Centro Democrático dos Engenheiros

Uma coisa impressionante, ao reler o Manifesto que deu origem ao nosso CDE, o que realmente choca é a semelhança da situação ali descrita e a atual. A diferença fica apenas na ênfase dada a certos fatos que hoje poderia ser “um pouco” diferente. Quando digo “um pouco” quero dizer pouco mesmo, muito pouco pois os fatos em si estão todos lá quase iguais aos nossos problemas atuais: desmando, irresponsabilidade, incompetência, demagogia barata, difamação dos contrários, calunias e mentiras, chamamento a reformas ilusórias e impraticáveis, está tudo bem descrito no Manifesto à Nação com uma acachapante atualidade! 

Não há sequer uma referência aos problemas que ocorriam naquela época, Novembro de 1963, que não estejam, ainda hoje, ocorrendo a farta. Inclusive a inflação e as arremetidas contra a Constituição. Vale uma nova leitura desse Manifesto, uma verdadeira obra de arte, porém despertador de um sentimento de tristeza por constatarmos que, após 51 anos, continuamos na mesma! Chegamos até a sair desse buraco mas, pelos motivos acima, retornamos a ele novamente! Agora temos que sair de novo e para isso precisamos nos unir e esse é o motivo que o CDE vem a público reiterar a convocação de 19 de Novembro de 1963: analisem os fatos e “Os que nos julgam no caminho certo, venham conosco”! 

Mas mesmo os que discordam, venham conosco também, em busca de um caminho que nos ajude a buscar o melhor para todos. 

Nelson Newton Ferraz
Presidente do CDE 

MANIFESTO À NAÇÃO 

Documento publicado em 19 de Novembro de 1963 que determinou a fundação do Centro Democrático dos Engenheiros 

A NINGUÉM escapa a gravidade da situação nacional. O panorama político, administrativo, econômico, social da nossa Pátria é de molde a desalentar as mais teimosas esperanças. Um clima de insegurança e de mistificação envolveu de tal modo as instituições e os cidadãos, que todos temem pelo dia de amanhã.

Todos temem pela sorte do regime democrático, da liberdade que ele comporta e garante, e do patrimônio de tradições cívicas, de costumes e de fé, ameaçado, de maneira crescente e sempre mais violenta, pela demagogia que explora os problemas e as dificuldades do povo.

Agitadores servem-se dos demagogos e dos oportunistas para agravar a situação. Agravando-a, poderão levar o País ao caos e abrir as portas a um regime que submeta os cidadãos ao arbítrio do Estado e elimina os seus grupos representativos.

É a técnica do solapamento e de desmoralização que atua pela infiltração, sorrateira ou ostensiva, nos postos-chaves do Govêrno e nas posições de comando de grandes setores do organismo nacional. Seu resultado tem sido, em outras partes do mundo, o esmagamento de tradições democráticas tão arraigadas quanto as nossas.

A tática do ridículo e da desmoralização através de qualificações infamantes visa a confundir o povo e apresentar a sua execração exatamente os que não querem permitir que o País se entregue. Pelo envolvimento e pela intimidação, a maioria é amordaçada e isolada as vozes dos que se dispõem a reagir.

O apelo insincero a certas reformas – reformas que esses “reformadores” procurarão evitar a todo custo, pois a existência e o agravamento das dificuldades nacionais constituem para eles o melhor caldo de cultura revolucionária – tem em vista iludir a boa fé do povo, induzindo-o a acreditar que nessas reformas estará a sua única salvação.

A maioria está sendo intoxicada pela mentira e impostura; esmagada pelo custo da vida; intimidada pela desordem generalizada; exasperada pela ausência de autoridade. Aturdida, assiste às arremetidas contra o regime, contra a Constituição que o rege e contra as instituições representativas em que ele se alicerça.

Quem tem olhos de ver, veja! Quem tem ouvidos de ouvir, ouça! não há cego pior do que aquele que, possuindo olhos, recusa-se a enxergar, nem pior surdo do que aquele que fecha os ouvidos, à voz da consciência e se deixa embalar na esperança de que o patriotismo dos outros acaba por salvá-lo, redimindo-o da sua incúria e da sua omissão.

Nossa mensagem, entretanto, é de esperança.

A esmagadora maioria do povo brasileiro é democrata.

A esmagadora maioria dos brasileiros não quer a revolução.

A esmagadora maioria de nossa gente deseja paz para o trabalho, escola para os filhos, liberdade para amar a Deus e praticar sua religião.

A democracia, a verdadeira democracia, tão bela em seus propósitos, tão completa em sua justiça, tão generosa em seus benefícios, quando realizada irá satisfazer aos mais caros ideais de felicidade. O caminho é porém árduo, muito árduo mesmo. Tudo dependerá, entretanto, da coragem e do esforço de todos, na medida da formação e da aptidão de cada um.

Engenheiros de profissão, em permanente contato com as mais humíldes camadas da população, sentimos os seus anseios, vivemos os seus dramas, conhecemos a sua formação democrática e o seu espírito cristão. Somos homens da técnica e sabemos que o mundo novo está surgindo ao impulso das conquistas técnico-científicas. Mas os progressos da ciência e da técnica nunca se hão de opor ao homem e aos seus valores espirituais. Ao contrário, só terão sentido se se puserem ao seu serviço, como instrumento da liberdade e fecundo auxiliar da justiça e da fraternidade.

Os povos não carecem de capatazes. Necessitam, isto sim, de líderes conscientes do seu papel e da sua imensa responsabilidade política e social. Que os mais capazes façam ouvir sua voz, participem efetivamente do processo político nacional e, assim, possam assegurar a indispensável renovação dos atuais quadros políticos do País, tão modestos em valores morais, intelectuais e cívicos.

Essa a razão pela qual, depois de termos denunciado, em princípios deste ano, o clima de desordem e demagogia que se estava criando no País, voltamos a falar a todos os brasileiros. Decidimos, agora, organizar-nos numa entidade forte e atuante. “CENTRO DEMOCRÁTICO DOS ENGENHEIROS”, que reunirá todos os elementos democráticos da classe e conclamará os profissionais de todas as outras especialidades para a tarefa comum – a solução dos graves problemas brasileiros dentro da ordem, da justiça, da democracia e dos princípios cristãos.

Os que nos julgam no caminho certo, venham conosco.

Preferimos acender uma luz, ainda que tênue, a estar estèrilmente amaldiçoando a escuridão. Os que, entretanto, desejam levar o povo ao desespero, e o País ao caos, nos terão pela frente, num combate implacável e sem quartel.

São Paulo, 19 de novembro de 1963.

Convite 

Autor: Nelson Newton Ferraz – Presidente do CDE