Guia de carreiras: engenharia elétrica

Muito se fala do aumento da demanda por engenheiros civis no Brasil, mas as grandes obras de infra-estrutura, impulsionadas pelo crescimento econômico e os grandes eventos esportivos mundiais que o país vai hospedar nos próximos anos, também têm aquecido o mercado de outras engenharias, entre elas a elétrica. “Quando você tem metrô expandindo, estádios de futebol, trens, aeroportos, você precisa ter um sistema de energia elétrica para
atender tudo isso”, explicou Fábio Bergamini Tangerino, de 32 anos.

Formado em engenharia elétrica pela Universidade Federal de Itajubá (Unifei), Tangerino atualmente trabalha como supervisor de engenharia na Alstom Grid, em um projeto de energia hidrelétrica do Rio Madeira, na Região Norte do país.

Segundo ele, o engenheiro eletricista é o profissional responsável pela construção e manutenção de sistemas de geração, transmissão e distribuição de energia elétrica. Sua atuação acontece principamente em empresas e indústrias que fabricam ou usam equipamentos elétricos e sistemas de automação. Alguns exemplos incluem grandes construtoras, fabricantes de sistemas elétricos e aparelhos eletrônicos, além das empresas que prestam serviço de telecomunicações ou possuem linhas de montagem.

Atualmente há muita demanda por engenheiros que trabalham com subestações, linhas de transmissão e sistemas de automação e controle. “Não tem muitos profissionais qualificados no mercado e todas as empresas do setor encontram dificuldade para encontrar”, diz Tangerino.

Privatização e consumo
A partir da década de 1990, os engenheiros eletricistas também ganharam um novo ramo na profissão: a comercialização de energia elétrica. Segundo Marcus Hernandez, de 41 anos, que trabalha na Câmara de Comercialização de Energia Elétrica, a política do governo federal de vender as empresas estatais e abrir a comercialização da energia elétrica ampliou o leque de atuação para engenheiros eletricistas.

A privatização das estatais, aliada ao estímulo ao consumo e à competitividade, permitiu que empresas com grande consumo de energia, como indústrias de grande porte e até shopping centers, pudessem comprá-la diretamente dos geradores. Esse novo mercado demanda novas funções, como a de mediação dos contratos entre quem compra e quem vende energia elétrica nesse novo mercado.

Hernandez, formado na área pela Escola de Engenharia Mauá, no Instituto Mauá de Tecnologia, explica que parte das funções podem ser desempenhadas por engenheiros de outras especialidades, mas que algumas áreas, como a de medição, é específica para o engenheiro eletricista. “Você tem que analisar uma documentação de cunho mais especializado, os outros engenheiros não têm muita relação”, diz.

Outro grande mercado para profissionais da área de engenharia é o financeiro, que emprega engenheiros de diversas formações. De acordo com Tangerino, o interesse dessas empresas em quem é formado em engenharia é a facilidade com as contas. 

Matemática, física e criatividade
“Como o engenheiro tem uma base matemática muito forte na faculdade, esse conhecimento é muito apreciado por empresas que trabalham com números, empresas de consultoria financeira, bancos, tem engenheiro que trabalha até com recursos humanos”, afirmou Tangerino.

Essa base, segundo ele, precisa estar relativamente sólida para que o estudante consiga aproveitar os cinco anos da graduação. Em geral, quem opta pela engenharia elétrica tem aptidão para exatas já no ensino médio e, em alguns casos, já experimentou a área em cursos técnicos. Foi o caso tanto de Tangerino quanto de Hernandez, que fizeram colegial técnico em eletricidade e eletroeletrônica, respectivamente.

Além da matemática, vestibulandos interessados em seguir a carreira devem se preparar para estudar muita física. No caso da engenharia elétrica, Tangerino, da Alstom Grid, explica que a área exige ainda profissionais flexíveis, com capacidade de imaginação. “É uma ciência muito abstrata, a energia elétrica você não vê, não tem cheiro, não tem cor, você tem que ter um poder muito grande para mentalizar uma situação, tem que ser criativo.”

O inglês, hoje em dia, é imprescindível para as atividades na área, já que a maior parte da tecnologia aplicada no Brasil é importada. “E hoje não tem como escapar do espanhol, se você quiser trabalhar em uma empresa multinacional”, explica o Tangerino.

O currículo do curso de ensino superior varia em cada instituição, mas, geralmente, as disciplinas são divididas em três grandes áreas. Em sistemas de energia estão as matérias que tratam da geração, transmissão e distribuição de energia elétrica, e profissionais que decidem se aprofundar nestes conteúdos podem trabalhar no desenvolvimento de subestações de energia de alta potência, por exemplo.

Há ainda a ênfase em sistemas de telecomunicações, na qual os estudantes de graduação conhecem o funcionamento do setor de telefonia fixa e móvel tanto na produção quanto na oferta de serviços de telefonia, além de se envolver na produção de equipamentos eletrônicos como televisores, computador e videogames. Neste caso, segundo Marcus Hernandez, o profissional é conhecido como engenheiro eletricista com ênfase em eletrônica, e se especializa em sistemas elétricos de baixa tensão (até 110 volts).

Já a área de automação de processos industriais é responsável pelo desenvolvimento de procedimentos mais eficazes e seguros em diversos setores, desde linhas de montagem em uma indústria até a criação de sistemas elétricos de alta potência.

Engenheiros eletricistas recém-formados recebem o piso salarial fixado pelo Conselho Regional de Agronomia e Engenharia (Crea). De acordo com a regional de São Paulo, o piso varia entre 7,25 e 8,5 salários mínimos (R$ 4.500 e R$ 5.300, segundo os valores estipulados pelo governo federal em 2012).

Autor: G1