Trata-se o presente artigo da análise específica da parcela da engenharia dedicada ao setor de construção civil, nos mercados interno e externo a partir do ano de 2017, face às alterações verificadas nos contextos nacional e internacional. Do lado doméstico, há as consequências da operação Lava-Jato e o posicionamento dos órgãos de controle de Estado, como o Tribunal de Contas da União e a Procuradoria Geral da República, impondo restrições que resultam em impedimentos à continuidade das operações das empresas de engenharia dedicadas às obras de infraestrutura; complementando esta difícil situação, as empresas de engenharia dedicadas às atividades imobiliárias vêm enfrentando há alguns anos um quadro econômico bastante avesso, com dificuldades de acesso ao crédito – seja ao empreendedor, seja ao tomador final, o que é um fator limitante às suas operações. Pelo lado externo, urge a revisão do posicionamento do setor de engenharia frente à nova administração do governo dos Estados Unidos da América, cujos impactos alcançam toda a economia mundial, sem qualquer juízo de valor político.
O setor da economia nacional dedicado à engenharia de infraestrutura é reconhecido internacionalmente por sua competência, abrangendo obras civis realizadas nas Américas, África e Europa, conquistada após décadas de investimentos. Enquanto muitas das obras civis de grande porte tenham sido paralisadas no Brasil, aí incluídas as que remanescem da Copa 2014 e das Olimpíadas 2016, abriu-se porém, de um lado, espaço para as empresas de médio porte, que vêm ocupando o vácuo deixado pelas principais empresas do setor que executavam as obras de grande envergadura, e que hoje, como dito, enfrentam uma crise agudíssima de financiamento destas obras.
De outra parte, há um claro movimento por parte de empresas internacionais de engenharia em sentido a adquirir, pela compra de empresas brasileiras, a imensa competência desenvolvida para a realização obras de engenharia do Brasil, resultado de décadas de trabalho e esforço. Hoje, o setor de engenharia de infraestrutura é um mercado indefeso, aberto às empresas estrangeiras, que se apropriam até mesmo de obras nos demais países em que as empresas brasileiras atuavam com excelência. Enquanto as empresas chinesas atacam com voracidade o mercado de produção e transmissão de energia elétrica, a Petrobrás convidou para finalizar as obras do Complexo Petroquímico do Rio de Janeiro (COMPERJ), apenas empreiteiras estrangeiras.
Fato é que, hoje, no descortinar 2017, as principais empresas do setor de infraestrutura e de desenvolvimento imobiliário, ainda que por razões distintas, partilham o mesmo quadro de dificuldades, resumido no elevado endividamento e de fortes restrições ao crédito para financiar as obras. Posicionando-se de forma defensiva, dificilmente conseguirão superar os presnetes desafios.
Há que se observar, entretanto, a oportunidade que se abre com a posse do Presidente Donald Trump nos Estados Unidos da América, cuja agressiva política econômica é protecionista do mercado interno e, por que não, por sua própria lógica intrínseca, expansionista nos mercados externos para as empresas americanas. Tal posicionamento se apresenta em um momento em que, dada nossa exposição apresentada acima, como uma grande oportunidade para a participação de empresas européias, mas principalmente para as chinesas, nos países com os quais o posicionamento norte-americano possa vir a abalar as relações, especialmente os países membros do Acordo Transpacífico de Cooperação Econômica (TPP) e do NAFTA, particularmente, os países da Aliança do Pacifico (Chile, Colômbia, Peru e México).
Assim, a indicação do Senador Aloísio Nunes Ferreira como Chanceler Brasileiro impõe às empresas de engenharia brasileiras que sejam ágeis e competentes, para transformar as presentes ameaças que nos afrontam em grandiosas oportunidades, buscando formalizar acordos bilaterais, inclusive negociando o ingresso do Brasil no Acordo Transpacífico de Cooperação Econômica (TPP), e levando consigo a chancela de competência e notoriedade técnica da engenharia nacional.
Percebe-se que, novamente, a engenharia brasileira do setor da construção civil é chamada a enfrentar o desafio de demonstrar sua elevada tecnologia da construção civil do país, abrindo oportunidades também para as empresas de pequeno e grande porte.
Marcos Moliterno
Vice-presidente de Relações Externas do Instituto de Engenharia. Engenheiro Civil, formado em 1987, mestre em Tecnologia Ambiental (2006), com especialização em Engenharia de Segurança do Trabalho (1993) e em Gestão Ambiental e Negócios no Setor Energético (2008).