Se todos os esgotos sanitários e não sanitários de uma bacia hidrográfica fossem coletados e interceptados de forma a não alcançarem “in natura” os cursos de água haveria poluição hídrica?
Sim, muito provavelmente. A poluição hídrica se manifestaria, porém de uma outra forma como o resultado do carreamento das águas pluviais que ao escoarem pelas áreas impermeabilizadas da bacia se contaminariam devido ao arraste e dissolução de toda e qualquer sujidade que encontrassem pelo caminho em direção aos corpos d’água.
Esta é a chamada poluição difusa, cuja maior ou menor intensidade, está, em última análise, associada ao grau de educação sanitária da população.
O rio Pinheiros é um exemplo emblemático da poluição difusa, uma vez que ela é preponderante uma vez que advém praticamente de toda a bacia do Alto Tietê, e não somente da sua própria bacia, em virtude das regras operacionais do sistema Tietê Billings que prevê a introdução das águas do Tietê a montante da confluência com o Pinheiros em condições excepcionais por ocasião das grandes chuvas, justamente o grande agente indutor desta modalidade de poluição.
Como logicamente é difícil controlar a poluição difusa na fonte, somente possível mercê a um grande esforço focado principalmente na educação ambiental, a recuperação da qualidade das águas de rios contaminados a exemplo do que ocorre na Europa e nos Estados Unidos passa também por intervenções no próprio curso de água mediante a utilização de tecnologias que acelerem sua depuração natural. Logicamente, a ampliação da rede de esgotos incluindo coletores tronco e interceptores ao longo de toda a bacia é também fundamental.
No caso específico do canal Pinheiros, a Cetesb em 2013, tomou essa iniciativa, através de um chamamento a empresas privadas em testar, em modelos reduzidos do canal Pinheiros, diferentes tecnologias que pudessem tratar as águas do próprio canal mediante a utilização de métodos avançados de tratamento e de produtos biológicos que acabaram por se revelar capazes de melhorar a qualidade da água do rio a ponto de ter criado condições para o seu potencial enquadramento na Classe 4 do Decreto 8468/76. (Veja artigo a respeito em https://www.institutodeengenharia.org.br/site/2017/04/10/o-projeto-de-requalificacao-do-rio-pinheiros/.
Esta também será a tônica desta outra iniciativa do Governo do Estado através da EMAE em cooperação com a SABESP, de uma nova tentativa de recuperar as águas do Pinheiros porem segundo um maior grau de depuração de modo a permitir o bombeamento perene á represa Billings de forma a valorizar o espaço urbano, aumentar a oferta de água para fins de abastecimento e geração de energia.
Até o final deste ano estará concluída a modelagem técnica-econômica-operacional e jurídica-institucional de uma parceria pública-privada que propiciará à iniciativa privada investir de imediato nas tratativas de requalificação do rio Pinheiros aos fins propostos.
#José Eduardo Cavalcanti
Engenheiro Químico, associado ao Instituto de Engenharia