Uma óbvia consequência de São Paulo ser a cidade do carro e ter hoje exatos 7.222.769 veículos licenciados é o alto índice de congestionamentos. Outra igualmente importante, mas pouco lembrada, é que São Paulo também pode ser chamada de a capital dos estacionamentos. De acordo com uma pesquisa inédita da Escola Politécnica da Universidade de São Paulo (Poli), com base em dados do mercado imobiliário desde 1930, cerca de 25% – ou um quarto – de toda a área construída no Município são usados para garagens.
O levantamento analisou os empreendimentos comerciais e residenciais da capital ano a ano e a destinação de vagas de garagem. Até 1930, para se ter ideia, vagas de garagem praticamente não existiam – nessa época, a capital tinha 22,5 mil carros, o equivalente a um veículo para cada grupo de 39 habitantes. A partir daí, o aumento da motorização foi acompanhado de um apetite incontrolável do mercado imobiliário por áreas para estacionamento.
Em 1960, quando os prédios residenciais começaram a pipocar em todo o centro expandido, 13% da área construída era de estacionamento. Em 1985, essa proporção pula para 22,5%; em 1995, vai para 28%; em 2001, atinge o patamar máximo de 29,59% em relação a toda a área construída sendo destinada para guardar carros e motos. De 2002 até hoje, segundo a pesquisa, o número vem oscilando em torno de 25%.
“Isso mostra que estamos muito atrasados, temos problemas de legislação e de mobilidade”, diz Hamilton França Leite Júnior, administrador de empresas, diretor do sindicato da habitação (Secovi) e responsável pela pesquisa da Poli. “Primeiramente, vaga custa caro, aumenta o preço do imóvel. Além disso, o estacionamento ocupa espaço que poderia ser destinado a espaços públicos. Mas é a nossa própria lei que cria essa situação, aqui temos até a obrigação de construir garagens. Em grandes empreendimentos comerciais, por exemplo, o incorporador é obrigado a fazer uma vaga para cada 35 metros quadrados de área privativa, o que, na prática, é muito mais do que precisa. Assim, fazemos mais estacionamentos do que precisamos.”
Um exemplo no exterior de como os estacionamentos ocupam áreas que poderiam melhorar o urbanismo e a qualidade de vida é o centro de exposições de Los Angeles, que tem o mesmo tamanho que o do Anhembi e nenhuma vaga para carros – aqui, são 7,5 mil vagas de estacionamento.
“Ou seja, as áreas no entorno são ocupadas por lojas, por parques, as pessoas andam por ali, o que cria uma região muito mais agradável”, diz o pesquisador. “Outro exemplo é o conjunto de prédios que estão sendo construídos no local do World Trade Center, em Nova York. São oito torres, um monstro, mas há apenas 200 vagas de estacionamento, até para o pessoal usar o transporte público. Isso seria impossível em São Paulo, justamente por causa da nossa legislação.”
Menos vagas. Para não ficar apenas com más notícias, São Paulo ao menos vem diminuindo aos poucos – bem aos poucos – essa relação com os estacionamentos. Hoje, o índice está bem abaixo do teto alcançado em 2001, e a projeção até 2020 mostra que o índice poderá ser de 22,95%, próximo do patamar praticado pelo mercado imobiliário em 1985. “Essa possibilidade evidenciaria um avanço qualitativo na mobilidade do habitante da cidade nos próximos dez anos”, afirma Leite Júnior.
De acordo com dados da Empresa Brasileira de Estudos de Patrimônio (Embraesp), o número médio de vagas de automóveis por apartamento vem caindo – de 1,94, em 2006, para 1,68 em 2008 e 1,39 em 2010.
“Precisamos discutir mais a ocupação do território, investir para que haja um mix de lazer, trabalho, educação e moradia nos bairros, para diminuir os deslocamentos”, diz Leite Júnior. “Assim, não seriam mais necessárias tantas vagas, muito menos tantos carros.”
Autor: Estadão.com.br