Engenharia impulsiona esporte britânico na briga por medalha

Na piscina da universidade, atletas tenta diminuir centésimos de segundos dos seus tempos

Tanque de provas, túnel de vento, câmeras e softwares. Embora não pareçam equipamentos de treino, esses recursos de engenharia ajudam na preparação de atletas britânicos para a Olimpíada e podem fazer a diferença, em fração de segundos, na disputa por medalhas.

Os anfitriões dos jogos deste ano são ambiciosos. Competidores de alta performance do ciclismo, da vela, do automobilismo e da natação têm incrementado seus treinos com apoio da Universidade de Southampton, no sul da Inglaterra, de olho nos Jogos de 2012. Os projetos podem reunir técnicas aeroespaciais, automotivas e da arquitetura naval.

Desde 2005, o laboratório de engenharia de desempenho esportivo da universidade é um dos parceiros da UK Sport – agência do governo britânico responsável pelo investimento de 100 milhões de libras (cerca de R$ 327,84 milhões) por ano em esporte, incluindo performance, segundo Naomi Stenhouse, coordenadora de pesquisa e inovação do órgão.

“Temos um interesse de longo tempo em pesquisa de alto desempenho em iates e carros de Fórmulas 1 e Indy. Também temos infraestrutura, como o complexo de túneis de vento, um dos únicos do país, e acesso a tanques de provas, além do conhecimento para usá-los da melhor forma. Buscamos combinar fundamentos da física por trás do esporte, com análise computacional, simulação e experimentos, adaptando os sistemas sob medida, para maximizar a capacidade do atleta”, resume o doutor Dominic Hudson, professor de ciência naval em Southampton.

Nas piscinas, o Brasil pode esperar concorrência forte dos donos da casa. Em um dos projetos mais recentes do laboratório, Hudson e estudantes de PhD aplicam seus conhecimentos para impulsionar a natação. Dos 38 nadadores da Grã-Bretanha oficialmente selecionados para competir em Londres, 35 passaram por 45 sessões de teste nas instalações – mas os pesquisadores não revelam nomes, nem detalhes das estratégias para surpreender os adversários. Inicialmente, a ideia do projeto era minimizar o efeito da proibição dos “supermaiôs” – que garantiam uma melhora de 2% no desempenho do nadador.

Câmera e sensores na piscina

Para recuperar esse ganho dentro dos regulamentos das entidades esportivas, o grupo de pesquisadores aplicou a mesma ciência de navios para a natação, procurando medir resistência e propulsão – desafios clássicos do design naval. Na projeção de um navio, se examina a relação entre o formato do casco e como melhor impulsioná-lo na água com o mínimo de força. Essa abordagem está sendo usada pelos pesquisadores nos atletas.

Todas as informações coletadas são reunidas por um computador central, que mede velocidade do atleta, força e ondas. Com uma câmera na margem da piscina, acompanhando as braçadas, os pesquisadores podem ver a forma do corpo na água e os padrões de movimento. Outro equipamento mede a altura das ondas, o que permite ainda calcular a resistência das ondas que estão sendo criadas.

Ainda em fase experimental, sensores sem fio colados nos atletas mandam informações sobre como seus corpos trabalham na água. Na análise dos dados, o treinador e o atleta identificam o que gostariam de mudar na técnica, podem alterar treinos e depois retestar, checar se houve melhora no desempenho.

“Foi um passo transformador para o treinamento. Atleta e técnico puderam ter um tipo de detalhe que nunca tiveram antes, informações que eles geralmente não têm em um ambiente com piscina comum”, observa Joe Banks, um dos estudantes de PhD envolvidos no projeto, embora reconheça que nem todos os nadadores estejam realmente conquistando resultados positivos com os procedimentos.

O maior número de medalha possível

Enquanto esses efeitos ainda serão testados nas raias olímpicas, o ciclismo britânico já contou com benefícios de recursos de engenharia – incluindo o uso do complexo de túneis de vento da universidade 0 em Pequim 2008, quando conquistou 13 medalhas olímpicas. A parceria com a Universidade de Southampton na modalidade começou três anos antes, e a equipe é uma das mais fortes esperanças de pódio em Londres 2012 para a Grã-Bretanha.

O país ainda tem tradição em vela e remo, mas o UK Sport tem destinado fundos para conseguir o maior número de medalhas possível em esportes diferentes – um dos objetivos principais da agência nessa Olimpíada, explica Naomi Stenhouse ao Terra.

“O foco já se direciona para o Rio 2016 e os planos para os jogos seguintes. Estamos trabalhando com nossos esportes sobre como eles podem estruturar melhor seus programas e incrementar seu desempenho em Londres e também para alguns dos desafios únicos que teremos nos Jogos do Rio”, afirma a representante do UK Sport.

Autor: Terra