Reflexões sobre o dilema do racionamento de energia elétrica

Por João Ernesto Figueiredo*

REFLEXÃO 1:

a) Neste momento – janeiro de 2013 – discute-se a possibilidade de racionamento de energia no Brasil.
b) Discute-se se os reservatórios já atingiram ou não seus volumes mínimos de segurança.
c) Destaque-se: problema dos RESERVATÓRIOS. Um problema bom. Se não houvesse reservatórios não haveria uma capacidade instalada do porte atual. Se os reservatórios fossem menores, o racionamento já teria começado há vários meses.
d) Belo Monte e aparentemente todas as usinas do futuro nem reservatórios para pequenas regulações terão. Serão a fio d’água, ou seja, seu “reservatório” será equivalente ao nível das enchentes, que, inclusive, não poderão sequer ser armazenadas.
e) O Brasil foi beneficiado por Deus por ter a maior rede hídrica do mundo e, portanto o maior potencial hidroelétrico. Riqueza valiosa, limpa e eficiente.
f) Aproveitamos razoavelmente o potencial em nossa parte meridional,
g) Estamos jogando fora todo o potencial setentrional. Somente instalar potência custa caro e não resolve. Exige complementação térmica poluente e pouco eficiente.

REFLEXÃO 2:

a) Em 2023 termina o acordo de Itaipu com o Paraguay, onde este obrigatoriamente vende seu excedente de consumo para o Brasil.
b) Itaipu atende 17% da demanda nacional.
c) A oferta poderá cair para uns 12% (O Paraguay consome uma pequena parte de sua metade).
d) O Paraguay certamente buscará mercado para a sua parte. Poderá abrir um parque industrial para consumidores intensivos de energia (por exemplo, fabricas de alumínio) em seu território. Os chineses já estão piscando.
e) Dez anos é o tempo médio de construção (incluindo aprovações) de uma UHE de médio ou grande porte.
f) A energia elétrica é a forma mais limpa, racional e eficiente de energia que o homem pode extrair de todo o universo. A energia hidroelétrica é de longe, a forma mais barata, racional e harmônica para sua obtenção.

REFLEXÃO 3:

a) Brasileiros do meio rural foram, são e serão relocados porque o aumento de população e o progresso são inevitáveis.
b) Brasileiros do meio urbano também são regularmente relocados em função de progresso, reurbanização, busca de emprego, progresso pessoal, conveniências diversas, etc. Há um estudo que mostra que em média o engenheiro a cada 5 anos se muda em sua vida profissional útil. No passado era só consultar a lista telefônica.
c) Por que, portanto índios são imexíveis? Não me refiro a mobilizá-los por milhares de quilômetros, mas por algumas dezenas, com as devidas compensações, em novos sítios absolutamente compatíveis.

REFLEXÃO 4:
a) A derrubada de florestas pode acarretar os seguintes usos, em ordem decrescente de “capacidade pulmonar planetária”.
a. Substituída por floresta remanejável
b. Substituída por água
c. Substituída por plantações altas (culturas agrícolas)
d. Substituída por plantações rasteiras (pasto)
e. Desertificadas
b) Um reservatório, além de não estar nas posições mais baixas da classificação acima, poderá gerar os seguintes benefícios adicionais, se bem planejado.
• Abastecimento de água
• Geração de energia limpa, barata e praticamente perene.
• Controle de inundações
• Irrigação e decorrente incremento da produtividade das lavouras vizinhas
• Navegação fluvial
• Aprimoramento da piscicultura
• Melhoria do clima local
• Aproveitamento turístico ordenado
c) Custo x benefício numa primeira comparação numérica:
• Deixamos de gerar quilômetros QUADRADOS de Carbono ideal de florestas,
• mas abrimos mão de quilômetros CUBICOS de energia limpa e altamente eficiente, racionalmente armazenada.

CONCLUSÕES:
a) Precisamos, portanto mensurar racionalmente todos os aspectos acima.
b) Precisamos encarar os problemas não lógicos que impedem o aproveitamento de nosso potencial hidroelétrico e voltar a construir Usinas corretamente dimensionadas.
c) Precisamos rediscutir com indígenas, ambientalistas, burocratas e até ideólogos (supondo sempre gente bem intencionada e entendida) o problema da sobrevivência e da soberania, mas com foco na viabilidade econômica, no desenvolvimento, no atendimento de carências, com vistas ao futuro, que já está aí.
d) Precisamos nos conscientizar que inexoráveis posições ideológicas radicais e espúrio-subliminares representantes de implícitos interesses estrangeiros não devem ser negligenciadas, mas, sim, competentemente neutralizadas, em nome do indiscutível interesse nacional maior.

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* Engenheiro civil POLI/1965; pós-graduação (área de produção) na POLI/1970; ex-assessor do Presidente Ruy Leme no Banco Central/1968; na engenharia atuou na área de planejamento até 1971; dirigiu instituições financeiras até 1989; foi professor de Mercado de Capitais em cursos de especialização do Instituto Mauá de Tecnologia/80; escreveu livros; desde 1990 atua na área de consultoria financeira de empresas de Engenharia. Foi presidente do Conselho Consultivo do Instituto de Engenharia.

*Os artigos publicados com assinatura, não traduzem necessariamente a opinião do Instituto de Engenharia. Sua publicação obedece ao propósito de estimular o debate dos problemas brasileiros e de refletir as diversas tendências do pensamento contemporâneo