Indústria do coco cresce, mas alto desperdício gera desafio tecnológico

Em parte pelo calor, em parte pelo apelo saudável, o consumo de água de coco tem crescido no Brasil entre 10% e 20% ao ano, de acordo com Sindcoco (Sindicato Nacional dos Produtores de Coco).

Mas geralmente o destino da casca do coco verde é uma pilha de lixo em alguma praia brasileira.

“É um mercado grande, mas o aumento da demanda tem gerado uma grande quantidade de resíduos sólidos, que é um material problemático”, explica Fernando Abreu, pesquisador da Embrapa no Ceará, um dos polos brasileiros de produção de coco. “Basta pensar que cada coco tem entre 2 kg e 2,5 kg, e até 70% de seu peso está na casca.”

Segundo Francisco Porto, presidente do Sindcoco, o Brasil produz anualmente 2 bilhões de cocos – 1 bilhão de cocos verdes, para extração da água, e 1 bilhão de cocos secos, matéria-prima do coco ralado e do leite de coco.

Apenas 10% desse total é reciclado. O restante vai para o lixo.

Produtores e empresas afirmam que a reciclagem tende a ser cara e trabalhosa. Esforços para reaproveitar o coco estão parados em algumas cidades.

MDF de coco e nanocelulose

Por outro lado, crescem as iniciativas – e as pesquisas – em busca de usos cada vez mais inovadores e ecologicamente corretos do material.

Na linha de frente das pesquisas está a Embrapa (Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária), que estuda uma forma de transformar os resíduos do coco verde em um material prensado semelhante ao MDF (compensado de madeira). A ideia é que, no futuro, o produto final seja uma alternativa à madeira na produção de móveis.

“Nossa pesquisa já está em fase final, avaliando a resistência do material”, explica Fernando Abreu. “O que falta é um investidor, uma empresa que tenha interesse em passar um período aqui dentro (da Embrapa) para a transferência dessa tecnologia.”

Seu colega Adriano Mattos cita também estudos para obter, a partir da casca, resinas e nanocristais de celulose, que possam ser usados para aumentar a resistência de materiais plásticos.

Enquanto isso, recicladores de coco tentam difundir o uso de produtos reciclados que já são mais conhecidos.

Um exemplo é o pó do coco triturado, que gera um substrato com alta capacidade de absorção de água. Por isso, é usado como adubo na agricultura – por exemplo, na plantação de cana-de-açúcar, de flores ou mesmo dos próprios cocos.

Os resíduos também podem ser processados para gerar energia por meio da queima. E a fibra da casca é usada em vasos, como substituto de xaxins, para compor estofados de assentos de veículos, para isolantes térmicos e para fazer mantas biológicas usadas na contenção de encostas, evitando deslizamentos.

Autor: BBC