Numa jornada que começa pelos braços do gari Eduardo Silva, de 48 anos, o Hulk, os restos de frutas e verduras começam a virar adubo em São Paulo. Há dois meses, o lixo orgânico que ele recolhe na feira de São Mateus, na zona leste, deixou de viajar até o aterro sanitário na divisa com Guarulhos para ser compostado no próprio bairro.
Trata-se de um projeto piloto que a Prefeitura quer levar às 900 feiras semanais da capital, uma das metas da gestão Fernando Haddad (PT), para retirar cerca de 62 mil toneladas de lixo por ano dos aterros, onde o processo de decomposição dos resíduos provoca 20 vezes mais efeito estufa.
“Hoje, 53% do lixo coletado na cidade é orgânico e nós não fazemos nada para aproveitá-lo. Nas feiras, quase tudo que é descartado pode virar composto e dar vida ao solo em vez de ir para o aterro e produzir gás metano”, disse a agrônoma Lúcia Salles França Pinto, coordenadora do projeto. A ideia é que em breve podas de árvores também sejam compostadas.
Segundo o secretário municipal de Serviços, Simão Pedro, quatro centrais de compostagem serão criadas na cidade até 2016. Cada uma deve custar cerca de R$ 500 mil por mês, valor equivalente ao que a Prefeitura paga hoje para enterrar o lixo das feiras no aterro.
“Vamos construir um cardápio de soluções de coleta e tratamento de resíduos, ajudar pequenos produtores rurais com insumos, diminuir o lixo transportado e aumentar a vida útil dos aterros”, disse Simão Pedro, que estima uma economia de 30% na limpeza das feiras.
Na rua. Na feira da Rua Ursa Menor, em São Mateus, o projeto tem contado com a ajuda dos feirantes, que já descartam os restos de frutas e verduras nas caixas ou caçambas que irão para a compostagem, reduzindo o lixo acumulado no chão. “Agora, se chover fica mais difícil de o lixo descer a rua e entupir os bueiros”, contou Hulk, apelido do gari Eduardo, que trabalha há 19 anos na feira livre.
Dos oito garis que varrem cada feira, a Prefeitura pretende transformar dois em agentes ambientais. Serão eles que vão acompanhar a coleta das caçambas, o transporte até a central de compostagem e a montagem das leiras, onde resíduos orgânicos são misturados às serragens para virar composto.
No caso de São Mateus, o adubo é feito num terreno vizinho ao prédio da subprefeitura, que estava abandonado. Segundo Lúcia, o espaço comporta o lixo de até seis das 38 feiras de São Mateus. “Outras quatro subprefeituras já nos procuraram interessadas em fazer a compostagem. Com isso, os caminhões vão andar menos pela cidade”, afirmou.
Autor: O Estado de S.Paulo