A poucos meses da realização das Olimpíadas e Paralimpíadas no Rio, uma equipe em Manaus vem testando uma tecnologia que pode revolucionar o atletismo para deficientes visuais. A meta é dar a esses atletas, que hoje precisam correr acompanhados por guias, a possibilidade de correrem sozinhos, orientados por acessórios inteligentes.
De acordo com a pesquisadora Ana Carolina Oliveira Lima, que coordena o projeto Meu Guia na universidade Nilton Lins, a presença do guia costuma trazer uma sensação de segurança para o corredor. Porém, já foram registrados muitos casos em que o guia (que é unido ao deficiente visual por uma corda) acaba prejudicando o corredor, seja porque queimou a largada, por exemplo, seja pela falta de sincronia nas passadas e movimento dos braços.
Um exemplo disso ocorreu em outubro no ano passado, quando o brasileiro Felipe Gomes perdeu a medalha de ouro na prova de 400m do Mundial Paralímpico de Atletismo, no Catar, porque seu guia pisou na linha em uma curva, o que leva à desclassificação. “Em todas as Paralimpíadas, teve alguma prova com problema”, afirma Ana Carolina, que é graduada em computação, com mestrado e doutorado em engenharia elétrica.
O projeto Meu Guia, que está sendo desenvolvido há cerca de dois anos, conta até agora com duas formas de apresentação. Uma delas se assemelha a um par de braceletes; a outra é um macacão de mangas e pernas compridas. Ambas contam com vibradores, que são acionados para transmitir ao atleta informações valiosas. Se ele precisar fazer uma curva para a esquerda, por exemplo, uma vibração no braço o ajuda a ajustar o rumo. Com o macacão, outros dados podem ser compartilhados. A vibração nas costas significa que ele deve seguir reto. E, ao cruzar a linha de chegada, vibrações localizadas nas pernas informam em que posição ele chegou.
Para tornar essa comunicação possível, os pesquisadores criaram um sistema híbrido que associa as melhores características de diferentes tecnologias: acelerômetro, giroscópio, GPS e ZIG bee (um padrão de rede sem fio, para transmissão de dados). O trabalho, que conta com fomento do CNPq (Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico), já levou ao registro de três patentes.
Até agora, a novidade foi testada com quatro atletas com deficiência visual em Manaus. “Um deles comentou que, para ele, é perfeito, pois em muitas provas ele não podia correr mais rápido porque o guia não conseguia ser mais veloz”, comenta Ana Carolina. Segundo ela, a proposta abre possibilidades em muitas outras áreas do esporte, e não só para deficientes visuais. “É uma tecnologia que aumenta nossa capacidade sensorial.”
O trabalho envolve cerca de 40 profissionais e estudantes, provenientes de áreas distintas, como engenharia, matemática, linguística e sociologia. A meta dessa equipe multidisciplinar é aproveitar a visibilidade dos Jogos para divulgar a tecnologia, seja num evento-teste, seja na passagem da tocha olímpica. Porém, ainda não há uma demonstração oficial programada. Os Jogos Paralimpícos serão realizados no Rio de 7 a 18 de setembro.
Autor: Galileu