Recentemente a CET publicou o balanço anual de acidentes de trânsito, que apontou uma queda de 9,8 % no número de mortos nas vias públicas da cidade de São Paulo em 2012, em comparação com o ano anterior. Foram 1.231 vítimas fatais ao longo do último ano, contra 1.365 em 2011.
Este resultado positivo – a redução do total de fatalidades – dá sequência a uma série que se inicia em 2007 (quando ocorreram 1.566 mortes nos acidentes de trânsito) e vem apontando para uma contínua diminuição no número de óbitos desta natureza na cidade de São Paulo. A lei seca, os programas de proteção ao pedestre e o aumento da fiscalização eletrônica são as causas principais a justificar a redução e tendência verificadas.
O índice de mortes por 100 mil habitantes referente ao ano de 2012 foi de 10,79 – resultado 10 % inferior ao índice de 2011 (12,00). A evolução é positiva, a posição da cidade em relação à média brasileira (19,00) é satisfatória, mas ainda estamos muito distantes, e há muito a fazer, para chegarmos ao nível dos países de trânsito mais civilizado, como Inglaterra, Suécia, Noruega, Holanda, onde o índice de mortes em acidentes de trânsito por 100 mil habitantes oscila em torno de 3,5.
Tão importante quanto avaliar o resultado agregado é analisar o que se passou com as quatro categorias de usuários do sistema viário, e que são as vítimas dos acidentes: pedestres, motociclistas, condutores & passageiros e ciclistas.
Historicamente, os pedestres, por serem os usuários “mais desprotegidos” do sistema viário, respondem por entre 40 e 50 % do total de óbitos nos acidentes de trânsito. Em 2012 foram 540 mortes por atropelamento (44 % do total), 77 a menos que em 2011. Importante ressaltar ainda que, embora ainda alto, esse número vem continuamente diminuindo na cidade. E as perspectivas são boas, dado que os programas de proteção ao pedestre não sofreram interrupção na recente mudança de gestão municipal.
Os motociclistas são o grupo que ocupa o segundo lugar no número de óbitos em acidentes de trânsito na cidade. O segmento impediu uma maior redução no total de mortos entre 2005 e 2011, pois foi a única categoria que apresentou aumento desse número no período.
Ocorre que, ao contrário de anos anteriores, em 2012 verificou-se uma redução no número de fatalidades com motociclistas. Foram 438 mortes (36 % do total) contra 512 do ano anterior. Essa redução foi consequência da diminuição das mortes nas duas categorias de maior peso – pedestres e motociclistas.
A categoria dos condutores & passageiros é a terceira em termos de participação nesse total de mortes. Paradoxalmente, ao contrário do observado com os motociclistas, os condutores, que desde 2005 vinham continuamente diminuindo em número de óbitos, tiveram, de 2011 para 2012, um incremento de 14 mortes, chegando a um total de 201, representando 16 % do total. Dado que não houve nenhuma alteração nas práticas de monitoramento e fiscalização, este aumento não encontra explicação aparente, exceto talvez uma manifestação do esgotamento da política de compartilhamento do espaço urbano entre os diversos veículos de transporte.
Finalmente temos os ciclistas que, a exemplo dos condutores & passageiros, também apresentaram uma mudança de comportamento. Neste caso, desde 2005 o número de mortes de ciclistas em acidentes de trânsito vinha apresentando redução, mantendo-se constante em 2010 e 2011 (49 fatalidades). Já no ano passado este número subiu para 52, correspondendo a 4 % do total. O significativo aumento das viagens com bicicleta pode ser a principal explicação para este fato (a exemplo do que já foi observado no passado com as motocicletas).
Como se pode notar, se o agregado permite alguma satisfação, a avaliação segmentada preocupa. Os dados de fatalidade por categoria indicam que 2012 foi (1) um ano atípico; ou (2) o início de uma nova série histórica, em que se colhem os resultados dos esforços voltados aos pedestres, mas, devido ao esgotamento da política de compartilhamento do espaço urbano, tem-se um recrudescimento dos óbitos em acidentes envolvendo motociclistas, condutores & passageiros e ciclistas.
Importante refletir para que não se tome nenhuma decisão precipitada. A manutenção da política de compartilhamento não pode depender só dos índices de acidentes – até porque, por exemplo, o aumento dos óbitos dos ciclistas é inevitável em decorrência do aumento da participação do modo. Pensar novas formas de convivência entre automóveis, motos e bicicletas (através de elementos de sinalização e gestão de tráfego), todos eles sob a prioridade do transporte coletivo, se tornou urgente para obter condições minimamente civilizadas de trânsito na cidade.