Às vésperas de mais um verão chuvoso, serviços de Defesa Civil trabalham para minimizar o poder inevitável dos temporais, sobretudo, para reduzir o número de mortes.
Em janeiro deste ano, mais de mil pessoas morreram na região serrana do Rio de Janeiro.
A tragédia serviu como alerta para algumas administrações municipais, como a prefeitura do Rio, que instalou sirenes em 66 comunidades cariocas.
“Nosso principal objetivo é salvar vidas e por isso a cidade do Rio de Janeiro investiu em um moderno radar meteorológico, para nos alertar da chegada de chuva, e na instalação de sirenes para que a população possa ser alertada e busque abrigo”, explicou o subsecretário de Defesa Civil do município, Márcio Motta.
As sirenes foram instaladas em áreas classificadas como de alto risco de deslizamento. Elas são acionadas três horas antes da chegada de fortes tempestades.
Equipamentos similares também foram colocados em cidades da região serrana do Rio, bem como bairros da cidade de São Paulo sujeitos a enchentes, como a Freguesia do Ó, na zona norte da capital paulista.
Moradia
Embora tenha havido significativo investimento nos sistemas de alarme, o problema fundamental permanece: milhões de brasileiros ainda vivem em áreas perigosas como morros sujeitos a deslizamentos ou vales onde inundações são inevitáveis.
O especialista em gestão de riscos da Universidade Federal do Rio de Janeiro, Moacyr Duarte, diz que não há dados confiáveis sobre o número exato dos brasileiros que vivem em situação de risco como essa.
“O que a gente percebe quando vê imagens desses desastres, como nas enchentes em Santa Catarina ou nos deslizamentos na região serrana do Rio, é que há muitas ocupações em lugar de risco evidente. Ou então intervenções humanas que criam riscos, como cortar barrancos de qualquer jeito”, observa.
Segundo Duarte, “existe uma preocupação muito grande e correta hoje em dia com a avaliação dos impactos que um empreendimento pode ter na natureza”.
“Mas ainda não nos acostumamos a olhar com mais atenção para os impactos da natureza sobre os empreendimentos”, observa.
Morros cariocasNa cidade do Rio de Janeiro, grande parte do risco está nas comunidades construídas nos morros em condições precárias e sem planejamento. Em abril de 2010, quase 70 pessoas morreram em deslizamentos nas favelas da cidade.
“Um levantamento da GeoRio indicou que 117 comunidades no Rio de Janeiro incluem áreas de alto risco, onde vivem 18 mil famílias. Retirar as pessoas dessas locais ou fazer obras que os tornem seguros é um trabalho essencial, mas não é uma coisa que possa ser feita num passe de mágica”, diz Márcio Motta. “Por isso nossa prioridade agora é salvar vidas.”
A auxiliar de enfermagem Alessandra de Oliveira, de 31 anos, mora em uma dessas 18 mil residências que passam todos os verões sob a constante ameaça de deslizamentos.
No verão passado, a ameaça tornou-se realidade: numa madrugada de chuva intensa um pedaço do barranco no Morro dos Cabritos, na zona sul, deslizou arrastando pedras e plantas. Por sorte, a parede do quarto em que ela dormia resistiu e ninguém saiu ferido.
A Prefeitura interditou a casa de Alessandra, mas ela continua vivendo no local, sob tensão frequente, sempre que nuvens escuras cobrem o Morro dos Cabritos.
“Mesmo que tenha casa do governo para gente, vai ser muito longe, nos subúrbios da cidade. Então a gente prefere ficar aqui mesmo”, diz ela, que vive em Copacabana e prefere continuar morando próximo do trabalho.
“Meu sonho mesmo seria que o governo fizesse um muro de contenção no barranco para que a gente pudesse viver em segurança aqui mesmo”, diz.
PesquisaA fim de minimizar o risco de pessoas como Alessandra, o Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe) trabalha na combinação de dados climáticos com informações detalhadas do terreno de modo a estabelecer quais são as áreas de maior risco nas cidades.
“Nosso objetivo é poder dizer às autoridades com mais segurança o que pode acontecer caso uma chuva forte ocorra em São Paulo, no Rio de Janeiro e em outras grandes cidades brasileiras. O que precisamos é conhecer a realidade pluviométrica (o volume de chuvas) de cada área para combinar com dados sobre o solo, como ocupação humana e estabilidade, para saber direito qual o tamanho do problema”, explica o diretor-geral do INPE, Gilberto Câmara.
Este ano o INPE começou a operar com plena capacidade um supercomputador para análises climáticas – batizado de Tupã – para evitar que o governo e a população sejam pegos de surpresa por desastres naturais.
“Acredito que esse ano já será possível sentir uma significativa evolução na qualidade dos dados meteoreológicos em relação ao que tínhamos no ano passado”, diz Câmara.
Autor: BBC