Ao viajar para a China ouve-se muito de pessoas que já estiveram lá antes que seria um lugar de extremos: ame-a ou deixe-a.
As notícias que temos desse país longíquo são sempre as mesmas: uma população gigantesca, um país enorme em termos de extensão e culturalmente diverso. E, provavelmente, onde está o futuro do mundo.
O primeiro contato com a China usualmente ocorre pela cidade de Beijing ou Pequim, para os ocidentais. Logo no primeiro momento nota-se um enorme aeroporto – o que era esperado para a segunda maior cidade do mundo – e com uma eficiência ímpar de seus prestadores de serviço.Afinal, como gerenciar um país cuja população ultrapassa a casa do bilhão? Os chineses têm a solução.
Pequim se destaca não somente pela maior praça do mundo, a praça Tian an men, mas também pelos seus prédios corporativos. Apesar de a paisagem poluída atrapalhar a visão do horizonte, os prédios novos não deixam de se salientar – em sua grande maioria revestidos de vidro ou com projetos arquiteônicos que realmente desafiam a gravidade – e a engenharia!
O segundo destino foi a cidade de Xian, localizada em uma província rural, aproximadamente há duas horas de avião de Pequim ou seis horas utilizando o trem bala. Em Xian, a imagem que eu tinha da China na cabeça finalmente se consolidou: as luzes! Xian é uma cidade jovem, universitária e, definitivamente, iluminada! As ruas, vielas, bares e restaurantes com seus letreiros em neon formam uma enorme confusão de letras ocidentais e orientais, colorindo o panorama da cidade.
Apesar de ser conhecida pelo local em que estão os famosos guerreiros de terracota da tumba do Imperador Qin, algo que chama muita a atenção em Xian é a quantidade de prédios novos e em construção, residenciais oucomerciais. Nota-se um menor interesse arquitetônico nessa região, talvez com maior foco em disponibilizar a moradia para a população e não em criar uma obra que seja, de fato, uma obra de arte.
De Xian fomos para a cidade de Chongqing, em uma área mais industrializada, com diversas fábricas de automóveis e muitas colinas, assim os habitantes da cidade têm pouco costume e grande dificuldade em usar o meio de transporte popular da china: a bicicleta.
Outros tipos de indústrias se destacam no local, como maquinária, química, petroquímica, farmacêutica e metalúrgica. Chongqing não mostra tudo o que tem a oferecer logo no primeiro momento, porém ao conversar com o guia local nota-se que ali é um centro industrial de enorme importância para a China e que, certamente, só tende a crescer nos próximos anos.
No porto de Chongqing embarca-se para uma nova aventura: um cruzeiro de três dias e cerca de 700 quilômetros percorridos pelo rio Yangtsé, até o destino final: Ychang.
A saída do barco a noite na cidade de Chongquing é muito impactante, pois tudo que se vê são as gruas e máquinas da construção civil iluminadas na beira do rio, sejam construções chinesas, inglesas ou dos demais países asiáticos. Cada construção vem com a missão de ser mais imponente e extravagante do que seus vizinhos. Vê-se tambémos prédios já prontos e preparados para formar uma visão marcante na mente dos passageiros a bordo. O barco inicia seu percurso pelo rio e pouco a pouco as inúmeras pontes, torres, parques e avenidas iluminadas ficam para trás. É o início das montanhas.
Durante dias o cenário é o das altas montanhas, até que o barcoc hegar, à noite, para passar pelas cinco eclusas da maior usina hidrelétrica do mundo: TrêsGargantas.
A usina desbancou Itaipu e lidera o ranking mundial na sua categoria, levou cerca de dezessete anos para serc onstruída e ficou pronta em 2009. É uma obra de engenharia impressionante em todos os sentidos, no tamanho descomunal, no tempo de construção, no impacto que causou ao longo de todo o rio Yangts e é, principalmente, no volume de energia produzida – apesar de ainda representar uma pequena porcentagem da energia utilizada na China, o que demonstra o tamanho da demanda do país.
Leva-se praticamente uma hora para passar em uma eclusa somente, então, visando otimizar o tempo, ainda em 2016, ficará pronta a mais nova adaptação do projeto: um elevador para arcos menores, assim o tempo de passagem será de quarenta minutos.
Outro aspecto interessante do projeto é que um dos principais motivos da construção não foi a geração de energia, mas também conter as inundações nos vilarejos na beira do rio, muitos deles tiveram que ser removidos ou reconstruídos em locais mais altos. Ao longo dos anos, milhares de mortes ocorrerampor causa das enchentes, após TrêsGargantas, o problema parece estar maiscontrolado. O projeto tambémr evolucionou a vida dos moradores e gerou oportunidade de trabalho, não só na usina em si, como na área de turismo, pois a usina é um destino muito visitado e os guias locais estão sempre prontos para recepcionar os visitantes, inclusive com explicações em inglês.
O desembarque do navio ocorre na cidade de Ychang e, após um rápido tour local, a viagem continua de avião até a cidade de Shanghai.
Shangai é o tipo de cidade que deixa qualquer viajante sem palavras. Não poderia ser comparado com lugar algum do mundo. Shanghai parece uma mistura de São Paulo, porém mais embelezada, com Nova Iorque, porém mais interessante e com Paris, porém mais moderna.
Com diversas influências Shanghai possue bairros típicos de vários países do mundo, como o bairro francês, inglês ou norte-americano.
O contraste das construções de arquitetura europeia clássica de um lado do rio com os arranha-céus arrojados, brilhantes e futuristas do outro faz com que o turista se sinta em uma fenda no tempo. De um lado o passado, de outro, o futuro.
A impressão que se tem da cidade é que nada ali foi criado só pela necessidade de existir, tudo é construído para ser lembrado, para virar o novo cartão postal da cidade. Todos os prédios são retorcidos, vazados, revestidos de luzes led ou adornados com o que mais a criatividade humana permitir.
Shanghai, definitivamente, cumpre o seu papel de maior cidade do mundo em termos de beleza e, para que se tenha espaço para contruções tão magníficas, o governo iniciou uma política para realocar os moradores dos bairros antigos centrais para áreas mais externas da cidade e vender o terreno para empresas que queiram deixar sua marca registrada na forma de um edíficio.
Emtermos de mobilidade urbana, Shanghai é equipada com muitas linhas de metrô, possibilitando o acesso a todas as partes da cidade de maneira bem rápida, além de facilitar o trajeto dos turistas, pois o mapa de um metrô é o tipo de comunicação mais universal entre os habitantes das grandes metrópoles.
A ideia inicial de que a China é um lugar de extremos se confirma ao final da viagem: é a arquitetura milenar dos templos coexistindo com os prédios mais modernos do planeta, é a cultura e religião tradicionais concorrendo com o que há de mais inovador na tecnologia, é a prática do tai chi contracenando com o trânsito caótico, é um povo que começou a se abrir para o mundo poucos anos atrás, convivendo com os costumes do ocidente, tudo, claro, em grandes proporções.
A China é um lugar intenso, portanto, trata-se de uma grande aventura aterrissar por lá mas, certamente, é um aviagem que muda a maneira de se enxergar o mundo, de se enxergar o futuro.
O futuro fala mandarim.
XieXie
* A viagem à China foi feita por meio de visita técnica promovida pelo Instituto de Engenharia e organizada por Sakan Kato Young, diretor de Visitas Técnicas e de Lazer
**Luiza Prandini Moliterno é acadêmica em Direto e em Engenharia na Universidade Presbiteriana Mackenzie
Autor: Luiza Prandini Moliterno**