Adam Smith, em pleno mercantilismo, escreveu a obra clássica da teoria econômica “A Riqueza das Nações”, onde destacava que a somatória da produção de bens em um país é especialmente decorrente do interesse individual ou self-interest.
Portanto um mercador, por consequência da busca pelo lucro individual, gera o crescimento econômico da nação.
Partindo do princípio que esta linha de pensamento econômico continua válida até hoje, temos que atualizar o entendimento dos três conceitos: mercador, lucro e crescimento econômico.
O termo mercador, hoje atualizado, é representado por todo empresário que industrializa ou comercializa bens e serviços de qualquer espécie.
Contudo, se consideramos o brilhantismo iluminado de Smith, e caso ele estivesse vivo, teríamos que imaginar que hoje estaria se inspirando em profissionais ou “mercadores de ponta”, como Zuckeberg (Facebook), Gates (Microsoft), Bezos (Amazon) ou Tony Hsieh (Zappos).
Certamente Smith teria longas conversas, quase que diariamente, com Philip Kotler, utilizando o iphone ou o whatsapp. Provavelmente teria ido até no enterro de Peter Drucker, pois ao longo da vida teriam discutido muito sobre economia e gestão de empresas modernas. E em razão do seu olhar futurista, Smith teria certamente toda a coleção “The Beatles”, inclusive os LP’s originais, por saudosismo da visão futurista de Lennon sobre os direitos civis e a liberdade, válidos até hoje.
Desses ícones da era moderna citados, todos sem exceção fixaram seu olhar muito além do momento presente de suas vidas e por isso nasceram grandes.
Muitas outras empresas porém, todas dignas de respeito, nasceram normais com seus ideais mercantilistas e cresceram com muito esforço e trabalho centrado especialmente em vendas, e tornaram-se grandes, construindo uma história de sucesso em décadas de esforços, as vezes mantidos por sucessivas gerações. Expandiram seus horizontes, numa visão imediatista, com o olhar na eficiência da utilização de recursos, focando no lucro e redução de despesa, despreocupando-se com o rastro da produção. Era o olhar no presente e de forma correta, pois o foco era industrial, até para recompor os estragos que as 2 Grandes Guerras mundiais haviam causado no planeta. Apesar de Samuelson nos anos 50, ter classificado o PNB de Poluição Nacional Bruta, este era o modus operandi para corrigir as décadas perdidas.
Outras empresas porém nasceram grandes na composição do seu DNA.
E para nascer grande, ou tornar-se grande hoje, há que se considerar o duro caminhar da humanidade do mercantilismo até os dias atuais, porém olhando para um ponto imaginário que não é visível a olho nu, uma espécie de Terra do Nunca. Esta empresa atualizada, neste mercado diferente, teria em nossa tela mental um gestor Adam Yoda Smith, virtual ou espiritual, que mistura os mais diversos conceitos de empresas vencedoras.
A Zappo’s, por exemplo, entende que a empresa tem que ser “Uau”, ou seja causar frisson. E para tal existe um “Decálogo Interno Uau”, criado pelo fundador, que orienta seus funcionários a tomar uma série de atitudes, sendo o Mandamento N.º 9: “construa relacionamentos abertos e honestos”.
Já a Microsoft, através da Fundação Bill e Melinda Gates, está gerindo cerca de US$ 38 bilhões em ações humanitárias, especialmente contra doenças, uma atividade que nada têm a ver com a empresa.
E assim outros empresários criaram seus próprios métodos de gestão, a sua própria Terra do Nunca, no entendimento do lucro, e missão dos negócios, com conceitos que as vezes diferem da maioria.
Para Muhammad Yunus, o banqueiro indiano dos pobres, Nobel da Paz em 2006, a missão do Banco Grammen, é praticar juros sociais, somente emprestando para pobres, sendo 97% mulheres por serem melhores pagadoras. Sua carteira de empréstimo soma acumulado algo em torno de U$$ 6 bilhões, mantendo taxas de inadimplência de 1.5%, de causar inveja a qualquer banco fora da Terra do
Nunca. Nesta linha de pensamento diferenciado da maioria, vale destacar Peter Drucker, guru do século passado, que citou com ousadia que uma empresa que objetiva o lucro pelo lucro é uma organização irrelevante. O objetivo de uma empresa está fora dela própria, no próprio cliente.
Sendo assim, há um mundo em ebulição. A filosofia de Adam Smith na economia continua valendo, porém os atores vestem outra roupagem. Ora são consumidores querendo mudar de postura, mas ainda não conseguindo deixar de comprar produto pirata ou empresários buscando migrar de um planeta ao outro, mas ainda temerosos.
Neste novo planeta ou mercado, há uma nova abordagem empresarial, onde o objetivo não é mais fixar o foco somente no negócio, muito menos no consumidor/cliente, mas no ser humano, com mente, coração e espírito. Espírito??
Isto mesmo: Espírito.
Philip Kotler no seu livro “Marketing 3.0” destaca textualmente que “o lucro resultará da valorização pelos consumidores da contribuição destas empresas pelo bem estar humano. Isto é marketing espiritual ou marketing do espírito humano do ponto de vista da Empresa”.
A tradução do pensamento de Kotler é bem ampla, discorrendo sobre o envolvimento dos stakeholders, novos valores junto aos parceiros de canal de venda, acionistas e a transformação sócio cultural. Mas o ponto central do pensamento está na empresa crescer com novos valores, para ir se alinhando com este novo perfil de consumidor que paulatinamente está entrando no mercado.
A questão fundamental portanto é se estamos andando de mãos dadas com o pensamento na essência, do brilhante Adam Smith, porém nascido em 1723, ou se deveríamos estar twitando com Philip Kotler e seus parceiros como Hermawan Kartajaya e Iwan Setiawan, ou com o Presidente ambientalista da Indonésia Susilo Yudhoyono que prefacia o livro Marketing 3.0.
A decisão é de cada empresário, se deseja viajar agora ou depois para a Terra do Nunca.
Talvez, do jeito que as coisas estão caminhado, o prefácio do próximo livro de Kotler, um eventual Marketing 4.0, será prefaciado pelo Papa Francisco. Quem saberá dizer?
De qualquer forma, se o leitor necessitar de uma inspiração para tomada de decisão de como e para onde viajar, pode utilizar como fundo musical “All you need is love” composta para a eternidade por Lennon lá nos idos de 1966, que continua válida até hoje.
Boa audição!