Um quarto da capacidade global de refino de petróleo pode se inviabilizar e ser forçada a parar com suas atividades até 2035, como consequência de uma esperada onda de regulamentação climática e, também, de avanços rápidos em tecnologias limpas que devem reduzir a demanda de petróleo. É o que concluiu um relatório lançado nesta sexta-feira (3) pela Carbon Tracker Initiative (CTI). O relatório destaca os riscos do setor para investidores.
A queda da demanda por petróleo em um mundo com restrições às emissões de carbono deve espremer as margens de lucro em toda a indústria, o que deve expulsar do mercado as refinarias menos lucrativas. Os ganhos da indústria global totalizaram US$ 147 bilhões em 2015.
Andrew Grant, analista sênior da CTI e coautor do relatório disse que “a trajetória econômica para a manutenção do aquecimento global abaixo de 2°C forçará um pico na demanda por petróleo seguido de uma grande racionalização da indústria global de refino. Muitos atores sairão do mercado para não se descapitalizarem. Os investidores devem ter cuidado com o risco de perda de capital se estender a todos os novos investimentos, incluindo expansões ou melhorias nas plantas existentes”.
A CTI analisou 492 refinarias que, somadas, representam 94% da capacidade global de refino, no que se acredita ser a primeira análise sobre como a indústria se acomodará à situação criada para buscarmos alcançar o objetivo de 2°C do Acordo de Paris, em um cenário que terá a emergência de tecnologias limpas e revolucionárias. A análise se baseia no cenário 450 da Agência internacional de Energia, o qual prevê que o pico da demanda por petróleo acontecerá em 2020 e que, a partir deste momento, esta declinará 23% ao longo dos 15 anos seguintes.
A indústria, por seu lado, espera que a que a demanda cresça constantemente até 2035, em contraste com o cenário analisado de 2˚C. Entretanto, os combustíveis usados no transporte (diesel, gasolina e querosene de aviação) são responsáveis por 70% dos lucros das refinarias, e também pela porção mais vulnerável à destruição da demanda. Um estudo anterior da Carbon Tracker concluiu que as empresas petrolíferas podem estar subestimando seriamente o impacto, por exemplo, do crescimento acelerado da participação dos veículos elétricos no mercado, os quais podem abocanhar um terço do transporte rodoviário até 2035.
A pesquisa da CTI mostra que muitas empresas da indústria de refino precisam reconsiderar suas estratégias de negócio à luz da evidência de que políticas públicas e tecnologias vão reduzir a demanda por petróleo, o que deve levar os investidores a precificar estes riscos financeiros.
Autor: Ciclo Vivo