Seis anos nos separam do levantamento Estádios com Prazo de Validade Vencido, trabalho realizado pelo Sinaenco em 17 capitais brasileiras alguns meses antes de o país ser escolhido pela Fifa para sediar o Mundial de 2014. Os resultados do estudo foram divulgados em novembro de 2007, quando a entidade iniciou uma campanha nacional com o objetivo de aproveitar o movimento em direção à Copa para renovar a infraestrutura das cidades brasileiras.
Ao longo desses 70 meses, o Sinaenco esteve em todas as cidades-sede para defender a necessidade de projetos e de planejamento para que o Brasil pudesse colher o esperado legado social da Copa.
Presidente do Sinaenco/SP e coordenador das ações da entidade em relação aos megaeventos esportivos, José Roberto Bernasconi avalia que as empresas brasileiras que atuaram no projeto e construção dos novos estádios já colheram um legado técnico positivo e poderão aprofundar essa expertise com os erros e acertos observados nas arenas que recentemente sediaram a Copa das Confederações.
“Ganhamos mais vivência em estádios, nos projetos, no gerenciamento. Quem viveu essa experiência aprendeu muito e poderá aplicá-la na Olimpíada de 2016 e nos futuros eventos em outros países”, comenta Bernasconi.
O problema, diz o dirigente do Sinaenco/SP, é que as outras áreas ficaram abandonadas, embora os recursos estejam disponíveis: as obras de mobilidade urbana foram paralisadas ou estão atrasadas e os aeroportos terão apenas o acréscimo dos módulos operacionais. “Aeroportos demandam 20 anos para o correto planejamento e construção. E os investimentos em mobilidade urbana não podem ser realizados às pressas, sem considerar as demandas futuras e sem projetos básicos bem realizados, com adequado levantamento topográfico, cadastro preciso de desapropriações, e projetos executivos detalhados, que permitam a orçamentação e a previsão de cronogramas precisos”, completa o presidente do Sinaenco/SP.
Para o arquiteto Leon Myssior, conselheiro do Sinaenco Nacional, há um legado tangível e um legado intangível. O primeiro é a capacitação de empresas nacionais para projetar as arenas. “Há alguns anos o país tinha uma ou duas empresas aptas a projetar instalações esportivas e, graças aos desafios propostos pela Copa e a Olimpíada, o Brasil tem hoje um conjunto de empresas de arquitetura e de engenharia consultiva absolutamente capazes de projetar instalações esportivas no país e no exterior”, afirma Myssior, que é sócio do escritório responsável pela reforma do Estádio Independência em Belo Horizonte.
Parte desse know-how foi desenvolvida localmente e outra parte foi absorvida com as parcerias firmadas entre empresas brasileiras e estrangeiras, explica Myssior. Mas uma parcela considerável desse conhecimento foi “arrancada a unha” pelo trabalho conjunto de arquitetos e engenheiros brasileiros, avalia o arquiteto. Ele lembra ainda que todas as obras tiveram um patamar de industrialização pouco usual no Brasil, com estruturas pré-fabricadas de concreto, aço e outros materiais, que levaram as empresas de projeto a incorporar esses conhecimentos ao deu dia-a-dia.
Myssior cita também um legado intangível, que foi a mudança na forma de gestão das empresas que participaram dos projetos para 2014. “São projetos que não têm um simples cliente, mas um conjunto de stakeholders, por vezes com interesses difusos e até contraditórios. E os arquitetos brasileiros tiveram de aprender a lidar com essa complexidade e se saíram muito bem, em um patamar superior de competitividade”, explica.
Autor: Sinaenco