Quando avaliamos as notícias sobre os recursos naturais do Brasil e a forma como estão sendo cuidados, é comum ficarmos em dúvida do que efetivamente é verdade ou não. Cruzar informações de sites oficiais de governo comparando-os, por exemplo, com parâmetros internacionais, certamente há de gerar uma série de dúvidas. É como olhar aqueles quadros dos 7 erros. Olhamos… olhamos… sabemos que há algo diferente mas não localizamos exatamente o que é.
Aonde estariam estas diferenças ?
A França de hoje, por exemplo, produz algo entre 10% a 15% da energia elétrica consumida no país, através da queima de resíduos domiciliares, incinerados em 123 equipamentos(*). O índice dos países europeus no reaproveitamento de resíduos é algo em torno de 35% contra apenas 2% no Brasil. A pergunta natural é, precisamos então incentivar fontes energia alternativas , quando comparado a outros países ?
É claro que nossa matriz energética é diferente, possuímos água em proporção planetária. Contudo, se olharmos para o futuro, é ilógico investir em fontes alternativas ?
A questão é complexa, porém a lógica tupiniquim sempre nos assusta, pois se a lógica fosse uma postura a nos trazer sossego, a Petrobras não teria permitido “queimar” cerca de US$ 12 bilhões decorrente da desvalorização das ações ocorrida no dia 05 de dezembro último. Este valor representa algo em torno de 3% das necessidades de investimento no Pré-sal, que é de certa forma, outra “fonte energética”, pois está a 7.000 metros de profundidade, diferentemente dos demais poços.
Estes US$ 12 bilhões incinerados num dia, por exemplo, superam os cerca de US$ 8 bilhões que o país investe anualmente em fontes alternativas.
Certamente no olhar do investidor, há risco nesta empreitada, portanto estão se desfazendo das ações e isto é uma lógica inquestionável.
Ou seja, ao invés de queimarmos lixo, queimamos ações das empresas e muitas vezes florestas em prol de novos negócios.
Há um certa lógica em derrubar floresta, queimando-as.
Poderemos de um lado exaltar que as exportações de commodities das grandes empresas do agronegócio no Brasil, entre grãos e carnes, apresentarão um resultado de 14% de superávit na balança comercial (a única exceção na pauta das commodities, ficará na conta da Petrobrás com déficit estimado em US$ 22 bilhões).
Especialmente a produção de carne, exibe uma eficiência fantástica em Paragominas com um desmatamento em média 3 vezes menor que as demais regiões. Porém só há uma Paragominas no Brasil e volta a nos assustar esta lógica tupiniquim nas demais regiões.
Especialmente quando avaliamos o site do Ministério da Ciência e Tecnologia http://www.inpe.br/queimadas que quase “celebra” a redução das queimadas na Amazônia em 49% entre janeiro e setembro/13, varrendo porém para debaixo do tapete a informação que o satélite localizou cerca de 40 mil pontos de queimadas.
Um site oficial oficializa (desculpem a redundância) a ilegalidade, “celebrando” o índice obtido.
Para se ter uma ideia de como os países desenvolvidos enxergam suas riquezas florestais, os EUA investem US$ 78,00 por hectare na proteção de suas florestas. E o Brasil ? Investe US$ 2,00 por hectare . Míseros US$ 2,00, ou seja o equivalente a 1 ½ litro de gasolina por hectare. Talvez por isso esta mesma gasolina incendeia nossas florestas, pois se não sabemos nem quanto vale a gasolina, talvez não saibamos quanto vale uma floresta.
Para ratificar esta lógica do investidor, tomemos outro exemplo na Alemanha, onde o setor silvicultor e madeireiro, gera 1,2 milhões de empregos, faturando cerca de Euros 170 bilhões/ano. Sendo assim os recursos gerados, dentro da legalidade, geram impostos, empregos e distribuição de renda.
Enquanto isso ao mesmo tempo, não sabemos se é alarmismo ou não, mas o Green Peace destacou que o Brasil poderá ter 80% das espécies de peixes extintas nos próximos anos, decorrente das queimadas, desvios de rios, pesca predatória e etc.
Olhando este mosaico de informações, nos gera apreensão, para falar o mínimo.
Com qual lógica devemos ficar ? Do investidor, mundo afora, investindo em proteção florestal 35 x mais que o Brasil ? Do agronegócio nacional que gera empregos e recursos ? Do investidor em energias alternativas da França ? Ou do modelo alemão que gera recurso através da silvicultura?
Está parecendo o jogo de 7 erros. Há certamente algumas características diferentes de visão, porém não localizamos exatamente aonde está o erro.
Olhando para cultura brasileira em todos os campos da vida, o cenário ambiental corre risco de ratificar um famoso ditado popular : onde há fumaça, há fogo .
(*) Extraído do Livro “ Os Recursos e a Cidade” de Ricardo Rose, Colunista do Portal SustentaHabilidade.com