Até pouco tempo, o condado tibetano de Nyngtri (Linzhi, em chinês) era um vale remoto cercado por algumas das montanhas mais altas do mundo. Mas a inauguração de um aeroporto comercial em 2006, graças a um sofisticado sistema de navegação americano, converteu o local num dinâmico polo turístico.
Essa experiência se repete em outras partes do Tibete. Com uma área equivalente à do Estado do Pará para uma população de 3 milhões, uma das regiões mais isoladas do planeta está se tornando rapidamente acessível devido a obras de infraestrutura.
Só no ano passado, foram abertos 5.000 km de rodovias, e há mais dois aeroportos comerciais em construção. Um deles, no condado de Nagqu, a 4.436 m, será o mais alto do mundo.
“Áreas inacessíveis há poucos anos agora são facilmente visitadas. Todas as cidades maiores têm aeroportos e vêm construindo muitos hotéis e restaurantes”, diz o empresário tibetano Wangden Tsering, dono da agência de turismo Lion Tours.
Apesar das novas possibilidades, ele afirma que os destinos mais populares continuam sendo os mais antigos: visitar a região do monte Everest, o maior do mundo, e fazer trekking em torno do monte Kailash.
Menos aventureira, a região de Nyngtri, no sudeste tibetano, atrai principalmente pelas montanhas cobertas por florestas verdes e pelos raivosos rios turquesa. Um cenário mais parecido com os Alpes suíços do que com o restante do Tibete, quase sempre sem árvores e seco.
Outro diferencial é a altitude relativamente mais baixa (2.900 m), diminuindo os efeitos do mal de altura. Depois de alguns dias ali, fica mais fácil se aclimatar a regiões como Lhasa, a 3.600 m.
A chegada de avião é uma atração à parte. Depois de sobrevoar picos cobertos de neve, o avião serpenteia por um vale até tocar o chão, numa aproximação considerada difícil. E não se trata de um bimotor, e sim de um Airbus.
Em terra, o passeio a Lunang é um dos mais populares. Fica a cerca de uma hora de estrada a partir de Bayi, cidade próxima ao aeroporto e onde está a melhor estrutura hoteleira da zona.
Pelo caminho, que muitos turistas fazem de bicicleta, alguns mirantes ajudam a apreciar as montanhas íngremes e de mata fechada. Há também a possibilidade de visitar casas tibetanas e experimentar a típica comida local.
Outra atração, comum em todo o Tibete, é a visita a monastérios budistas.
Apesar de a região estar aberta a estrangeiros, uma das grandes dificuldades é a comunicação. Nem mesmo os funcionários locais da agência estatal de turismo que acompanharam este repórter falavam inglês. Um hotel rural em Lunang, por exemplo, não aceita estrangeiros porque seus funcionários só falam tibetano e algumas palavras de mandarim.
Nos dois dias na região, este repórter só avistou turistas chineses, quase todos de províncias do sul do país.
O turismo ainda incipiente provoca cenas inusitadas. Em Bayi, por exemplo, havia um hotel Grand Hyatt pirata. No hotel Shang Ba La, onde este repórter se hospedou, o logotipo é uma cópia do “S” do Sheraton.
Há também alguns riscos: foram dois tombos de cavalo por causa de uma sela mal apertada. Sorte que o cavalo tibetano, de baixíssima estatura, é só um pouco mais alto do que um pônei.
Autor: Folha de S.Paulo