O ouro verde da Colômbia

A produção tradicional para um anel gera entre 2 e 5 toneladas de detritos

Para os poucos que se perguntam tais questões, Américo Mosquera, um mineiro de ouro que mora na floresta tropical do noroeste colombiano, tem uma alternativa interessante.

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Tópicos relacionadosAmérica LatinaComo muitos outros mineiros descendentes de africanos na região, ele trocou o uso de químicos tóxicos e o desmatamento extensivo da floresta, por técnicas tradicionais que permitem a extração mais sustentável do ouro, mineral que vem sendo explorado na região desde os tempos da colonização espanhola.

Sua pequena mina fica no meio da selva, cerca de 10 km de Tado, uma dos maiores vilas mineiras da área.

Para chegar na mina de Américo, é preciso percorrer trilhas estreitas rodeadas por vegetação luxuriante, pequenos rios de água cristalina e pássaros exóticos de penugens coloridas.

Cicatrização

“Se esta mina usasse maquinário em vez de técnicas tradicionais, seria uma devatação terrível”, diz Américo enquanto cava lama vermelha de sua mina, localizada no coração de uma das regiões mais ricas em biodiversidade do planeta.

Aos 53 anos de idade, ele empilha cuidadosamente a terra que remove em terraços, onde crescem plantas para que as áreas já exploradas possam voltar a ser cobertas de verde, como um cicatrização que ocorre com o tempo.

O mineiro então usa um líquido viscoso extraído das folhas de uma árvore para separar o ouro das impurezas naturais.

“Você pode ouvir o som do ouro?” me pergunta Américo enquanto sacode um recipiente de metal no qual, graças ao líquido, é possível ver pequenas pepitas no fundo.

“Quanto mais grosso o ouro, maior o barulho”, diz ele.

Américo integra a Associação do Ouro Verde, um projeto comunitário de mineração em uma das partes mais pobres e negligenciadas da América Latina.

“Uma das coisas que mais me impressionaram quando visitei a região foi que as pessoas estavam literalmente sentadas em uma mina de ouro e passando fome”, diz Catalina Cock, fundadora da cooperativa que recebeu no ano passado um prêmio da ONU que reconhece iniciativas em desenvolvimento sustentável pelo mundo.

Os mineiros da Ouro Verde recebem 15% a mais por seu ouro, pagos pelos consumidores finais. O dinheiro vai para um fundo comunitário e é reinvestido em mineração ou dividido pelas famílias.

No entanto, as técnicas usadas por Américo e outras 114 famílias da associação são raras entre as milhares de minas espalhadas por esta região remota.

Cratera e mercúrio

Para ver os efeitos da mineração mecanizada é suficiente andar poucos quilômetros pela selva, seguindo a mesma trilha.

Após alguns minutos, o verde intenso da vegetação dá lugar para uma cratera imensa, que se estende por vários acres, como se uma enorme bomba tivesse caído dos céus.

O estrondo de motores que escavam se sobressaem aos ruídos naturais da selva.

“Procuramos ouro e platina por lá”, disse Humberto Montenegro, que deixou um emprego na cidade de Caldas para tentar a sorte na região.

“É uma aventura. Tanto pode quadruplicar seu investimento, como pode perder tudo”, diz ele.

Tratores são usados em minas como esta para derrubar a floresta e produtos tóxicos, como mercúrio e cianureto, para separar o ouro das rochas. Ao final do processo, os químicos terminam no solo e na água, deixando poluídos rios e terras férteis.

“Temos relatos de tratores entrando nos rios e nos pântanos”, afirma Giovanni Ramírez, pesquisadora do Instituto Choco para Pesquisa Científica.

“Costumo dizer que a eles só faltam as asas para extinguir completamente a vida em Choco”, diz ela.

Segundo um relatório confidencial do governo, pelo menos 220 mil hectares desta floresta estão nas mãos de mineiros ilegais, muitos ligados a grupos armados como as Farc.

Mercado Global

No entanto, a Ouro Verde de Choco conquistou nichos de mercado na Inglaterra, Finlândia e Canadá.

Atualmente, ela detém selos como “Fair Trade” (Comércio Justo) e “Fair Trade” (Mineração Justa), classificações independentes que garantem as práticas nos mercados internacionais.

“Quando começamos, joalheiros tradicionais nos viam como uma ameaça para as suas reputações”, disse Christian Cheesman, diretor da Cred, uma pequena joalheria no centro de Londres que trabalha há sete anos com ouro certificado.

Embora os números variem de região para região, se calcula que em média, para extrair o ouro necessário para fazer um anel de noivado (cerca de 1.5 gramas) usando métodos industriais se gere entre 2 e 5 toneladas de detritos.

Esta realidade tem chocado consumidores conscientes como Kristina Johnson, uma sueca que viajou de Estocolmo para Londres para escolher seu anel de noivado na loja de Cheesman.

“Lendo e conversando com amigos, percebemos que queríamos algo que seja justo e apropriado para o nosso casamento”, disse Johnson.

O Ouro Verde nos pareceu a melhor opção.”

Produção baixa, mas crescendo

No entanto, os mineiros da Ouro Verde conseguem produzir apenas cerca de 6 quilos de ouro anuais, volume insuficiente para despertar o interesse de grandes joalheiros.

“O Ouro Verde é uma ideia maravilhosa, mas o problema é que o mercado demanda mais do que é possível produzir usando estes métodos”, diz Cristina Echavarria, diretora da Aliança para a Mineração Responsável (AMR), organização global que ensina mineiros a usar com responsabilidade mercúrio e outros químicos.

Segundo Echavarria, mineiros da AMR produzem cerca de 400 quilos por ano, volume que poderia ter um impacto maior no mercado ao mesmo tempo em que respeita um pouco mais o meio-ambiente.

Para ela, é vital que se encontre um modelo de produção sustentável que permita a inclusão de mais mineiros e a produção de mais ouro.

Atualmente, 150 milhões de pessoas dependem da mineração do ouro para viver, o dobro do que há 10 anos.

“Muitas pessoas que tiveram suas colheitas ou rebanhos dizimados por mudanças climáticas, ou foram deslocadas por conflitos, se voltaram para a mineração”, diz ela.

“Este é um dos poucos trabalhos no mundo que você pode começar sem ter nenhuma experiência e ganhar em um dia o suficiente para alimentar seus filhos.”

Autor: BBC