Uma grande empresa de recursos humanos apurou que, em um grupo de 39 países, o Brasil é o terceiro do ranking onde as empresas mais têm dificuldades para contratar trabalhadores qualificados.
De acordo com esse levantamento, a situação brasileira só não é pior que a do Japão e da Índia.
Ao mesmo tempo em que as empresas sofrem para encontrar profissionais qualificados no Brasil, observa-se que há nas principais regiões metropolitanas do País mais de 1,4 milhão de pessoas desempregadas. Ou seja, há um grande contingente de trabalhadores em busca de ocupação e ao mesmo tempo as empresas não conseguem preencher as vagas ofertadas porque os candidatos não possuem as habilidades exigidas para os cargos. Faltam técnicos, motoristas, operários, operadores de produção, representantes de vendas, assistentes administrativos, mecânicos, entre outros profissionais.
Com a economia brasileira aquecida, há uma forte demanda por profissionais qualificados no País, mas as empresas não conseguem preencher essas vagas porque durante anos a educação de qualidade foi negligenciada e o ensino técnico foi desvalorizado. O Brasil está pagando caro por mais um caso de incompetência de gestores sem visão estratégica no trato da coisa pública.
É preciso repensar a qualificação do trabalhador brasileiro em todos os seus níveis, de tal forma que isso se torne uma política pública com ações de curto, médio e longo prazos e integre governo, empresas, entidades de classe e universidades. Recentemente chamei a atenção para o problema afirmando que um dos componentes dessa política deveria ser a vinculação dos programas de transferência de renda à participação de seus beneficiários em cursos de capacitação profissional.
Afirmei que transferir renda sem exigir uma contrapartida dos beneficiários de ações como, por exemplo, o seguro desemprego ou o Bolsa Família desestimula a inserção de pessoas no mercado de trabalho. Enquanto recebem o benefício, muitos indivíduos não têm interesse em cursos de capacitação porque temem perdê-lo.
Nesse sentido, cabe citar uma boa iniciativa do Ministério do Trabalho e Emprego, que criou um programa vinculando o seguro desemprego à capacitação de trabalhadores. Pessoas que tenham solicitado esse benefício mais de duas vezes nos últimos dez anos deverão realizar cursos profissionalizantes em sua área de atuação. À frente da Secretaria Municipal do Trabalho, estou propondo uma série de especializações que possam contribuir para esse programa federal, que apesar de ainda ser tímido serve de alento.
Criar uma política nacional de qualificação do trabalhador, tendo como um de seus pilares básicos a vinculação dos programas de transferência de renda, é uma forma de elevar a capacidade produtiva da mão de obra nacional. É uma ação capaz de elevar a produtividade do fator trabalho. Além disso, permite elevar a renda do trabalhador e minimiza os impactos sociais negativos gerados pelo desemprego e pela baixa capacitação laboral de uma grande massa de brasileiros.