O sistema construtivo de lajes planas protendidas dispensa o uso de vigas, permite executar estruturas com menos pilares por área e reduz o ciclo de laje para cinco dias. As lajes são utilizadas com cordoalhas aderentes e bainhas, com injeção de pasta de cimento. O sistema construtivo se assemelha com as cordoalhas engraxadas (não aderentes), mas a concepção de cálculo estrutural é baseada no sistema de estruturas tensionadas.
Modelo estrutural utilizado para cálculo do edifício Global Tower em Vitória. Projeto foi homenageado com o Destaque Abece 2007
O sistema ainda é questionado por muitos profissionais do setor, que o consideram pouco rígido e, portanto, colocaria em risco a segurança estrutural das edificações. Para saber mais sobre o tema, a redação do portal PINIweb conversou com o projetista de estruturas Carlos Augusto Gama, sócio gerente da MCA, que trabalha com o sistema há mais de 13 anos.
Condomínio fechado da Galwan de cinco torres de 18 andares, num terreno de 15.408 m². As lajes de 660 m² têm ciclo de cinco dias, protendidas no 4º dia
Veja o que ele diz sobre o tema:
Em São Paulo, principalmente, talvez até por falta de cultura com este sistema construtivo, as lajes planas protendidas são questionadas, devido à suposta falta de rigidez do sistema? Isso é verdadeiro?
As lajes planas maciças ou nervuradas são lajes sem vigas de borda e vigas internas, que nos sistemas estruturais convencionais formam um reticulado de barras em conjunto com os pilares, definindo pórticos espaciais. Nos sistemas de lajes planas, os núcleos de estabilidade, formados por paredes estruturais (shear walls) junto com as lajes tensionadas e os pilares, formam o sistema de rigidez para suporte das forças horizontais (ventos, sismos) e verticais (forças gravitacionais). Portanto, não é verdadeira a afirmação da falta de rigidez do sistema.
A execução das lajes planas protendidas põe em risco a segurança estrutural da edificação?
A execução das lajes planas “tensionadas” aumentam a segurança da edificação por utilização de materiais de alta resistência tais como as cordoalhas para protensão CP 190 RB, comprovados por utilização de mais de 15 anos no Brasil e mais de 50 anos nos Estados Unidos e outros países .
É verdade que, sob um enfoque rigoroso, os cálculos das lajes planas não passariam pela atual norma de estruturas, a NBR 6118?
O cálculo das lajes planas tensionadas atende aos requisitos da NBR 6118 para os itens do concreto armado e da NBR 8800 para estruturas mistas de aço e concreto de edifícios. A NBR 6118:2003 cita somente lajes protendidas utilizando praticamente o mesmo método de cálculo para cordoalha aderente e não aderente.
O senhor acredita que há um desnível ainda muito grande nos processos de projeto de estruturas protendidas no Brasil comparado a outros países?
Não, o que falta ainda no Brasil é uma maior divulgação das obras e pesquisas realizadas nestes últimos 15 anos. Nossa empresa sempre buscou inovações tecnológicas tanto na concepção de estruturas como também no processo de desenvolvimento dos projetos estruturais. Há alguns anos, o maior problema com a concepção de projetos estruturais, não somente os que são no sistema tensionado , mas também nos demais sistemas convencionais, sempre foi a falta de compatibilidade entre os demais projetos, Nossa solução veio quando passamos a utilizar o sistema BIM (Building Information Modeling) para, além de desenvolver nossos projetos , também verificar as demais disciplinas em uma compatibilização completa em que se concebe o projeto criando uma construção virtual, sanando qualquer problemas de interferências com os cabos tensionados que ficam embutidos nas lajes.
Em que situações a laje plana protendida não pode ser aplicada?
Na verdade não existem restrições. Um sistema de lajes lisas, e com maior vão entre pilares, só pode ajudar em um projeto, qualquer que ele seja. Como exemplo, no Brasil já está sendo aplicado em edifícios altos (de 20 a 40 pavimentos) comerciais, residenciais, industriais, shopping centers, hospitais, edifícios garagens e radier de programa habitacional.
As lajes planas protendidas se deformam muito mais do que outras estruturas de mesmo porte? Esse efeito plástico pode ser perigoso?
Pelo contrário, as lajes planas tensionadas deformam menos em relação às lajes de concreto armado, com vãos equivalentes. As cordoalhas engraxadas funcionam com os cabos tensionados (tirantes) ancorados nas extremidades das lajes, minimizando deformações plásticas ao longo do tempo.
A tecnologia de protensão – aderente ou não aderente – faz muita diferença no caso de projetos de lajes planas?
O concreto protendido utilizado em construção pesada (viadutos, pontes etc.) é utilizado com multicordoalhas aderentes, com bainha para injeção após o tensionamento. As lajes planas protendidas, com cordoalhas aderentes, com bainhas metálicas, são diferentes das lajes planas tensionadas tanto na execução quanto no projeto estrutural.
Para que a estrutura tenha uma rigidez maior, é necessário que a laje plana tenha algum tipo de contraventamento ou meio para compensar o efeito elástico?
Sim, os núcleos de estabilidade com paredes e pilares de contraventamento (shear walls).
As estruturas com lajes planas são mais econômicas em comparação com lajes convencionais? Quais os ganhos que se pode obter com o sistema sem pôr em risco a segurança estrutural?
A grande diferença é na área de fôrmas e na mão de obra de carpinteiros e armadores, pois o sistema é mais industrializado com a possibilidade de utilização de pilares pré-fabricados de concreto ou metálicos (sistema misto). Além de velocidade na execução, tem-se um grande ganho pelo fato de não existirem vigas ou lajes com espessuras desproporcionais, que são elementos que muitas vezes impõe limites em concepções arquitetônicas.
Os coeficientes de segurança de lajes planas protendidas devem ser analisados diferentemente das lajes convencionais?
Os coeficientes de segurança são os mesmos das estruturas convencionais (lajes, vigas e pilares).
Autor: PINIweb