habitantes.
Mas não são só os dentistas os profissionais qualificados que estão na mira do Tio Sam. Engenheiros – sobretudo os de software, civis, eletricistas e mecânicos – encontram cenário muito mais promissor lá do que aqui no Brasil, onde jovens recém-formados se perguntam o que fazer com o diploma de engenharia.
A escassez faz subir os salários em até 20% para os profissionais “importados”. Engenheiros estrangeiros chegam a ganhar entre 6,5 mil a 9,5 mil dólares por mês, a depender da área e da qualificação, segundo o advogado de imigração, Miguel Risch, sócio da Hayman-Woodward, escritório especializado em expatriação e investimentos no exterior.
Os números divulgados pela Hayman-Woodward comprovam que odontologia e engenharia são campos promissores para os profissionais estrangeiros nos Estados Unidos. O número de clientes dentistas ou engenheiros cresceu perto dos 40% nos últimos dois anos.
Profissionais que vêm de países com grande quantidade de engenheiros e dentistas em geral são bem recebidos pelos empregadores estadunidenses. Mas, a qualidade da formação acadêmica brasileira é um ponto que faz os profissionais dentistas e os engenheiros daqui se destacarem lá. “O Brasil certamente é uma referência nessas duas áreas. Não se trata, portanto, só de quantidade, mas também de qualidade.
Como funciona processo de imigração para profissionais qualificados
Encarar todos os trâmites da imigração para trabalhar e viver nos Estados Unidos sem ajuda especializada é quase impossível. “São 187 tipos de vistos tanto para imigrantes quanto para não imigrantes”, diz Risch.
Saber qual é o tipo de documento mais apropriado é um dos primeiros passos. Pessoas qualificadas podem, por exemplo, conseguir um tipo de visto- e em seguida um green card – concedido por conta da falta de mão-de-obra em determinadas regiões do país.
Nesse caso, nem é preciso ter uma proposta de emprego na manga. “Os vistos EB-1A e EB-2 National Interest Waiver são concedidos sem a necessidade de uma oferta de trabalho prévia e baseiam-se apenas no histórico acadêmico e profissional do candidato”, diz Risch.
Essas categorias de visto ainda são pouco conhecidas, segundo ele. O “EB-1A” é dado a pessoas com habilidades extraordinárias e o “EB-2 National Interest Waiver” é concedido a profissionais bem qualificados e que atuam em áreas que estão em falta e são de interesse dos EUA.
Os dois vistos são definitivos, sem necessidade de renovação. “Após a entrada nos Estados Unidos, os portadores desses vistos devem aguardar a chegada de seus green cards, algo que normalmente leva aproximadamente seis meses após o pedido ser aprovado”, diz Risch.
Quem consegue esses dois tipos de visto, sabe o que quer fazer nos Estados Unidos, antes de dar entrada na papelada. “Já possuem alguma atividade em mente, seja para trabalhar para algum empregador já estabelecido ou montar seu próprio negócio”, diz.
Como em qualquer país, para atuar profissionalmente nos Estados Unidos como dentista ou como engenheiro é necessário ter diploma válido por lá. Segundo a dentista brasileira, essa sim é que foi a parte mais desafiadora da mudança.
“O que foi mais complicado foi fazer a equivalência do meu diploma brasileiro, sem o qual não poderia exercer minha profissão aqui”, lembra a dentista Camila. Ela recomenda que a validação do diploma seja prioridade no planejamento dos interessados em emigrar.
Segundo Risch, os requisitos de validação de diploma variam de acordo com o estado dos EUA. Mas, via de regra, o profissional precisará atesta por meio de documentação que realmente tem o conhecimento e capacidade para o trabalho. “A primeira providência é pedir um histórico escolar e diploma das instituições de ensino que o profissional cursou no Brasil”, diz.
Os documentos precisam ser autenticados e traduzidos por tradutor juramentado. “Além disso, existem instituições de ensino nos EUA que podem auxiliar uma pessoa com o processo de equivalência ou revalidação de um diploma”, diz Risch.
Fonte Exame