Produção brasileira de grãos sofre com infraestrutura logística

Segundo o consultor da MBrasil Advanced Business Intelligence, Enrique Traver, os grandes produtores mundiais, com exceção do Brasil, chegaram ao seu limite máximo do uso de terras para exploração agrícola. “O Brasil é o único país com potencial para aumentar a produção de maneira rápida e sustentável”, afirma. 

De acordo com o consultor, o drive de mercado hoje está focado na estratégia, na sobrevivência. Já a oferta e demanda imediata ficaram em segundo plano. Por isso, os preços mundiais das commodities agrícolas quase triplicaram. Atualmente, Brasil, Estados Unidos e Argentina respondem por 85% da produção mundial de soja. “O crescimento da demanda chinesa está apenas começando. Se mantido esse ritmo, dentro de mais dez anos, a China estará consumindo 110 milhões de toneladas de soja”, prevê Traver. Ele destaca que os Estados Unidos não têm mais como atender a demanda mundial e o seu nível de exportação deve permanecer estável até 2018. Portanto, o Brasil agrícola é a bola da vez. 

Mas, segundo Enrique Traver, o grande problema brasileiro é o custo logístico. O tempo médio de espera dos navios nos principais portos brasileiros para carga é de mais de 10 dias. Ele lembra que estamos crescendo na área de contêineres, mas não há qualquer avanço nos portos brasileiros com relação ao transporte de produtos agrícolas. 

O consultor que já prestou serviços na Imcopa, Sadia e Cargill cita um estudo que mostra que o produtor de soja norte-americano para transportar o grão de Mineápolis para Hamburgo, na Alemanha, tem um custo de US$ 95 por tonelada métrica. Já para o produtor brasileiro da cidade de Sorriso (MT) o custo por tonelada métrica para exportar soja para Hamburgo é de US$ 185. Ou seja, uma diferença de US$ 90 por tonelada exportada. Outro problema é que em momentos da safra brasileira, o preço do frete praticamente dobra, o que não acontece em outros lugares do mundo, justifica Traver. 

Também o milho aparece como excelente alternativa para ser explorada pelo Brasil, aponta Enrique Traver. Os Estados Unidos, maiores exportadores de milho do mundo, estão aumentando substancialmente o consumo interno por conta da produção de etanol e diminuindo as exportações do grão. “Alguém precisa substituir os Estados Unidos nesse papel. O Brasil é um dos poucos países do mundo onde é possível o cultivo de duas ou até três safras por ano. O milho aparece como uma excelente alternativa para a segunda safra diante da possibilidade de demanda firme”, destaca. 

O volume de milho produzido por hectare é até quatro vezes superior ao da soja, o que promete aumentar substancialmente os volumes de grãos movimentados no Brasil. “Isso significa que o Brasil rapidamente pode chegar a produzir e exportar um volume de milho igual ou superior ao de soja. O único incentivo que faltava para isso acontecer era a demanda e preço”, salienta o consultor da MBrasil.
Segundo Enrique Traver, o futuro brasileiro é promissor e os altos preços das commodities são um incentivo para o aumento da produção, mas a grande indagação é a que ritmo poderemos exportar. Para ele, em primeiro lugar devemos promover uma mudança cultural. “Precisamos ser mais práticos, simples e objetivos. Também as privatizações devem caminhar num ritmo maior. O setor privado tem capacidade financeira, técnica e expertise para promover as mudanças necessárias”. 

Traver defende também a adoção de uma política ambiental responsável, séria, competente e lucrativa e promover o transporte costeiro e hidroviário.

Autor: NetMarinha