O agronegócio é o setor mais competitivo da economia nacional e ingrediente de peso relevante para uma plena inserção do Brasil no mercado global. Um bom exemplo dessa força é a safra recorde de grãos esperada para 2017.
Segundo o Levantamento Sistemático da Produção Agrícola de março, divulgado pelo IBGE, a estimativa de produção é de 230,3 milhões de toneladas este ano, ante 189 milhões de toneladas na safra anterior. Desse total, somente a soja vai responder por quase 111 milhões de toneladas.
De acordo com a Secretaria de Relações Internacionais do Agronegócio (SRI), do Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Mapa), o setor representou 43,5% do valor total das vendas externas brasileiras em março de 2017, com um recorde de embarques para o mês de março – nada menos de US$ 8,73 bilhões.
Com as importações de US$ 1,39 bilhão, o saldo da balança comercial do agronegócio foi de US$ 7,34 bilhões. A perspectiva é alcançar uma produção de grãos de 400 milhões de toneladas, até 2035, conforme especialistas do setor.
A concentração do aumento de produção deverá ocorrer no território nacional acima da Paralelo 16, uma linha imaginária que passa pelo Mato Grosso, Goiás, Brasília, Minas Gerais e Sul da Bahia. Por essa perspectiva, acima dessa linha, o foco para escoamento seriam os portos do Norte, considerando, entre outras, a vantagem de estarem mais próximos do Canal do Panamá, recentemente ampliado.
Mas todo esse cenário de prosperidade do agronegócio ainda esbarra numa série de barreiras, principalmente de armazenagem, transporte e infraestrutura portuária. A aposta que o país fez no modal rodoviário (responde por mais de 60% do total do transporte) gera um dos obstáculos mais evidentes.
Basta lembrar o que ocorreu, no início do ano, na Rodovia BR-163, no Pará: a estrada ficou intransitável num trecho ainda sem asfalto. Por conta das fortes chuvas, a via virou um lamaçal intransponível e as carretas carregadas de grãos foram se aglomerando. O país deve perder R$ 6,6 bilhões a cada safra de soja e cerca de R$ 1,4 bilhão com o milho, apenas por conta da queda de grãos durante o transporte rodoviário.
O escoamento encontra dificuldades nos portos também. A região Sudeste/Sul dispõe de infraestrutura, porém é deficiente e está saturada. Já a saída pelo Norte requer a implantação de uma nova malha logística. Em ambos os casos, o gargalo logístico compromete a
competividade e a rentabilidade do agronegócio brasileiro.
Estudos mostram que há um enorme desperdício na adoção do modal rodoviário para distâncias médias superiores a 2.500 quilômetros (ferrovias e hidrovias são muito mais viáveis para as necessidades brasileiras). Uma das principais soluções para reduzir os custos logísticos.
Melhor a rentabilidade, portanto, passa por investimentos significativos no desenvolvimento de uma malha ferroviária eficiente. Não adianta apostar em atalhos, é preciso apostar na saída correta.
O Brasil já é um dos principais supridores de alimentos para o mundo e poderá consolidar esse papel, se o governo e a sociedade brasileira assumirem esse protagonismo. E viabilizarem esse protagonismo. É tempo de rever os modais de transporte para escoamento da produção. É tempo de investir em soluções.
Autor: Eduardo Lafraia, presidente do Instituto de Engenharia, publicação DCI