Euclides Rodrigues Pimenta da Cunha foi uma “mente brilhante” – engenheiro, jornalista, historiador, poeta, escritor – a quem se pode atribuir o título de “polímata”, ou seja: “aquele que aprendeu muito”, cuja erudição e cultura o aproximavam do “homem universal” ou “homem renascentista” que se sobressai numa variedade de áreas do conhecimento.
Nasceu em Cantagalo, RJ, em 20 de janeiro de 1866, primeiro filho de Manuel Rodrigues Pimenta da Cunha, baiano, guarda-livros e poeta ¹ e de Eudóxia Moreira da Cunha, fluminense, filha de um pequeno plantador de café do Vale do Paraíba. Seus avós paternos foram Manuel da Cunha, português, estabelecido na Bahia nos começos do século XIX, proprietário do veleiro “Pestana”, utilizado para o trafico de escravos, casado com a cabocla sertaneja Teresa Maria de Jesus, dos quais Euclides herdou alguns dos traços que o faziam se autodefinir com ironia como “Um misto de celta, tapuia e grego”(…) ou “Da face de um tapuia, espantadíssima”(…) ou ainda “O mais triste, o mais pálido e o mais feio”(…). Aos três anos de idade perdeu a mãe, tuberculosa, doença que mais tarde também o afligiu em várias ocasiões. Viveu, junto com a irmã Adélia, num périplo nômade entre as residências de tios e avós, freqüentando diferentes escolas em Teresópolis, S.Fidelis, Salvador e Rio de Janeiro onde, finalmente, ingressou no Colégio Aquino. Ali escreveu seus primeiros poemas, publicou o primeiro artigo no jornal do colégio e foi aluno de Benjamin Constant, republicano histórico que exerceu importante influência em sua formação política e cultural.
– Com 19 anos ingressou na Escola Politécnica do Rio de Janeiro que cursou durante um ano e por motivos econômicos, no ano seguinte transferiu-se para a Escola Militar da Praia Vermelha, onde recebia soldo, alojamento e alimentação. É dessa época o poema “Amor algébrico” em que o jovem estudante de engenharia se queixa das agruras dos exercícios de cálculo infinitesimal (que engenheiro não sofreu com eles?) dizendo em irônicos versos: “Acabo de arrancar a fronte minha ardente/Das páginas cruéis de um livro de Bertrand” ² …”Acabo de estudar e pálido, cansado/D’umas dez equações os véus hei arrancado/”…
– Frequentou os cursos de Estado-Maior e Engenharia Militar, tendo como colegas, entre outros, Cândido Rondon e Lauro Muller e onde voltou a ser aluno de Benjamin Constant que o atraiu para os seus ideais positivistas ³ de dever, honra e “ordem que gera o progresso”. Além das disciplinas científicas como Cálculo, Química, Astronomia, Geodésia, Física, Mineralogia e outras, eram lecionadas matérias de cunho técnico como Topografia, Geologia, Pontes, Caminhos e Calçadas (estradas), Hidráulica, Canais e Portos, Diques e Comportas, Arquitetura Civil, Materiais de Construção e Orçamentos de obras. Ao longo da vida, Euclides foi um leitor voraz dos clássicos, entre outros, dos trágicos gregos, Ésquilo, Sófocles e Eurípides, da Divina Comédia de Dante, além dos dramas de Shakespeare, do romance de cavalaria, Ivanhoé (1820), do escocês Walter Scott, e da obra histórica do inglês Thomas Carlyle: “A Revolução Francesa” (1837), em que são criticados os abusos do poder revolucionário. Leu também os livros escritos sobre o Brasil, como as obras de Varnhagen, Morize, Caminhoá, Silvio Romero, Capistrano de Abreu, Teodoro Sampaio, Derby, Liais. Conheceu os trabalhos de naturalistas, exploradores, filósofos e historiadores como: Humboldt, Darwin, Martius, Spix, St.Hilaire, Hegel, Taine.
– Em 1888, contagiado pelo ardor republicano, fez protesto solitário durante revista às tropas, arrojando sua espada aos pés do então Ministro da Guerra Tomás Coelho, membro do último gabinete conservador da monarquia. Submetido ao Conselho de Disciplina e embora anistiado por D.Pedro II, teve sua matrícula trancada e foi desligado do Exército sob o pretexto de incapacidade física.
– Convidado, passa a escrever no jornal “A Província de São Paulo”, hoje “O Estado de São Paulo” e juntamente com outros partidários do ideal republicano, frequenta o efervescente ambiente da casa do major gaúcho Frederico Sólon Sampaio Ribeiro(1839-1900), onde conhece a filha, Ana Ribeiro, nascida em 1875 na cidade fronteiriça de Jaguarão (RS) no pampa riograndense. Coincidentemente Saninha, assim era chamada, era homônima de outra Ana Ribeiro (a catarinense Anita Garibaldi) e ambas, em suas épocas, foram mulheres corajosas, independentes, voluntariosas e apaixonadas que acabado o amor e transgredindo as leis e costumes da época, seguiram os impulsos do coração rompendo seus vínculos conjugais. Pagaram por isso um elevado preço: Anita, a vida nos alagadiços de Ravena, na Itália e Saninha, o vilipêndio e a condenação de parte da sociedade e da imprensa brasileiras.
– Proclamada a República, em que o major Sólon Ribeiro tem atuação singular 4 , Euclides da Cunha é reintegrado à Escola Militar da Praia Vermelha, graças ao apoio de seu mestre e novo Ministro da Guerra, Benjamin Constant, de Rondon e de seus colegas de turma. No ano seguinte, casa-se, talvez prematuramente, com Ana Ribeiro, ele com 24 anos, ela menina-moça com 14 anos. Euclides, na ocasião, já inconformado com os rumos da política, escreve no poema D.Quixote: “Porque há cousa pior: é o ir-se a pouco e pouco/ Perdendo qual perdeste um ideal ardente/ E ardentes ilusões e não se ficar louco”.
– Com a eclosão da 1ª revolta da Armada, liderada pelo Almirante Custódio de Melo contra o fechamento do Congresso, determinado por Deodoro, que renuncia, assume o poder seu Vice, o também alagoano, Floriano Peixoto, denominado o “Marechal de Ferro” ou o “Consolidador da República”.
– Euclides da Cunha graduou-se em 1892 como bacharel em Matemáticas, Ciências Físicas e Naturais obtendo, além da patente de 1º tenente, o cargo de Assistente de Ensino na mesma Escola Militar e recém-formado, recusa cargos públicos oferecidos pelo Mal.Floriano, aceitando apenas o previsto em lei -: o estágio de um ano na Estrada de Ferro Central do Brasil — trecho paulista da ferrovia, entre a capital e a cidade de Caçapava, onde depois trabalharia como engenheiro.
– Por ocasião da 2ª revolta da Armada sob o comando de Saldanha da Gama, contra o continuismo do Mal.Floriano, o major Sólon, depois general, sogro de Euclides, foi preso por suposto envolvimento na rebelião. O próprio Euclides, dentro do clima de suspicácia vigente e em virtude de ter escrito cartas publicadas na “Gazeta de Notícias”, do Rio, de protesto contra os pedidos de execução sumária dos prisioneiros políticos, proposta pelo senador florianista João Cordeiro, do Ceará, foi transferido para a pequena cidade mineira de Campanha (MG) para dirigir a construção de um quartel 5.
– Desencantado com a República e seus líderes, em 1896, contrariando as expectativas de seu sogro, abandonou a carreira militar e foi reformado como primeiro-tenente. No mesmo ano foi contratado pela Superintendência de Obras Públicas do Estado de São Paulo, onde trabalhou por cerca de sete anos como engenheiro-ajudante de 1ª classe e fiscal de obras, entre as quais uma ponte metálica em S.José do Rio Pardo, projeto do engenheiro Artur de Montmorency 6. Essa ponte, fabricada na Alemanha, chegou e foi montada no decorrer de 1897, ruindo 50 dias após a inauguração, em razão de excepcional cheia do Rio Pardo, no início de 1898.
Euclides, havia se licenciado da Superintendência de Obras para acompanhar o desenrolar da Guerra de Canudos no sertão da Bahia, como repórter do jornal “O Estado de São Paulo, para quem escrevera artigos de apoio à ação militar (A nossa Vendéia) 7.
– Euclides encontrou em Salvador o amigo, engenheiro de minas e historiador Henrique Praguer 8, profundo conhecedor da geologia do sertão nordestino, chegando ao arraial de Canudos ou Monte Santo em 16 de setembro de 1897, convencido de que a rebelião comandada pelo “fanático” Antonio Conselheiro 9 tinha o propósito de restaurar a monarquia como apregoavam as autoridades e a maior parte da imprensa do país. Deu-se conta do engano e mudou de opinião ao verificar “in loco” a miséria daquela pobre gente desde sempre explorada e desassistida, de descobrir a resiliência do sertanejo, de ouvir os relatos dos participantes da triste refrega e testemunhar a morte do Conselheiro, o massacre dos sobreviventes 10, o assalto e a destruição finais do vilarejo, a queima da igreja e das 5000 casas de Monte Santo. Ali surgiu a idéia de escrever “Os Sertões” “o livro vingador” ou como relataria mais tarde ao amigo Francisco de Escobar 11 “(…) Serei um vingador e terei desempenhado um grande papel na vida – o de advogado dos pobres sertanejos assassinados por uma sociedade pulha e sanguinária”.
No retorno a Salvador visita a família Henrique Praguer e escreve no dia 14/10/1897, no álbum da filha, a médica Francisca Praguer, o poema “Página vazia”, onde expressa o seu horror à chacina de Canudos que acabara de presenciar: “Quem volta da região assustadora/De onde eu venho, revendo inda na mente/Muitas cenas do drama comovente/Da guerra despiedada e aterradora(…).” Anos mais tarde (1905) fazendo parte da Comissão do Alto Purus, envia de Manaus ao amigo Dr.Praguer o poema “Se acaso uma alma se fotografasse” que em publicação do “Estado de São Paulo” apresenta uma “insólita surpresa” 12 pela divergência inexplicada entre as versões manuscrita e editada do mesmo.
Ponte e canteiro de obras de Euclides da Cunha em S.José do Rio Pardo
– Retomando as suas funções na Superintendência de Obras, Euclides, em começos de 1898, deixa temporariamente a vida de “engenheiro errante” e fixa residência em S.José do Rio Pardo, uma pacata cidade do interior de São Paulo, onde permanecerá com a mulher Anna e os filhos Sólon (6) e Euclides Fº (4), pelos próximos três anos, aceitando o seu “triste ofício de engenheiro”, rigoroso consigo e com os seus, dividido entre os trabalhos de reconstrução da ponte e a redação de “Os Sertões”. Escreveu também para “O Estado de São Paulo, uma resenha sobre o desenvolvimento do país entre 1800 e 1900, publicado no jornal na edição de 31/12/1900 sob o título “O Brasil no século XIX”. Concluídos o livro e a ponte e promovido a Chefe de Distrito de Obras Públicas em 1901, Euclides muda-se com a família, agora acrescida do filho Manuel Afonso, para Guaratinguetá e depois Lorena onde durante o triênio seguinte escreve artigos publicados nos jornais “O Estado de São Paulo” e “O País” alguns dos quais reunidos em livro (“Contrastes e confrontos”) e desenvolve intensa atividade no campo da engenharia.
– Segundo o historiador José Luiz Pasin, um dos principais pesquisadores da passagem do escritor pelo Vale do Paraíba, o acervo de realizações de Euclides da Cunha “inclui um total de 76 obras, entre pontes, escolas, cadeias e prédios municipais” das quais apenas duas são tombadas pelo Condephaat: as escolas Alfredo Pujol, em Pindamonhangaba e Flamínio Lessa, em Guaratinguetá. Outros trabalhos que tiveram participação de Euclides foram: o prédio escolar Lopes Chaves, de Taubaté, a ponte metálica de Santa Branca, as estradas que ligam Cunha à Guaratinguetá, Lorena ao Estado de Minas Gerais e Silveiras à Cachoeira Paulista.
– A grande batalha travada por Euclides da Cunha, na época, foi encontrar uma editora para a publicação de seu livro, já que para a imprensa o assunto perdera atualidade e interesse jornalístico e o volume da obra precursora (637 páginas) poderia representar um risco comercial apreciável mesmo contando com carta de recomendação do engenheiro Garcia Redondo, da Escola Politécnica de São Paulo e do apoio do influente crítico José Veríssimo.
Apenas a Editora Laemmert, do Rio de Janeiro aceitou o desafio de dividir metade do custo da primeira edição com o próprio Euclides, o qual, perfeccionista, além de empenhar seus parcos recursos, assumiu a ingente tarefa de corrigir à mão, durante quase um ano, minuciosa e meticulosamente, todos os 1200 volumes iniciais. A obra veio à luz em fins de 1902 e para surpresa de todos: autor, editor e críticos literários, obteve um sucesso extraordinário trazendo fama instantânea a Euclides da Cunha, que no dizer de Sílvio Romero “dormiu obscuro e acordou célebre”. Os Sertões se tornou um enorme sucesso de público e de crítica no Brasil com repercussões no exterior, com mais de 50 edições em língua portuguesa e traduções em pelo menos nove idiomas.
– Em 1903, aos 37 anos, foi eleito para a Academia Brasileira de Letras e tomou posse no Instituto Histórico e Geográfico de São Paulo. No ano seguinte deixa a Superintendência de Obras e passa a escrever artigos para os jornais abordando temas de atualidade, com a proposição de uma “guerra dos cem anos” contra as secas para erradicação da miséria no nordeste. O tema permanece atual, pois passado mais de um século e depois de recursos públicos aos milhões malbaratados na “indústria da seca” e na manutenção dos “currais eleitorais” das sesmarias políticas hereditárias, o “núcleo duro da pobreza no Brasil” ainda persiste endêmico no sertão profundo e nas favelas das grandes metrópoles pela incúria dos governos, a cupidez dos políticos e a inépcia congênita das autarquias oficiais e seus apadrinhados dirigentes.
– Euclides escreveu também sobre a questão dos conflitos de fronteira defendendo uma solução diplomática para definição dos limites territoriais do Acre, no Alto Purus, em razão do que foi convidado pelo Barão do Rio Branco, Ministro das Relações Exteriores, para chefiar, pelo lado brasileiro, a Comissão mista que demarcou de forma definitiva a fronteira do Brasil com o Peru. A missão ao alto Amazonas durou cerca de um ano e meio, até fevereiro de 1906, quando Euclides retorna ao Rio de Janeiro debilitado pela malária tornando-se adido ao Gabinete de Rio Branco. Escreve notas complementares sobre a história e geografia do Purus e sobre o conflito Peru-Bolívia e publica em Portugal o livro “Contrastes e Confrontos”. Trabalha nas especificações da ferrovia Madeira-Mamoré, mas recusa, com justa razão, o convite para fiscalizar a respectiva construção. Com a morte de Machado de Assis, preside temporariamente a Academia Brasileira de Letras, transferindo em seguida o cargo a Rui Barbosa. Por interferência de Coelho Neto e do Barão do Rio Branco junto ao Presidente Nilo Peçanha é nomeado professor de Lógica no colégio Pedro II do Rio de Janeiro, onde leciona por um curto período.
– No dia 15 de agosto de 1909, aos 43 anos, morre o engenheiro Euclides da Cunha, um dos maiores nomes da literatura brasileira de todos os tempos, num confronto temerário e fatal com o tenente Dilermando de Assis 13 , amante de sua mulher, em cuja casa ela e os filhos se haviam refugiado. Invertendo o conceito de que “a arte imita a vida” a biografia de Euclides foi uma saga cujo roteiro a faz assemelhar-se a uma tragédia de Ésquilo, no sentido original do teatro clássico grego. Teve início com a perda da mãe na infância, seguida pela resistência heróica às vicissitudes da saúde frágil, os desencontros políticos e desafios profissionais, a glória literária e a quase idolatria de seus admiradores, a incompreensão de muitos, o respeito e orgulho da nação, o drama pessoal e enfim, o amargo desfecho novelesco, sempre explorado pela mídia, com as terríveis seqüelas que os fados lhe impuseram 14. Os homens são falíveis, a vida é efêmera, mas as obras de arte são eternas e por serem sempre atuais, sobrevivem e perenizam a memória de seus criadores e realizadores.
“Os sertões”
Os Sertões é a magnum opus ou opera magna de Euclides da Cunha, que significa a obra máxima ou a maior e mais renomada de um autor. De forma análoga poderiam ser citadas como as magnum opus de vários autores célebres: O Príncipe de Maquiavel, a ópera O Guarani de Carlos Gomes, o filme Deus e o Diabo na Terra do Sol de Glauber Rocha(também baseado na tragédia de Canudos), os Lusíadas de Camões, a Gioconda de Leonardo da Vinci, a Divina Comédia, de Dante Alighieri e outras mais.
Segundo Roberto Ventura 15 , em pesquisa feita em 1994, com 15 intelectuais pelo jornalista Rinaldo Gama, da revista Veja, o livro foi apontado como o mais importante da cultura brasileira. A obra de Euclides recebeu um total de 15 votos, seguida de Casa-Grande & Senzala (1933), de Gilberto Freyre, com 14, e Macunaíma (1928), de Mário de Andrade, com 11. Machado de Assis foi, porém, o escritor mais votado, e o único a figurar na lista com duas obras: Memórias Póstumas de Brás Cubas (1881) e Dom Casmurro (1899).
– Traduzido para o inglês como “Rebellion in the Backlands” dele diz a Encyclopædia Britannica: “Talvez o livro mais importante da literatura brasileira (…) que é ao mesmo tempo um relato histórico da rebelião de um grupo de fanáticos religiosos contra a recém proclamada república e um brilhante estudo do árido sertão nordestino”. Comenta ainda a EB: “Os turbulentos anos que se seguiram à abolição da escravatura no Brasil, em 1888 e a proclamação da República em 1889, trouxeram à tona, na virada do século, a uma série de angustiantes questões para as quais os brasileiros mais esclarecidos buscavam respostas, na análise da problemática de sua pátria como o derivativo natural de um extraordinário amálgama entre o homem, a terra e o clima. Coube a um engenheiro militar e jornalista, Euclides da Cunha (1866-1909) desvendar os verdadeiros fundamentos da brasilidade criando com o indescritível épico “Os Sertões” uma obra que é considerada a bíblia da nacionalidade brasileira. O autor e sua obra se transformaram em ícones da nação”. E mais sobre a obra pioneira: “Foi a primeira manifestação escrita em favor do Brasil dos excluídos – a pedra angular de todos os estudos que – independentemente da forma – a sucederam, buscando revelar as potencialidades e debilidades da nação. Euclides da Cunha centralizou o foco de – Os Sertões – na figura que emerge do Brasil profundo, o sertanejo”.
Os aspectos literários, estilísticos, linguísticos, ficcionais, psicológicos e científicos de “Os Sertões” foram analisados por críticos e especialistas competentes que ao longo dos últimos 100 anos se debruçaram sobre essa obra precursora e estão disponíveis na vastíssima bibliografia existente, não sendo objeto desta resenha.
Euclides, no preâmbulo do livro, definiu o fio original da obra e as premissas de sua estrutura como um libelo e uma retratação de um erro histórico similar ao “J’accuse” (1898) de Émile Zola 16 : “Aquela campanha lembra um refluxo para o passado. E foi, na significação integral da palavra, um crime. Denunciemo-lo.” E o faz buscando contar a história verdadeira de Canudos, diversa das versões oficiais propaladas pela mídia: ”E tanto quanto o permitir a firmeza do nosso espírito façamos jus ao admirável conceito de Taine 17 sobre o narrador sincero que encara a história como ela o merece (em tradução livre)-“ele se irrita contra as meias verdades que são meias mentiras, contra os autores que não modificam sequer uma data ou uma genealogia, mas deturpam os sentimentos e os costumes, que preservam o contorno dos acontecimentos e lhes alteram a cor, que copiam os fatos e lhes desfiguram a alma: ele quer sentir-se como bárbaro entre os bárbaros e ancião entre os anciões.””- (Os Sertões, Nota Preliminar). Conclui preconizando uma solução para o resgate da miséria que desde sempre assola o sertão: ” Decididamente era indispensável que a campanha de Canudos tivesse um objetivo superior à função estúpida e bem pouco gloriosa de destruir um povoado dos sertões. Havia um inimigo mais sério a combater, em guerra mais demorada e digna. Toda aquela campanha seria um crime inútil e bárbaro, se não se aproveitassem os caminhos abertos à artilharia para uma propaganda tenaz, contínua e persistente, visando trazer para o nosso tempo e incorporar à nossa existência aqueles rudes compatriotas retardatários”.
Segundo o método de Taine que consistia em fazer história e compreender o homem à luz de três fatores: meio ambiente, raça e momento histórico, Euclides da Cunha dividiu “Os Sertões” em 10 capítulos e três partes:
A terra (58 pgs.)
Nela descreve de forma científica e ás vezes poética, sempre buscando o adjetivo insólito e a palavra exata, a flora, as caatingas, a formação e evolução geológica, a hidrografia e a conformação orográfica do sertão nordestino. Estuda a influência do tempo, da chuva ácida e do clima da região expondo uma teoria sobre as secas, a formação de desertos e sugere maneiras de combatê-los.
O homem (149 pgs.)
Põe em evidência o autoctonismo do “homo americanus” e considera a influência da variabilidade mesológica nos três elementos essenciais de nossa formação étnica, o branco, o negro e o índio, dando origem às sub-raças mestiças do Brasil. Daí a heterogeneidade racial brasileira acentuada pela vinda dos emigrantes que vieram substituir o trabalho escravo. Mostra a gênesis dos vários tipos de brasileiros como o jagunço, os vaqueiros que se insularam nas regiões do interior, o sertanejo, o gaúcho e a religiosidade mestiça que alimentam. Conclui que as agitações sertanejas são baseadas no fanatismo que seria o caso de Canudos. Ele escreve: “O sertanejo é, antes de tudo, um forte” e em relação aos críticos que o acusavam de incoerência dizendo de um lado ” Não temos unidade de raça. Não a teremos, talvez nunca” (pág. 70) e a proposição de que “em Canudos se atacava a rocha viva de nossa raça” (pág. 616) responde, no prefácio da 2ª edição: “Quer dizer que neste composto indefinível — o brasileiro — encontrei alguma coisa que é estável, um ponto de resistência recordando a molécula integrante das cristalizações iniciadas. E era natural que, admitida a arrojada e animadora conjetura de que estamos destinados à integridade nacional, eu visse naqueles rijos caboclos o núcleo de força da nossa constituição futura, a rocha viva da nossa raça.”
A luta (439 pgs.)
Relata em vários capítulos as 5 expedições do Exército contra o arraial de Canudos envolvendo cerca de 18000 soldados, por um período de aproximadamente um ano (10/1896-09/1897), num crescendo de violência e vandalismo concluídos com a morte do Conselheiro e a destruição total de Monte Santo. Reunindo seus conhecimentos militares e aptidões poético-literárias Euclides analisa as estratégias e táticas das lutas, descreve o teatro das operações e as reações dos combatentes, e mantém a tensão da narrativa que culmina com seu épico e trágico final.
Euclides da Cunha e a ecologia
A perenidade e atualidade de Euclides ficam patentes em “Os Sertões” ao abordar a ação do homem como agente modificador da natureza, a influência do desmatamento sobre o clima, a chuva ácida como resultado das queimadas, a variação dos ciclos hidrológicos dos rios. Ouçamo-lo:
“Esquecemo-nos, todavia, de um agente geológico notável — o homem. Este, de fato, não raro reage brutalmente sobre a terra e entre nós, nomeadamente, assumiu, em todo o decorrer da história, o papel de um terrível fazedor de desertos. Começou isto por um desastroso legado indígena. Na agricultura primitiva dos silvícolas era instrumento fundamental — o fogo. Cultivavam-na. Renovavam o mesmo processo na estação seguinte, até que, de todo exaurida, aquela mancha da terra fosse, imprestável, abandonada em caapuera — mato extinto — como o denuncia a etimologia tupi, jazendo dali por diante irremediavelmente estéril(…) Veio depois o colonizador e copiou o mesmo proceder. Engravesceu-o ainda com o adotar, exclusivo, no centro do país, fora da estreita faixa dos canaviais da costa, o regime francamente pastoril. Abriram-se desde o alvorecer do século 17, nos sertões abusivamente sesmados, enormíssimos campos, compáscuos sem divisas, estendendo-se pelas chapadas em fora. Abria-os, de idêntico modo, o fogo livremente aceso, sem aceiros, avassalando largos espaços, solto nas lufadas violentas do nordeste. Aliou-se-lhe ao mesmo tempo o sertanista ganancioso e bravo, em busca do silvícola e do ouro. Ora, estas selvatiquezas atravessaram toda a nossa história. Imaginem-se os resultados de semelhante processo aplicado, sem variantes, no decorrer de séculos…”
Como um dos primeiros ecologistas, intelectualmente honestos, que buscam consciente e cientificamente a causa dos problemas e as maneiras corretas de mitigá-los ele escreve:
“ Como se extingue o deserto.
Quem atravessa as planícies elevadas da Tunísia, entre Beja e Biserta, à ourela do Saara, encontra ainda, no desembocar dos vales, atravessando normalmente o curso caprichoso e em torcicolos dos oueds 18 , restos de antigas construções romanas. Os romanos depois da tarefa da destruição de Cartago tinham posto ombros à empresa incomparavelmente mais séria de vencer a natureza antagonista. E ali deixaram belíssimo traço de sua expansão histórica. Perceberam com segurança o vício original da região, estéril menos pela escassez das chuvas do que pela sua péssima distribuição adstrita aos relevos topográficos. Corrigiram-no. O regime torrencial que ali aparece intensíssimo em certas quadras, determinando alturas pluviométricas maiores que as de outros países férteis e exuberantes, era, como nos sertões do nosso país, além de inútil, nefasto.”
“As ravinas recortando-se em gânglios estagnados dividiram-se em açudes abarreirados pelas muralhas que trancavam os vales, e os oueds, parando, intumesciam-se entre os morros, conservando largo tempo as grandes massas líquidas, até então perdidas, ou levando-as, no transbordarem, em canais laterais aos lugares próximos mais baixos, onde se abriam em sangradouros e levadas, irradiantes por toda a parte, e embebendo o solo. De sorte que este sistema de represas, além de outras vantagens, criara um esforço de irrigação geral. Ademais, todas aquelas superfícies líquidas esparsas em grande número e não resumidas a um Quixadá único — monumental e inútil — expostas à evaporação, acabaram reagindo sobre o clima, melhorando-o. Foi o celeiro da Itália; a fornecedora quase exclusiva, de trigo, dos romanos.”
“Não há alvitrar-se outro recurso. As cisternas, poços artesianos e raros, ou longamente espaçados lagos como o de Quixadá, têm um valor local, inapreciável. Visam de um modo geral, atenuar a última das conseqüências da seca — a sede; e o que há a combater e a debelar nos sertões do Norte — é o deserto. O martírio do homem, ali, é reflexo de tortura maior, mais ampla, abrangendo a economia geral da Vida.”
“Nasce do martírio secular da terra…”
Em artigo do jornalista Washington Novaes no jornal “O Estado de São Paulo” (30/10/2009) sob o título “A verdade única da transposição” o mesmo comenta que “o problema de água nas regiões a serem beneficiadas não era de escassez, e sim de má gestão – pois existem ali, em 70 mil açudes, nada menos que 37 bilhões de metros cúbicos (m³) de água (sem redes que os distribuam) quando a transposição levará 2,1 bilhões de m³, mas também sem redes de distribuição para as áreas isoladas, mais carentes. Nada menos que 70% da água se destinará a projetos de irrigação e 26% ao abastecimento de cidades”. “Além do mais, a disponibilidade de água no Nordeste setentrional é de 220 m³ por segundo, para um consumo humano e industrial de 22m³/s; e será de 131m³/segundo o consumo na irrigação previsto no projeto (226 mil hectares).” “….a transposição atenderá a menos de 20% da população do Semiárido e 40% continuarão sem água. Para esses milhões de pessoas em áreas isoladas, a alternativa ideal está nas cisternas de placa 19 , das quais já se construíram mais de 200 mil, a um custo muito menor.”
Se vivo fosse, Euclides da Cunha certamente não aprovaria o projeto de Transposição do rio São Francisco nos moldes em que está sendo realizado.
Miracyr Assis Marcato
01/2016
OBSERVAÇÕES
1 – O pai, Manuel da Cunha era admirador do conterrâneo Castro Alves e teve um de seus poemas publicados juntamente com a 2ª edição de “Espumas Flutuantes” do vate baiano.
2 – Joseph Bertrand – matemático francês (1822-1900).
3 – Doutrina de orientação cientificista do filósofo francês Augusto Comte (1798-1857).
4 – Diz-se que buscando antecipar e garantir a participação do Mal.Deodoro, que se encontrava acamado, na iniciativa de deflagrar a Proclamação da República, o major Sólon, por inspiração de Quintino Bocaiúva e outros republicanos, consegue esse objetivo divulgando falsos boatos da iminente prisão do próprio Marechal e de Benjamin Constant e da intenção do Imperador de nomear como 1º Ministro a Silveira Martins, desafeto do Mal.Deodoro desde a juventude, quando ambos disputaram o amor de uma bela viúva, a Baronesa do Triunfo. O major Sólon foi também o portador, no dia 16/11/1889, da carta de exílio de D.Pedro II e segundo alguns, da oferta do Governo (Rui Barbosa) de uma indenização de 5 mil contos de reis, recusada pelo mesmo, que pediu apenas uma almofada preenchida com terra do Brasil para “repousar a cabeça quando morresse”. O Imperador faleceu em Paris a 5/12/1891.
5 – Segundo o ex- Ministro da Defesa, Nelson Jobim, em depoimento no Senado, a Marinha, desde então, teria “ficado confinada nos fundos da baia da Guanabara”, fato que estaria sendo corrigido com o plano de reaparelhamento da frota que previa, entre outras aquisições, a implantação de um novo estaleiro e uma base para submarinos no litoral fluminense. O acordo estabelecido com a França inclui a transferência de tecnologia para construção do casco do futuro submarino nuclear brasileiro(US$ 1 bilhão) previsto para entrar em serviço a partir de 2020, cujos sistemas de propulsão e eletrônica embarcada estão em fase de desenvolvimento e atualização no Centro Experimental de Aramar da Marinha em Iperó (SP).
6 – Artur de Montmorency , nascido no Rio de Janeiro, era um engenheiro civil experiente, formado na Universidade de Gand (Bélgica) que havia trabalhado com Ramos de Azevedo e na Companhia Mogiana de Estradas de Ferro em São Paulo.
7 – Revolta de 1793 dos camponeses católicos das regiões da Vendéia (Poitou), Bretanha e Anjou (França) contra a Revolução Francesa, relatada no romance “Noventa e três” (1874) de Victor Hugo e na “História da Revolução Francesa” de Jules Michelet.
8 – Heinrich Haberfeld, (1837-1906) foi um engenheiro de origem judaica, nascido em Zagreb (Croácia), que fugindo de perseguições políticas, emigrou para o Brasil e adotando o nome de Henrique Praguer , estabeleceu-se na Bahia, onde iniciou a prospecção de jazidas de pedras preciosas e outros minerais: mercúrio, manganês, caulim, etc., executou inúmeras obras públicas (edifícios, ferrovias, portos) e casou-se em 1867 com Francisca Rosa Barreto, natural de Cachoeira (BA), uma precursora do feminismo na Bahia. Sua filha, Francisca Barreto Praguer,(1872-1931) uma das primeiras médicas formadas no Estado (1893), foi também uma feminista e defensora dos direitos de saúde da mulher. Casou-se, em 1899, com João Américo Garcez Fróes, seu ex-colega de Faculdade, adotando o nome de Francisca Praguer Froes.
9 – Antônio Vicente Mendes Maciel (1830-1897), mais conhecido como Antonio Conselheiro era um cearense de Quixeramobim, que fora comerciante, professor, advogado prático e que, traído pela mulher, perambulou pelo sertão durante 25 anos, vestido com uma túnica de algodão, barba e cabelos crescidos, cajado na mão, tornando-se um pregador carismático, um taumaturgo messiânico e um profeta “do fim do mundo” que atraia as multidões. Euclides comentou ironicamente em “Os Sertões” a sua misoginia: “A beleza era-lhes a face tentadora de Satã. O Conselheiro extremou-se mesmo no mostrar por ela invencível horror. Nunca mais olhou para uma mulher. Falava de costas mesmo às beatas velhas, feitas para amansarem sátiros”. Estabeleceu-se em Canudos (BA), um pequeno povoado à margem do rio Vaza Barris em 1893, onde reuniu cerca de 25.000 seguidores. Passou a criticar a separação entre Igreja e Estado, a cobrança forçada de impostos, o casamento civil e as injustiças sociais causando reações contrárias de políticos, latifundiários, Igreja e imprensa que o qualificaram como “perigoso monarquista” a serviço de potências estrangeiras.
10 – A hedionda degola dos prisioneiros, usual nas pelejas e entreveros da Revolução Farroupilha, nas lutas em defesa das fronteiras sulinas do país, não foi primazia dos batalhões gaúchos, pois segundo o escritor L. F.Veríssimo e contrariando o código de honra dos cavaleiros medievais, foi também praticada pelos ingleses contra os franceses após a batalha de Agincourt (1415) como referido na peça Henrique V de Shakespeare. Por outro lado a barbárie continua presente nas guerras e guerrilhas modernas com o absurdo incremento das fatalidades entre civis, mulheres e crianças indefesas (que eram de 5% nas “guerras heróicas” e hoje somam 95%), como se observa nos conflitos recentes que ainda assolam o nosso mundo atual.
11- Francisco Escobar(1865-1924) foi um advogado, administrador, político, intelectual e senador mineiro, natural de Camanducaia, dono de vastíssima erudição e cultura, leitor dos clássicos greco-latinos no original, possuidor de uma biblioteca com um acervo de mais de 7000 volumes. Foi intendente municipal de São José do Rio Pardo entre 1896 a 1899, período em que conheceu Euclides da Cunha com quem estabeleceu sólida amizade e do qual foi incentivador solícito, ouvinte atento e conselheiro atencioso nas leituras que o próprio Euclides lhe fazia, de trechos dos “Sertões” que então estava escrevendo.
12 – No Caderno 2 – Cultura – em homenagem a Euclides da Cunha, edição Especial do “Estadão”de 23/08/2009 foi publicada, na parte superior da página H8, tendo como fonte a Editora Unesp, a cópia manuscrita do cartão original do mesmo contendo os versos “Meu caro Doutor Praguer! Com certeza/Te assaltaria a máxima surpresa/” (…) que na versão editada, na parte inferior da mesma página, aparece como: “Poeta! Tu terias com certeza/A mais completa e insólita surpresa”(…) desaparecendo a citação ao Dr.Praguer, o amigo de Euclides. Quem e por qual razão teria modificado os versos originais? Fica a pergunta e a dúvida.
13 – Dilermando de Assis era um jovem e louro cadete gaúcho de 17 anos que conheceu Saninha, então com 30 anos, na pensão Monat, no Rio, onde ela e os 3 filhos viveram durante a longa viagem de Euclides ao Alto Amazonas. Apaixonaram-se. Na volta Euclides encontrou Saninha grávida de um filho de Dilermando, Mauro, que faleceu recém-nascido, de inanição, segundo se conta. Em novembro de 1907 nasce o filho Luiz que anos mais tarde mudaria o sobrenome para Assis. No fatídico dia 15/08/1909 Euclides, transtornado, invade a casa de Dilermando e descarrega a arma que portava contra ele e o irmão Dinorah, atleta que ficou paraplégico e mais tarde se suicidou. Dilermando ferido revidou e atingiu Euclides, mortalmente. Foi julgado e absolvido em 1911 casando-se em seguida com Ana. Tiveram mais três filhos.
14 – Em maio de 1916, Sólon, o filho mais velho de Euclides, afilhado do Mal.Rondon e delegado no Acre, foi assassinado numa tocaia, na floresta. Em julho do mesmo ano, Euclides Filho, querendo vingar a morte do pai, alveja Dilermando que em resposta também o mata, sendo novamente absolvido. Em 1926, Ana separou-se de Dilermando ao surpreendê-lo com outra mulher e passa a servir marmitas e quitandas para manter a família. Voltaram a ver-se somente no leito de morte de Ana que faleceu de câncer pulmonar no dia 12 de maio de 1951, aos 76 anos. Dilermando, então general, esteve presente nos seus momentos finais e morreu de infarto nesse mesmo ano. R.I.P.
15 – Roberto Ventura foi professor de teoria literária e literatura comparada na USP. Especializado na obra de Euclydes da Cunha, o pesquisador morreu em 2002, aos 45 anos, em um acidente de carro.
16 – Emile Zola (1840-1902), escritor francês, líder da escola naturalista, denunciou o erro histórico do julgamento do oficial franco-israelita Alfred Dreyfus, condenado em 1894 sob a acusação de espionagem, libertado em 1899 depois de violenta campanha da imprensa e finalmente reabilitado em 1906.
17- Hippolyte Taine (1828-1893), filósofo, historiador e crítico francês.
18 – Oued – Palavra de origem árabe que significa “curso d’água”. Nas regiões áridas é um curso d’água temporário que pode se transformar em torrente.
19 – Cisterna cilíndrica semi-enterrada constituída de calotas curvas de concreto.
Autor: Miracyr Assis Marcato