A ciência é sem dúvida democrática.
As verdades da ciência valem para todos os seres humanos, sem distinção de classe ou raça. Elas servem a humanidade toda. O Principio da Inércia ou a Lei da Gravidade vale para ricos e para os pobres, para os poderosos e para os fracos, para os aristocratas e para os plebeus.
As leis científicas permitem antes de tudo compreender o universo e penetrar nos mistérios da natureza.
Copérnico, Kepler, Galileu, Newton, Lavoisier, Darwin, Maxwell, Einstein criaram sozinhos e solitários as leis universais que regem a física, a química, a biologia.
Mas os que efetivamente dominam a natureza e a modificam são os engenheiros e sua engenharia.
Eles seguem as leis naturais descobertas pelos cientistas, descobrem os mistérios da natureza e a modificam. Constroem a torre mais alta, o túnel mais profundo, o veículo mais veloz, o equipamento mais potente, a transmissão da imagem mais perfeita, o armazenamento do conhecimento em micro-cheaps. E tudo o mais.
Diferentemente da criatividade científica, solitária na sua essência, a engenharia é comunitária. O engenheiro nunca faz sua obra, sozinho. E não a faz por uma motivação íntima, mas a faz pelo beneficio da sociedade e do homem.
A engenharia no Brasil desde seu inicio objetivou o mercado da proporção do tamanho do país, com escolas de engenharia, associações e instituições. A primeira associação aconteceu no Rio de Janeiro com o Clube de Engenharia, ‘clube’ assim pela influência inglesa. O ato formal foi do Imperador D.Pedro II.
Em São Paulo, a criação do Instituto de Engenharia IE, deu-se um pouco mais tarde e foi diferente. Aqui o IE foi criado por iniciativa essencialmente da sociedade civil, diferente do Rio onde o Clube de Engenharia teve apoio do governo e principalmente do exército que após a Guerra do Paraguai passava por um período de modernização.
Situada no planalto, a economia de S.Paulo necessitou logo de obras pesadas de infra-estrutura. Uma ferrovia pesada que vencesse a serra. Uma grande geração de energia elétrica necessária para a industrialização nascente, obtida pela transposição das águas do planalto para o mar. Uma malha rodoviária que atendesse a ligação para o interior do Estado. Alem da construção das indústrias e da própria cidade. Construir uma grande cidade na mesopotâmia alagadiça dos rios Tietê e Tamanduateí sempre foi e é ainda agora um desafio. Todas obras no seu conjunto, pesadas, de envergadura e diversificadas.
No Brasil, no começo do século XX, foi em S.Paulo que a engenharia teve seu maior desenvolvimento.
Duas grandes escolas de engenharia, Politécnica e Mackenzie formaram os profissionais necessários. E mais o IE desempenhando sua capacidade de aglutinação e promoção. O primeiro presidente do IE foi Paula Souza, professor e primeiro diretor da Escola Politécnica. O segundo, Ramos de Azevedo, engenheiro, arquiteto e empreiteiro.
O IE, a casa dos engenheiros, foi o lugar onde grandes planos e projetos eram expostos e discutidos. A engenharia encontrou aí seu espaço.
Agora o IE encontra-se num ‘momentu decisus’ ou seja, no momento decisivo de seu futuro. Não apenas o IE, mas também a engenharia.
A vida institucional do Brasil, no entanto mudou muito dos anos 80 para cá. A condução do desenvolvimento nacional num Brasil onde há tudo para fazer tem grande impacto na engenharia e obviamente em suas associações.
O IE em particular, tem necessidade de adaptação aos tempos e dispõe, para isso de uma condição privilegiada.
Voltarei ao assunto.