NA MÍDIA – Especialistas criticam falta de fiscalização a barragens em MG

O engenheiro Joaquim Pimenta Ávila, que foi projetista da barragem de Fundão, em Mariana (MG), criticou a fiscalização de órgãos públicos a barragens de rejeitos durante evento que discutiu a segurança destas instalações com engenheiros em São Paulo, nesta quarta-feira (9) .

Especialistas discutem segurança de barragens de dejetos em evento com engenheiros em São Paulo, nesta quarta-feira (9) (Foto: Karina Trevizan/G1)

A fiscalização, eu diria, sendo um pouquinho franco, não existe. O órgão fiscalizador em Minas Gerais não tem mais que três pessoas especializadas em barragens”, disse Ávila. 

“Existem 120 barragens em construção montante em Minas Gerais. Precisamos melhorar muito o monitoramento dessas barragens todas”, disse o engenheiro Alberto Ortigão, da ANE, no evento promovido pela ABMS no Instituto de Engenharia. 

Ele criticou a apuração das causas do desastre da Samarco, em Mariana (MG), por empresas contratadas pela própria Samarco, cujas donas são a Vale e a BHP Billiton. “Uma comissão independente deveria ser nomeada pelo governo”, disse.

“A maioria das pessoas que convidamos para vir aqui [ao debate] estão com obrigação de sigilo com a própria Samarco. Não podemos discutir livremente assim.”
Água acumulada
Os engenheiros apontaram a liquefação (excesso de água acumulada em rejeitos) como a principal causa de acidentes com barragens. Questionado sobre o motivo do acidente com a barragem da Samarco, Ávila disse: ‘lamento não ter a resposta’.

“As causas [de rompimentos com barragens] incluem situações já resolvidas pela tecnologia disponível”, afirmou Ávila.
A liquefação tem sido apontada como possível causa do desastre ocasionado pela barragem da Samarco em novembro, que causou a morte de 19 pessoas e deixou uma desaparecida.
O professor e engenheiro Alberto Ortigão também estava no debate e afirmou que foram feitos ensaios laboratoriais sobre liquefação “pouco tempo antes do acidente”. “Havia poucas indicações de possibilidade de liquefação”, disse.

Insegurança da barragem em montante
Ávila afirmou também que a disposição em montante não pode ser considerada o único motivo para que haja um rompimento desse tipo de estrutura, após outros engenheiros que participavam da discussão apontarem que a barragem em montante é a menos segura.

A barragem de Fundão é disposta em montante (com pequenos “montes” fazendo a função de conter rejeitos). Especialistas apontam que o esquema de barragem em jusante seria mais seguro.

“Dos quatro últimos acidentes com barragens em Minas Gerais, dois foram por montantes e dois por jusantes. Tem que proibir outras coisas, não o tipo de barragem”, disse Ávila. “O problema está na aplicação da tecnologia, na disciplina e no cuidado com o que se faz.”

O engenheiro Roberto Kochen, diretor do Instituto de Engenharia, discordou dessa posição. “Barragem em montante é bastante inseguro, deveria ser suprimido. Embora seja mais barato, é menos seguro”, defendeu.

Joaquim Pimenta Ávila, projetista da barragem de Fundão, em Mariana (MG): lamento não ter a resposta (Foto: Karina Trevizan/G1)

Autor: G1