Uma mudança na paisagem do Parque da Aclimação, na região central da capital paulista, está provocando polêmica entre frequentadores. O aparecimento de ilhas no meio do lago divide quem vê a vegetação como descaso e quem considera o local como santuário de animais.
No ano passado, a Secretaria Municipal do Verde e do Meio Ambiente decidiu fazer uma intervenção no vertedouro e regular o nível da água para que o lago funcionasse melhor como um reservatório para as chuvas. Até então, era frequente que temporais fizessem o lago transbordar. Mas isso fez surgir ilhotas, que ficaram cobertas por taboas, as plantas típicas de brejos.
Na semana passada, um grupo de frequentadores distribuiu folhetos para mobilizar a população contra a diminuição do nível da água. “Não ficou bonito. Sou a favor de retirarem essas ilhotas daí porque com esse mato alto parece descuido”, afirmou a enfermeira aposentada Marlene Maria Gomes, de 61 anos. O enxadrista Mauro Amaral, de 35 anos, concorda. “Ficou horrível. Eu acho que está muito malcuidado. Parece relaxo.”
Roberto Casseb, diretor da Associação dos Moradores do Cambuci e Vila Deodoro, diz que o projeto paisagístico precisaria ser refeito. “A aparência agora é que o parque está malcuidado.”
Mas há quem defenda as ilhas. “Não me incomoda em nada. Vi que aves fizeram ninhos lá em meio ao mato. Se faz bem para as aves, o aspecto ainda é mais natural”, ressaltou o aposentado José Carlos Teixeira, de 64 anos. Para ele, o importante é que o lago não extravase novamente com as chuvas.
A bailarina Patrícia Jaia, de 37 anos e a atriz Ana Paula Lopes, de 33, também pensam nos animais. “Se é bom para a fauna e não prejudica o meio ambiente, não dá para ficarmos pensando só em ter uma paisagem inglesa”, disse Ana Paula. “Se faz bem para as aves, não tem porque tirar dali”, opinou Patrícia.
“Sabe que eu nem tinha reparado nisso? E olha que venho todos os dias correr aqui”, disse o estudante de teatro Rafael Godinho, de 22 anos. “Se não deixarem o mato assim tão alto, até que não fica feio. Dá até para andar nas ilhas perto das margens e ficar ainda mais perto do lago.”
A dona de casa Maria Celestina de Araújo, de 35 anos, não gostou da mudança. Diz que preferia o lago – que conhece desde pequena, uma vez que sempre morou próximo – sem interferências. Mas ela conta que os dois filhos dela, Ygor e Yuri, de 4 anos, têm se divertido nos montes de terra que ficaram colados às margens do corpo d'água. “Eles acham bacana. Brincam que estão dentro do lago em uma ilha de verdade”, afirmou.
Histórico. Em 2009, uma chuva forte de fevereiro arrebentou a tubulação e escoou cerca de 78 milhões de litros de água para o Rio Tamanduateí, drenando o lago completamente. Um vertedouro definitivo, com capacidade para dar vazão a 110 milhões de litros de água, começou a funcionar em maio do ano passado.
Autor: O Estado de S.Paulo