Em 1858, os membros do Parlamento inglês debatiam em salões com cortinas encharcadas de um composto à base de cal, artifício usado para amenizar o fedor do esgoto que era o rio Tâmisa.
O cheiro era tão insuportável que quase fez a sede do governo inglês mudar temporariamente de endereço e, principalmente, forçou Londres a tirar da gaveta um ambicioso projeto de construir uma rede de esgoto na então maior cidade do mundo.
Um século e meio depois da obra, Londres busca dar mais um passo para livrar de vez o Tâmisa do esgoto da cidade que não para de crescer.
Um conjunto de túneis está sendo construído no subsolo para receber cerca de 39 milhões de toneladas anuais de dejetos que costumam ir para o rio em dias de chuva.
Na cidade de Londres, o sistema de esgoto foi desenhado no final do século 19, com canos que pudessem receber tanto os dejetos das casas como a água da chuva, diferentemente do Brasil.
Em dias secos, Londres capta e trata 100% de seu esgoto (em São Paulo, esse índice é de apenas 68%; a maior parte do excedente é despejada no Tietê).
“O problema é que hoje a cidade está muito maior e, quando ocorrem chuvas, a tubulação enche muito mais rapidamente e o esgoto é despejado no rio”, diz o professor da universidade federal gaúcha, Carlos Tucci.
O esgoto, que só deveria ir para o rio uma vez ao ano, hoje cai no Tâmisa cerca de 50 vezes ao ano. É aí que entra o novo sistema em construção.
O objetivo é construir um grande túnel sob o leito do rio Tâmisa. Chamado de TideWay, o túnel deverá ter 25 km de extensão e mais de sete metros de diâmetro.
O valor do projeto é de 4,2 bilhões de libras (R$ 24 bilhões). O custo é o principal alvo das críticas à empreitada, que já recebeu licenciamento. O projeto deverá ser entregue em 2020.
Já São Paulo ainda engatinha para revigorar o rio Tietê —diante da crise hídrica, a Sabesp decidiu congelar a maioria de seus investimentos em esgoto. Um desses cortes deve frear justamente a criação de um túnel sob o rio Tietê que deveria diminuir a quantidade de esgoto no rio mais famoso de São Paulo.
Autor: Jornal de Floripa