O impasse do carro elétrico tem saída?

Recentemente a Globo veiculou interessante reportagem sobre carros elétricos (Cidades e Soluções, link abaixo): experiências em curso, dificuldades e iniciativas. 

Sabemos que o calcanhar-de-Aquiles está nas baterias, cujo custo equivale ao do veículo e está associado a peso (inclusive o da própria) e autonomia: para um carro médio – como os Palio Weekend produzidos nas oficinas da Itaipú Binacional, algumas dezenas em testes de campo gerando precioso acervo experimental – e autonomia em torno de 130 km, R$50.000,00. Um poderoso inibidor de qualquer iniciativa, não há incentivo fiscal que o torne competitivo nestas condições. Ainda que se espere vida útil muito superior – em São Paulo havia trólebus rodando há cinqüenta anos! – e manutenção muito mais barata, a economia operacional demonstrada naquele programa (no combustível, menos de R$3.000,00 por ano) não é compatível com “pay back” para qualquer taxa de retorno. 

O que fazer, então? Esperar o barateamento das baterias de íons de lítio pela evolução tecnológica e massificação do consumo? Se, com 3 milhões de carros rodando no mundo e mais de uma década em pesquisas isto não aconteceu, quando então? Desistir da vanguarda tecnológica (e das reservas de lítio da Bahia) e ficar à espera do “prato feito” das montadoras? 

Gostaria de propor uma reflexão sobre caminhos que poderíamos trilhar sem reinventar a roda: 

1. A comercialidade deste tipo de produto está fadada a nichos de mercado, o que requer estratégias específicas e focadas nas vantagens comparativas dos mesmos. 

2. Sendo o custo das baterias condicionado pela autonomia, que tal pensar em números mais modestos? Lembrando que carro elétrico não tem marcha lenta – sua adequação a congestionamentos é justamente pela imobilidade do motor quando parado – os usuários de transporte individual privado e veículos leves de entregas urbanas não estariam numa faixa de utilização de até 60 km efetivamente rodados? Note-se, na reportagem, que um engenheiro conseguiu, com um modelo artesanal, poucas dezenas de quilômetros de autonomia com simples baterias de chumbo-ácido! 

3. Sendo o peso – incluindo o das baterias – a outra condicionante, um veículo urbano compacto simples (pense no Nano da Tata indiana, não no charmoso Smart europeu) não poderia reduzir à metade o peso deslocado em relação aos médios de referência? 

A combinação de peso e autonomia limitadas (para que competir em conforto e distância com o motor a combustão, se existem nichos onde são dispensáveis?) pode ter potencial para severa redução no custo das baterias ainda antes dos benefícios projetados com foco nos nichos certos e, assim, romper o impasse em que o Brasil se encontra hoje na matéria. 

Concentração de esforços num programa com foco definido pode permitir integrar o país no estado da arte da tecnologia e proporcionar os benefícios ambientais e econômicos do carro elétrico em aplicações urbanas com competitividade comercial. É preciso apenas parar de discutir bloqueios e passar à ação. 

*Armando Carrari é secretário do Grupo Etanóis

http://video.globo.com/Videos/Player/Noticias/0,,GIM1578546-7823-BRASILEIRO+CONVERTE+CARRO+COM+MOTOR+A+COMBUSTAO+PARA+UM+VEICULO+ELETRICO,00.html

Autor: *Armando Carrari