O setor da construção civil corre contra o tempo para qualificar mais profissionais para as obras, que vão se intensificar nos próximos anos. Já o Comitê Rio 2016, constituído em 2010 para organizar os Jogos, deve chegar ao fim do ano com vagas em aberto.
Tópicos relacionadosBrasil, EsporteDe acordo com o diretor-geral do comitê, Leonardo Gryner, existe dificuldade para preencher todas as vagas disponíveis, o que pode levar à busca de profissionais no exterior.
O comitê tem hoje 181 funcionários, e esperava chegar a 274 até o fim do ano. Mas Gryner já não acredita que as vagas sejam preenchidas neste prazo.
“A economia brasileira está aquecida e faltam talentos no mercado”, afirma Gryner.
Na opinião de Gryner, o Brasil não formou o número suficiente de profissionais na última década para atender à necessidade atual do mercado. Segundo ele, a principal demanda é por engenheiros e gerentes de projetos.
Salários em alta
A disputa por bons profissionais tem elevado os salários a patamares acima dos previstos inicialmente pelo comitê. Associado à valorização do real, o fato torna a remuneração atraente também para estrangeiros, diz Gryner.
“Se faltarem engenheiros e técnicos, vamos ter de buscar (profissionais) lá fora. E nossos salários hoje são competitivos no exterior, porque estamos pagando, na conversão para o dólar, valores compatíveis com o mercado internacional”, afirma.
Entre os cargos oferecidos no momento, estão os de especialista em projetos, diretor de negociações comerciais, diretor de acomodações e gerente jurídico-comercial.
No setor de construção civil, a demanda por mão-de-obra promete deslanchar nos próximos anos, para dar conta dos projetos de infraestrutura urbana, esportiva e residencial em vista para a cidade.
“A nossa estimativa é de que, até 2016, em média 20 mil novos postos de trabalho sejam abertos a cada ano na construção civil”, afirma Roberto da Cunha, supervisor técnico do Centro de Referência em Construção Civil do Serviço de Aprendizagem Industrial (Senai).
Para suprir parte da demanda por mão-de-obra, o Senai vai abrir, até o início do ano que vem, duas escolas de formação profissional para o setor. A previsão é que se formem 6 mil profissionais por ano, a partir de fins de 2012.
Disputa por profissionais
Cunha diz que o aumento da demanda na construção civil ocorre devido ao aquecimento da economia brasileira.
Este cenário vem após um período de 25 anos em que o setor de construção permaneceu relativamente estagnado, entre o fim dos anos 1970 e a retomada, a partir de 2005.
“De repente, veio um crescimento muito grande e o setor está se recompondo. Acredito que em 2012 a gente já comece a se equilibrar”, afirma Cunha.
Com o mercado próximo do pleno emprego, diz, a mão-de-obra começa a ser disputada entre diversos segmentos. “Estamos brigando por mão-de-obra com todo mundo, da padaria ao supermercado”, diz Cunha.
“Estamos fazendo um sequestro de profissionais. Engenheiros e mestres de obra estão sendo disputados a tapa”, diz o professor Paulo Porto Neto, do MBA de Negócios Imobiliários e da Construção Civil na Fundação Getúlio Vargas (FGV).
“Chegamos ao absurdo de disputar pedreiros, uma função de baixa qualificação. Precisamos investir na capacitação de profissionais”, afirma.
Técnicas atrasadas
Já o presidente da Associação de Dirigentes de Empresas do Mercado Imobiliário (Ademi), José Conde Caldas, diz que, além da falta de mão-de-obra, as técnicas de construção empregadas no Brasil são atrasadas.
“Somos os melhores do mundo na construção com concreto armado, mas hoje ninguém mais usa essa técnica para construção, é um sistema rudimentar. Em outros países, não se fazem mais prédios comerciais que não sejam de estrutura metálica”, afirma.
Ele diz que o setor viverá uma transição nos próximos anos, passando a usar novas tecnologias e equipamentos para simplificar o processo de construção, reduzir a mão-de-obra e cortar pela metade o tempo de construção de um edifício.
Para ajudar no processo, diz Caldas, o Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação firmou uma parceria em agosto com representantes do setor e a Universidade de Brasília (UnB) para criar um centro tecnológico destinado à pesquisa em construção civil.
Zona portuária
Caldas afirma que mais mão-de-obra e novas tecnologias construtivas são essenciais para levar adiante empreendimentos privados na região portuária do Rio de Janeiro, que se tornará um dos principais canteiros de obras da cidade nos próximos anos.
“Temos 30 projetos comerciais para a região portuária, mas não temos mão-de-obra. Como o setor ficou parado durante tanto tempo, os subempreiteiros quebraram e não se renovou esse pessoal.”
As obras previstas pela prefeitura para revitalizar a região até 2016 vão começar a ser executadas entre o fim deste mês e a primeira quinzena de outubro.
Segundo Alberto Gomes Silva, da Companhia de Desenvolvimento Urbano da Região do Porto do Rio de Janeiro (CDURP), ações de formação e qualificação profissional também estão previstas no projeto Porto Maravilha, de revitalização da área portuária.
O objetivo é treinar moradores da região em áreas como construção civil, hotelaria e turismo, para que sejam absorvidos pelas oportunidades de trabalho que aparecerem. O programa ainda está sendo elaborado e deve começar a funcionar no ano que vem.
Autor: BBC