Camil Eid, presidente do Instituto de Engenharia, concede entrevistas na Arena (Foto: Rodrigo Faber)
A Odebrecht usará dois guindastes de menor capacidade para erguer uma nova peça metálica de sustentação da cobertura da Arena Corinthians. A informação é de Camil Eid, presidente do Instituto de Engenharia, que fez uma inspeção na peça que caiu na quarta-feira, matando dois operários.
Segundo ele, só há, na América Latina, mais um guindaste LR11350 (modelo envolvido no acidente), e a construtora entende ser mais viável usar dois guindastes de menor capacidade, juntos, para erguer a nova peça, que será produzida por duas empresas terceirizadas. Eid esclareceu ainda que nada daquela que caiu será reaproveitado.
Perguntado sobre o motivo do acidente, o presidente do Instituto de Engenharia disse:
– Não vi nada que pudesse desagradar. Procedimentos foram feitos, e a engenharia foi aplicada ao sistema. Mas alguma coisa aconteceu. Apesar de seguir todos os procedimentos, algo está errado ou não teria caído.
Eid explicou que o guindaste poderia aguentar desnivelamentos do solo.
– A máquina tem um suporte, que aguenta alguns desequilíbrios (referindo-se a desníveis do solo). Ela travaria (se houvesse o desnivelamento), mas não travou. O que posso dizer é que não vi nenhum problema aparente. Mas preciso aguardar os laudos técnicos. Há várias possibilidades, como o caso do desnível ou até mesmo de um vento forte.
Perguntado se houve falha do operador, Eid explicou que prefere aguardar a inspeção de dois técnicos da empresa alemã responsável pelo guindaste.
– O operador precisa ser especializado. Estes que trabalham aqui são altamente treinados. Mas também não podem fazer movimentos que o aparelho não permita. Isso especificamente eu quero ver com o pessoal da Alemanha, para ver o que ocorreu no equipamento.
Após o embargo provisório de operações com guindastes na Arena Corinthians, a Odebrecht aguarda a chegada de técnicos alemães da empresa responsável pelo guindaste envolvido no acidente para abrir a “caixa-preta” do equipamento, que consiste em um HD instalado na cabine para gravar as informações operacionais e até os movimentos do veículo. Esta “caixa-preta” pode ajudar a esclarecer o que causou o tombamento do guindaste, que derrubou três estruturas metálicas e matou duas pessoas em acidente na última quarta-feira. O grupo vindo da Alemanha já está em São Paulo e segue para Itaquera.
De acordo com Flávio Ferreira, diretor da Sintrapav ( Sindicato dos Trabalhadores na Indústria da Construção Pesada Infraestrutura e Afins do Estado São Paulo), ninguém na obra conhece tão a fundo essa aparelhagem como os técnicos alemães. Ferreira contou também que, no momento do acidente, o motorista do guindaste pulou. Ele não quis falar ainda, pois está muito abalado e só vai ser ouvido no inquérito policial.
A Odebrecht trabalha com três hipóteses para o acidente: defeito no guindaste, problema no solo e falha do operador. Em 30 dias sairá um laudo com a definição do que será feito com a peça que era içada pelo guindaste e caiu. Não está descartada a possibilidade de cortá-la ao meio.
Mesmo com o embargo dos guindastes, a obra terá as atividades retomadas na próxima segunda-feira. Os trabalhos que não necessitam utilizar guindastes serão executados normalmente, excetuada a área interditada pela Defesa Civil – correspondente a 30% do prédio Leste e a menos de 5% da área da Arena.
Exemplos de trabalhos que não utilizam guindastes são instalações elétricas e hidráulicas, de assentos definitivos, de revestimentos de pisos, paredes e forros e de sistemas de som. Também os trabalhos de acabamento nas áreas externas da Arena, como acessos para veículos e torcedores, estacionamentos e muros, prosseguirão normalmente.
Ferreira explicou que todos os trabalhos verticais na obra da Arena Corinthians – ou seja, aqueles que envolvam guinchos e guindastes – podem ser paralisados até o dia 12 de dezembro, quando haverá uma reunião no Ministério Público do Trabalho para apurar o que de fato aconteceu no acidente que matou dois operários na quarta-feira.
Duas empresas terceirizadas fazem os serviços verticais, a Alufer e Locar. Com a paralisação deles, a obra seria limitada aos trabalhos de acabamento.
Dois operários morreram no acidente, na quarta-feira: Fabio Luiz Pereira, 42 anos, motorista e operador, e Ronaldo Oliveira Santos, 44 anos, montador.
Autor: Globo Esporte