A Escola Politécnica (Poli) finalizou o Projeto Político Pedagógico para a criação do curso de Engenharia Nuclear, em parceria com o Instituto de Pesquisas Energéticas Nucleares (Ipen) da Universidade de São Paulo. A graduação é pensada pelos docentes desde 2010 e, caso aprovada pelos órgãos normativos da USP, será implementada junto ao Centro Experimental Aramar (CEA) da Marinha, utilizado para pesquisas do Programa Nuclear Brasileiro (PNB), no município de Iperó, no interior paulista.
O curso, com duração de cinco anos, funcionará durante o ciclo básico de três anos na Politécnica, como as demais graduações da escola. Os 60 alunos ingressantes estudarão em Aramar nos próximos dois anos e poderão escolher uma dentre as quatro habilitações da graduação: a Nuclear, voltada para a construção de plantas nucleares; a de Materiais, para o estudo e seleção de materiais utilizados na indústria nuclear; a de Computação, para o domínio de sistemas computacionais aplicados à área, e a de Energias Renováveis, voltada para a produção e o consumo de energias elétrica e térmica.
De acordo com o vice-diretor da Poli, José Roberto Piqueira, a área nuclear brasileira é carente de profissionais que dominem as tecnologias necessárias para a aplicação de seus conhecimentos, como a produção de energia. O país possui atualmente apenas um curso de Engenharia Nuclear em universidades públicas, o UFRJ. Piqueira reforça que a indústria nuclear tem diversos ramos de aplicação, como a área médica e o campo de produção de energia. “O país tem pouquíssimos trabalhadores nesse setor e nós almejamos autonomia e soberania na área nuclear”.
A fonte nuclear foi a terceira maior matriz energética do Brasil em 2012, correspondendo a 3,11% da eletricidade gerada no país, segundo a Poli, e a USP aponta para uma ampliação deste mercado nos próximos anos. Um estudo da Comissão Nacional de Energia Nuclear (CNEN), órgão federal que coordena as operações nucleares do Brasil – que abrangem desde radiografias realizadas em hospitais até as usinas de Angra –, constatou a falta de profissionais no setor nuclear. Há 20 anos a instituição possuía 5 mil servidores. Atualmente ela tem 2.500, com idade média de 54 anos.
Para o vice-diretor da Poli, o acidente nuclear que fez centenas de vítimas por contaminação radioativa por Césio 137 – substância utilizada em equipamentos médicos de radiografia – ocorrido em Goiânia (GO) em 1987, foi evidência de que o país não tem conhecimento nuclear difundido. “O acidente aconteceu porque o país é ignorante nos assuntos nucleares, porque descartaram inadequadamente um elemento radioativo. Embora o Brasil tenha conhecimento na área, ele não foi difundido e faltou fiscalização”.
A USP prevê também a construção do Reator Multipropósito Brasileiro (RMB) em Aramar. O reator nuclear de pesquisa teria como uma das principais funções tornar o Brasil autossuficiente na produção de radioisótopos para diferentes áreas, como medicina nuclear, indústria agrícola, farmácia e geração de energia.
O professor explica que aparelhos como esse são essenciais para o tratamento de câncer, por exemplo. “O Ipen já tem um reator que fabrica tecnécio para fármacos, mas ele é obsoleto. A hora em que ele parar de funcionar, se nós não tivermos o Reator Multipropósito, vamos deixar de fazer 2 mil atendimentos de pacientes com câncer, por mês, no país”.
Além disso, ele afirma que a Poli espera que parte dos recursos investidos para a criação do curso e das instalações laboratoriais venham de agências de fomento e do Ministério da Ciência e Tecnologia, através da Agência Brasileira de Inovação (Finep) que financia projetos de desenvolvimento econômico e social tecnológico. “Nós não acreditamos que será possível contar apenas com recursos da universidade, principalmente em relação aos laboratórios de pesquisa”, reforça.
Autor: Jornal do Campus