Ao mesmo tempo em que a excelência de ensino deve ser a meta de todas as universidades brasileiras, algumas poucas instituições do país teriam hoje condições de dar um salto de qualidade e tornarem-se de classe mundial em pesquisa científica.
Para que isso ocorra, as universidades vocacionadas precisam receber investimentos diferenciados para desenvolver planos institucionais ousados, afirmaram especialistas durante um simpósio realizado pela FAPESP e pela Academia Brasileira de Ciências (ABC).
“Diferenciar não quer dizer que uma parte do sistema é melhor ou pior que outra. Mas um sistema em que todas as partes são iguais em geral não funciona. Um sistema se caracteriza pela excelência de todas as suas partes, embora cada uma tenha função distinta da outra”, avaliou Hernan Chaimovich, vice-presidente da ABC.
Para a presidente da Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência (SBPC), Helena Nader, o peso da ciência que cada universidade produz é um fator relevante e, portanto, o investimento não pode ser o mesmo para todas as instituições.
“A ciência, para ser de ponta, precisa de um investimento superior ao que está sendo feito no país. A sociedade precisa decidir em quais áreas devem ser feitos investimentos pesados e quais instituições têm perfil para trilhar esse caminho da internacionalização. Cada uma deve ter um perfil e uma área de excelência. Somente assim o Brasil vai se tornar capaz de pautar a ciência internacional e não apenas ser pautado”, opinou.
Na avaliação do presidente da Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (Capes), Jorge Guimarães, um dos possíveis critérios de seleção das instituições vocacionadas a atingir o status de classe mundial é o percentual de cursos de pós-graduação com conceitos 6 ou 7 – considerados de excelência em nível internacional – na Avaliação Trienal dos Programas de Pós-Graduação.
“Temos a USP [Universidade de São Paulo] na frente, com 89 cursos [com conceitos 6 e 7], seguida pelo grupo formado pela UFRJ [Universidade Federal do Rio de Janeiro], UFMG [Universidade Federal de Minas Gerais], Unicamp [Universidade Estadual de Campinas] e UFRGS [Universidade Federal do Rio Grande do Sul], que tem em torno de 30. Todas essas têm uma proporção de 40% dos cursos com conceito 6 e 7. Depois despenca. Se considerarmos apenas o conceito 7, a situação é ainda mais dramática”, afirmou.
Guimarães destacou a necessidade de maior autonomia e sistemas eficientes de governança, internacionalização das operações de ensino e pesquisa, redução no número de horas que o estudante passa em sala de aula e investimentos em residências estudantis dentro do campus.
“Os alunos do Ciência Sem Fronteiras estão nos mostrando a necessidade de não passar mais do que 14 horas em sala de aula por semana, desenvolver muitos trabalhos experimentais, ter tempo para estudar sozinho e convivência com colegas do mundo inteiro nas moradias do campus”, afirmou o presidente da Capes.
Para Carlos Henrique de Brito Cruz, diretor científico da FAPESP, embora a produção científica brasileira tenha crescido significativamente nos últimos anos, o impacto dos artigos publicados continua abaixo da média mundial – atrás de países como Argentina, Espanha, China e Coreia do Sul.
“O que estamos fazendo de errado? Em algum momento o sistema parece ter entrado em um desvio buscando multiplicar a quantidade e não a qualidade”, avaliou Brito Cruz.
Segundo Brito Cruz, a exceção é a área de Física, na qual os artigos com participação de autores brasileiros apresentam impacto cerca de 60% maior que a média mundial. “A área de Física se beneficiou de colaborações internacionais em tópicos de interesse mundial, como o projeto do Grande Colisor de Hádrons (LHC, na sigla em inglês), da Organização Europeia para Pesquisa Nuclear (Cern), o Projeto Pierre Auger e outros da área de partículas elementares”, avaliou.
Autor: Agência Fapesp